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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

E a fome; pode esperar?

A fome pode esperar?

Parece que nós os brasileiros influentes não acreditamos que alguém passe fome no Brasil e no Paraná. Habituados com o alto nível de vida que desfrutam, os brasileiros influentes, perdem sensibilidade e não conseguem avaliar qual é o drama de um desempregado ou o de um assalariado de baixa renda em manter a vida e saciar a fome, sua e de seus filhos.
Parece também que nós brasileiros de classe media e rica, não acreditamos verdadeiramente que há uma relação entre fome e desespero, e deste, passando pela desesperança, estreitam o relacionando com a violência e o cinismo. É obvio que algumas pessoas de muito boa índole, mesmo assim, na fome, resistem na honradez. Todavia a violência e cinismo podem ser conseqüências imediatas dos primeiros, fome e desespero. É possível também que os políticos não acreditem no preceito cristão de atender primeiramente aos que mais necessidade tem. Jamais ficaram em uma fila de pronto socorro publico, para compreender a profunda solidariedade humana de deixar desenvolver-se, ou melhor, desenrolar-se, diante da própria dor, da própria necessidade, e do próprio testemunho, a prática médica de atender aqueles de maior risco, ou seja, aqueles que mais necessidade de socorro tem, enquanto, aguardam, noite adentro o socorro de si próprios que nunca vêm. É duro. É árduo. Haja paciência. Duro é ter que dividir o Leite das Crianças, com os adultos da casa, para servir deixar de servir uma suculenta sopa de pura água e sal.
Portanto, não critiquem os programas de socorro á Fome, por mais falhas que apresentem.
No nosso caso, no caso do Paraná, temos o Programa do Leite.
É obvio que o programa de distribuição de leite, talvez mais racional, ou mais fácil de realizar que uma bolsa cesta básica, vem atendendo a população infantil, e para mim esta claro que haverá um resultado altamente positivo, tanto na saúde geral de nossas crianças carentes, como no futuro próximo, darão reflexo positivo no desempenho escolar, na saúde, no custo publico com os programas de saúde, como muito bem afirmava e provava o meu velho professor médico, Dr. Azor Cruz, na UFPR. Mas as pessoas não vivem só de leite.
Recentemente mandei projeto ao governo do estado numa tentativa e sugestão para somar-se às outras muitas alternativas de combate à fome.
A primeira proposição era a criação de lei do dizimo, onde produtores de quilate dispensassem o dizimo ao governo do Estado, em espécie, que seriam armazenados com o fim único de combate á fome. A segunda proposta demonstra abaixo.
A proposta, que nasceu num jantar com empresários, donos de restaurantes, era das mais simples e objetiva. Um deles, o maior restaurante representado naquela mesa, chega a produzir perto de dois mil quilos de sobra de comida. Sobra: é aquele comida que volta da mesa sem ser tocada pelo consumidor e são acrescidas, ainda, daquelas comidas que ficam na cozinha sem serem servidas e que são de difícil conservação. Sendo assim, podemos imaginar o volume de sobras de comidas lançadas fora, que serão posteriormente catadas nos lixões (aí sim totalmente contaminadas), ou, pelo contrario, serão doadas aos criadores de animais, e que poderiam servir, se tratadas, higienizadas, adequadamente acondicionadas ao programa “Fome Zero”. Convenhamos, dará algum trabalho, mas os resultados colherão com certeza.
Segundo os Secretários de Governo, dar sobra, restos de comida, não seria uma estratégia política adequada, não seria politicamente correto, além do que, é perigoso. Alias , concordo, é perigoso sim, mas o que é mais perigoso?... A fome e suas conseqüências sociais ou a tentativa de socorrer os nossos carentes que não tem outra opção digna?
“Vão dizer que estamos servindo lixo aos pobres”; alguém comentou.

Comemos muitas vezes e essa é a verdade, sobras de industrialização: do comércio, e ou manuseio e não sabemos. Usamos talvez as palavras erradas, ou, eu me pergunto, será que alimentar carentes dá é muito trabalho? Sobras de mesa e cozinha nada têm com excedentes de industrialização? São coisas diferentes? Comer nas Latas de Lixo é mais dignificante? Menos perigoso? Enfim não haverá quem se interesse pelo nosso projeto?
No programa do leite os produtores se interessaram. E o programa alçou vôo. E o programa esta ai, com ótimo desempenho política, regulando o setor e com clara e insofismável finalidade social.
Todavia não atendemos toda a gama de carentes, toda a necessidade alimentar, e o desperdício de comida ficam, em minha mente, como um crime social. Posso estar exagerando, mas insisto, é um crime social, tão grave como bater uma carteira para comer.
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Passados os anos aquele que tinha fome já se danou a criança anêmica já adquiriu seqüelas irreversíveis, ou sobreviveu, e se sobreviveu, parecem dizer os políticos, os ricos, os que só acreditam no Trabalho: para que a pressa?
Todavia eles não ficam um dia sequer sem farta mesa.
Vejamos o que queremos:
Uns poucos caminhões coletores (em alguns depósitos do governo há dezenas deles esperando leilão). Vasilhames adequados, higienizados, distribuídos antecipadamente aos restaurantes, uma esteira de raios ultravioleta esterilizantes, ou tecnologia de pasteurização ou desidratação, e teríamos seguramente, oriundas das sobras, muitos milhares de refeições para serem distribuídas em refeitórios comunitários nas vilas e favelas, nas creches, nas igrejas, nas instituições de assistência, nas associações de bairro, em acampamentos, em todo o território do estado etc. e tal.
No Porto Publico de Paranaguá, por exemplo, a varredura da soja, e o “excedente de comercialização” e o “excedente da armazenagem” podem virar farelo, ou leite de soja, suficiente para alimentar Paranaguá inteira. (e isso já esta acontecendo) Sem contar as possibilidades do milho e outros grãos. E as safras, isto é, as perdas de transporte, ou de coleta, que ficam no chão ( perdas) por falta de tecnologia representa 10% da safra. E os frutos que apodrecem nas árvores por falta de preço? É preciso uma solução solidária. Uma infra-estrutura de produção de sucos. Como o Estado existe para zelar pelo bem comum, e suprir, subsidiar, e ou executar aquilo, que para a iniciativa privada, sempre ávida de lucro, não interessa; o Estado pelo contrario, têm obrigação de recuperar. Aos famintos, resta apenas esperar indefinidamente o socorro do Estado ( prefeituras, estados e União), e sofrer as conseqüências, enquanto não há melhor redistribuição das riquezas. Apelo, aos deputados e governo que reavaliem, e se possível executem, com parceria das prefeituras e com a sociedade do Programa do Leite, o projeto “A fome não pode esperar”. Certo que pessoas alimentadas, ainda que com algum custo público, redundará em testemunho de solidariedade, e em economia nas áreas de atendimento à saúde num futuro bem próximo.

Wallace Requião de Mello e Silva.

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