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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Onde andará o quarda-roupa?

Onde andará o guarda-roupa?
Falo de 1981/92, fato acontecido em Curitiba. Edifício Silvia Lopes, esquina das Visconde do Rio Branco com Comendador Araujo.
O homem era comerciante. Acordou com a estima muito baixa, velho, cansado, maníaco já experimentava a impotência e a impaciência diante de uma mulher que só reclamava e era dona de uma cobiça incurável e insaciável. Ah! Se alguém lhe reconhecesse o valor.
Foi tomar um banho e encontrou o chuveiro queimado. Que fazer? Telefonar para o faz tudo certamente. Assim fez. Mais isso, numa coisinha tão simples precisava chamar outro, que merda.
O faz tudo, tudo faz porque tem uma curiosidade insaciável, tudo desmonta tudo monta, tudo conserta tudo quer saber.
Bom dia seu Fulano. Bom dia seu Faz Tudo. O que há doutor?
O chuveiro esta queimado.
Sei, vamos ver o que podemos fazer.
Bonito apartamento, o seu em!... Seu fulano. O senhor há de ser alguma coisa nessa vida... Não é?
É trabalhei muito. Puxa retruca o senhor Faz Tudo eu também trabalho como um cavalo e não tenho um apartamento desses. O senhor Fulano retruca: é verdade a sorte não sorri para todos. E continua: veja o caso de minha mulher, cobiça sem parar, é a rainha do consumo, e não ganha um tostão. Por ela ele trocaria todos os moveis da casa pelos de fórmica, e aglomerado, que duram uma semana, e um dia se molhar. Ela não tem sorte. Veja meus móveis, aquela cadeira, por exemplo, é de minha tataravó. O faz tudo olha e completa: jacarandá. Sim Jacarandá.. da Bahia. Minha tataravó era nordestina e trouxe a cadeira...Imagine naquele tempo sem estradas, como ela há de ter sofrido. O faz tudo retruca: que nada doutor em cada dez quilômetros caminhados ela sentava e descansava. Os dois riram.

Meus filhos, disse seu Fulano, desconfiam de mim, eles sabem nas ruas que faço bons negocios, mas não vêem progresso. Acham-me sovina.
Diz seu Faz Tudo, mas o senhor deve ter muitas coisas, carros, apartamentos, chácaras, fazendas, contas bancarias, sei lá. Não, retrucou o seu Fulano percebendo a chance de mostrar o seu valor, a questão é preservar a liquidez. Como assim?... Pergunta o curioso.
Dinheiro vivo, o negócio não é ter bens, mas dinheiro. Bens estimulam a cobiça dos herdeiros, gera briga, muitos impostos, manutenção, problemas. Então sua conta bancária deve ser com a do tio Patinhas, diz o faz tudo. Acertou, diz o seu Fulano, mas o tio Patinhas não usava banco, guardava tudo em casa... Vai dizer... Completova o faz tudo, mas calou-se.

Bem doutor, esta pronto, são cinqüent;, treze da resistência, quinze pela visita, e o resto para ver se a sorte sorri para mim; Ok?
Bem seu Faz Tudo, eu quero lhe mostrar uma coisa (o homem não agüentou a oportunidade de mostrar o seu valor)... Venha até o meu quarto. Oh! seu, o que é, o que você esta querendo, eu te enfio essa chave de fenda nas tripas, não sou bicha não. Não retrucou o homem, eu preciso que o senhor desparafuse uma taboa. Mas veja lá, não conte isso para ninguém. É aqui no armário. Nem minha mulher pode saber.
O faz tudo olhou, e disse: doutor armário é o lugar onde se guarda armas, isso é um guarda roupas, não é? Que seja disse o homem contrafeito. Desparafusa, por favor, essa taboa do fundo do... Guarda-roupas.
Ok, doutor é pra já. Pronto... Minha nossa quanto dinheiro, tá loco sô! É isso que eu dizia, retrucou seu Fulano, isso é liquidez, pega aquele saquinho do fundo com moedas do país, é para emergência como essas... Tira daí cinqüenta, por favor... Guarda o resto e cala o bico. Exultava de poder estar mostrando o seu valor... Mas... não para os filhos, a mulher, os parentes, os bancos esses exploradores do trabalho alheio. Ele se sentiu o mestre dos mestres.
Seu Faz Tudo tirou o chapéu, nunca vira tanto dinheiro, puxa ele trabalhara tanto e não tinha nada... A sua mulher gastava tudo.
Muito obrigado. Não tem de que seu Fulano, quando precisar é só ligar.
Passadas algumas semanas, o faz tudo recebeu a noticia da morte do cliente. Quando foi? No inicio da semana. Puxa mas faz quase uma semana? È respondeu o outro.
Pegou o chapéu e foi lá. Coração dividido, contava para a viúva a existência daquele dinheiro, ou comprava oi guarda-roupas? Optou pela compra.
Bom dia senhora, seu marido faleceu não é verdade? Sim disse a mulher.
Meus sentimentos... Mas eu estou aqui porque seu marido havia me dito que a senhora não gostava do guarda-roupa e havia prometido vendê-lo para mim. É verdade, eu odiava aquelas velharias disse a viúva... Doei tudo, toda a mobília. Entre para ver as novas, vê se gosta?
A senhora doou o meu guarda roupas? Sim doei, estava muito velho, agora tenho um armário embutido em fórmica colorida.
Pra quem a senhora doou?

Era verdade, a sorte não sorria para todos.

Hoje passados tantos anos, alguém em um pensionato barato, pensa em como pagar suas contas... Se eu ao menos pudesse comprar umas roupas mais decentes, e abre o guarda roupas com apenas dois cabides... e o vazio. No fundo alguns velhos sapatos rotos, e abaixo deles, bem aparafusado... Vai saber o que se pode encontrar em uns guarda-roupas doado.

Seu Fulano escondeu e não compartilhou o seu valor... Deu no que deu, alimentou os ratos.

E a sorte? A sorte he, he ,he.
wallacereq@gmail.com
G Conto. ( texto 500 com erros de ortografia para comemorar)




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3 comentários:

  1. o guarda roupas do meu pensionato é mais velho que esse do seu fulano, mas ja fucei: não tem tabua parafusada... que pena!
    Vc é um bom contador de estórias!

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  2. ...impossível não deixar de pensar em quantos guarda-roupas de segunda mão que a gente deixou escapar por aí, buscando a felicidade no último modelo das casas bahia... ao menos, resta-nos o consolo de não sabermos o que perdermos, ao contrário do tal do Faz-Tudo, que deve estar se lamentando até hoje da sua desdita... ou rindo muito (feito eu) da sua própria história, se tiver a oportunidade um dia de ler o seu texto... ;) ......

    abraço!

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  3. ...impossível não deixar de pensar em quantos guarda-roupas antigos a gente deixou escapar por aí, buscando a felicidade no último modelo das casas bahia... ao menos, resta-nos o consolo de não sabermos o que perdermos, ao contrário do Faz-Tudo, que deve estar se lamentando até hoje da sua desdita... ou, quem sabe, rindo um monte (feito eu) da ironia da sua própria história, se um dia tiver a oportunidade de se deleitar com o seu texto... ;) ....

    abraço!

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