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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Black and White.

Preto e Branco

Revendo meus arquivos achei este texto enviado dos EUA ao jornal “O Estado do Paraná” em 1992. Não sei se foi publicado, o assunto, porém , reveste-se de curiosidade e atualidade. Com a eleição, necessária eleição de Obama, ( remédio para o que conto aqui )um pouco de água fria, veio amornar o fenômeno vivido por mim dezesseis anos atrás.
Primeiro porque é moda a comemoração do Quilombo dos Palmares e noticiar o Movimento Negro, segundo, porque logo depois de escrito este artigo, eclodiu aquele famoso conflito racial em Los Angeles exigindo a interferência da Guarda Nacional.

O Texto: “Para mim que tenho alguma iniciação em pintura sei que o branco em mistura com preto da um cinza. Sua aplicação em tela, principalmente quando aplicado ao céu nos dá uma impressão de algo velado, úmido, pesado ou carregado... é um prenúncio de mal tempo, ausência de claridade.
Viver as impressões causadas pelo cinza em um quadro dá uma pálida idéia da tensão que sinto aqui nos Estados Unidos neste cotidiano brancos versus pretos.
Aqui, diferentemente da técnica de pintura, esta mistura não resulta homogênea e mais parece ou reage como quando misturamos óleo à água.
Mal colocamos as duas substâncias juntas e já se separam. O mesmo resulta quando um fato social qualquer faz sacudir o assunto racial, a sociedade se agita e óleo e água se separam, pretos e brancos imediatamente manifestam seus profundos rancores.
Neste país de primeiro mundo, tão evoluído, os brancos são racistas e os negros também. Ambos os grupos são sectários, mas ambos fazem sua média e sua mídia, produzindo jornalisticamente seus filmes, suas notícias, seus casais Black and White, mas cá entre nós, é apenas cenário, eles não produzem filhos.
Esta é uma nação onde não existe o mulato, pelo menos não como expressão numérica. Quinhentos anos de convivência racial e não vemos, como no Brasil, o resultado da miscigenação racial.
Também é interessante notar, que segundo a Medical Aplicance os negros nos Estados Unidos estão menos infectados do que os brancos pela AIDS. Outro aspecto digno de nota é o fato de os negros aqui não abortam, renegam os métodos anti- concepcionais e possuem famílias numerosas. A título de exemplo meu professor , Mr. Southall, tem dez irmãos, seis mulheres e quatro homens todos negros e com filhos negros.
Os negros parecem ter uma consciência muito clara de que eles governarão este país quando for maioria absoluta.
Esta semana festejou-se aqui a data de morte de Martin Luther King, agora estamos festejando a semana dos “Black Americans”, homens e mulheres negras que tiveram expressão na vida e na sociedade norte-americana, porém, e eu lamento estas festas não é expressão dos movimentos sociais espontâneos, mas sim, exigências dos sindicatos, de correntes políticas e servem como amortecedores do conflito racial. Uma Pena.
Aqui mesmo em Miami, um lugar liberal nestas questões, um negro não pode andar sem incomodo por Miami Spring, por exemplo, e o mesmo acontecendo com brancos em bairros de negros. A tensão racial neste país é um fato e o sectarismo é mais úmido, denso e carregado do que o cinza de um céu de tempestade. Tudo acobertado pela mídia internacional.”

Wallace Requião de Mello e Silva.
MIAMI BEACH 6/9/92

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