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sábado, 16 de março de 2013

Adeus Chavez



Requião, Chavez (o herói venezuelano) e Beth Carvalho.



Chavez morreu. Morreu na graça de Deus. Sinto que o senador Requião não possa ter ido presenciar o féretro deste líder latino -americano. Eu sinceramente gostaria de ver o senador honrando esse seu amigo.
Não sou comunista ou socialista. Na verdade sou Católico  e creio que o Cristianismo vivido coerentemente é a solução para o mundo em todos os setores, inclusive o econômico.  Ouso dizer que sou monarquista  porque Cristo é Rei, e o Papa - instituido pelo próprio Cristo - é rei. E a Igreja é uma monarquia que resiste à pressão dos tempos atuais. É uma monarquia que resiste à pressão dos tempos como guardiã da moralidade. Eu sou suúdito dessa monarquia acima da minha cidadania brasileira.

Estive duas vezes na Venezuela (na década de 80 e na década de 90). O que vi é o motivo do elogio que faço ao líder Chavez. Vi naqueles tempos (anteriores a Chavez)uma Caracas concentrando uma elite riquíssima, possivelmente privilegiada pelsos negócios do petróleo, dos minerais e do platano (banana), e um povo paupérrimo, desprovido de serviços, de escolaridade e de consciência da natureza de seus problemas. Chavez uniu a Nação, enfrentou os privilégios, ofereceu serviços, alfabetizou - se não a totalidade ao menos a grande maioria da população. Eu não sei o que é isso. Solidariedade? Amor ao próximo? Consciência do bem comum? Ou temor a Deus?
A verdade é que está feito. E o seu povo reconheceu e deu o testemunho. Faço o mesmo!

wallacereq@gmail.com





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quinta-feira, 14 de março de 2013

Cartão de Credito ou Dinheiro.








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quarta-feira, 13 de março de 2013

Discurso de Requião em português, proferido em Estocolmo


          A embaixadora Leda Camargo sugere que fale sobre minha experiência como presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, o Parlasul. É meu segundo mandato como senador da República do Brasil,  e também pela segunda vez presido a representação brasileira no bloco sul-americano.

           Nesses dois anos presidindo a Representação Brasileira, depois de inúmeras reuniões com participantes de países membros ou associados, inclusive aqui na Europa, no âmbito da Eurolat, a Assembléia Parlamentar Europa América Latina, consolidou-me uma convicção: fora da unidade --e da simbiose—latino-americana não há salvação. Não há salvação para o Brasil, não há salvação para a Argentina, o Uruguai, o Paraguai ou  para a Venezuela. Não há salvação para o nosso continente.

          Não sei se para a Suécia  integrar a União Européia seja tão vital assim. Para o Brasil,  a unidade sul-americana é uma questão de vida ou morte.

          Paulo, o apóstolo, a quem talvez se deva a invenção do cristianismo, dizia que fora da Igreja não havia salvação, demarcando assim os limites para a boa ou a má aventurança.  O nosso destino  --o paraíso ou a danação eterna—depende do mesmo axioma.

        Para nós brasileiros, para os países e para o povo latino-americanos, fora da unidade continental não há saída.  Não haverá remissão desse atraso  tão antigo, dessa desigualdade tão secular, da escuridão da miséria, da analfabetismo, da dependência, da submissão cultural. Fora da unidade latino-americana não  nos libertaremos de nossas elites,  uma elite aferrada a sentimentos escravocratas, encastelada em privilégios e submissa, servil aos interesses imperiais.

       De qualquer forma, se não com a velocidade e a premência desejadas, temos avançado, nesse sentido.    A entrada da Venezuela no bloco, por exemplo,  deu-nos um forte alento. Com o seu PIB de 300 bilhões de dólares e carente de toda sorte de produtos, já que a velha oligarquia que governou o país até dez anos atrás vivia de exportar petróleo e não plantava um pé de alface sequer, a Venezuela torna-se um dos esteios do Mercosul.

       Com a adesão da Venezuela,  o Mercosul passa a contar com uma população de 270 milhões de pessoas,  correspondente a 70 por cento da população da América do Sul, e abrange 72 por cento da área do continente. O PIB do bloco eleva-se a três trilhões e 300 bilhões de dólares, o equivalente a 83 por cento do PIB sul-americano.

       Quer dizer, temos uma magnífica base de lançamento, um excelente ponto de partida, e esperamos ainda a adesão de outros países, como a Bolívia e o Equador.

       Chamo a atenção das senhoras e dos senhores para os dados que seguem, onde fica demonstrado o peso do Mercosul para a economia brasileira.

       No ano passado, entre janeiro e novembro, as exportações brasileiras para a América Latina e o Caribe somaram 46 bilhões e 400 milhões de dólares. Para os Estados Unidos, nossas exportações somaram 45 bilhões e 800 milhões de dólares. Para a União Européia, 45 bilhões e 260 milhões de dólares. Para a China, 40 bilhões e 250 milhões de dólares.

     Quer dizer, os valores das  exportações brasileiras para a América Latina e o Caribe já superam, comparativamente,  os valores das exportações para a América do Norte, Europa e China.

      Mais ainda: enquanto o valor da tonelada dos produtos exportados para os países de nosso continente alcança entre mil e quatrocentos  e mil e setecentos dólares, o valor da tonelada exportada para a União Européia cai para 500 dólares e, para a China,  alcança apenas 200 dólares. Nesse caso, são as commodities, basicamente minério de ferro e soja, produtos simbólicos de nossa dependência.

      Donde se depreende que as exportações brasileiras para a América Latina e Caribe são constituídas de produtos industrializados.

      Já quanto às nossas relações comerciais com  a Suécia, registre-se que nos últimos 20 anos temos acumulado um forte déficit. E anotem essa informação simbólica, emblemática: nos últimos anos tem diminuído de forma sistemática as nossas exportações de produtos industrializados para o país das senhoras e dos senhores, enquanto aumentam fortemente as nossas exportações de commodities. Logo, um déficit incorrigível.

      Para nós latino-americanos não há dúvida de quais sejam os nossos parceiros ideais. No entanto, se vamos ancorar o nosso destino na América Latina, isso não quer dizer a opção por uma política isolacionista. Foram-se os dias dos falanstérios, das ilhas utópicas, dos muros e das cortinas.

      Somos parte do planeta Terra é nele que vivemos.

      No entanto, queremos nos relacionar com o mundo, especialmente com os países industrializados,  de forma altiva, soberana. Queremos conversar e negociar como países independentes  e não feitorias para o desfrute imperial; não somos meros mercados ---fornecedores ou consumidores--- para o proveito dos outros. Embora assim desejem que sejamos; e assim somos encarados: e, mais das vezes, assim somos.

       Agora mesmo, quando a crise financeira mundial aperta os calos dos países do Norte, como os senhores nos olham, que olhar dirigem ao Sul?

       Nos vários encontros que tive nesses dois últimos anos, aqui na Europa  e na América Latina, vi da parte dos países industrializados dois ardentes desejos: exportar o desemprego e fazer bons negócios,  quase nunca nada bons para nós, é claro.

       É com tristeza e, às vezes, com desalento, que vejo ainda viva a velha idéia de que o mundo é dos mais fortes. E dos mais espertos. Uma velha idéia que o neoliberalismo, que o Consenso de Washington, que as idiotices do “fim da história” e da morte das ideologias tornou bandeira nessas últimas tristes décadas.        

     Um Mercosul forte, coeso, solidário é a nossa defesa contra as tentações coloniais do Norte, volta e meia revivida, especialmente em situações de crise. Um Mercosul forte, desenvolvido e justo é uma contribuição essencial, vital para um mundo menos desigual, menos cruel, mais humano e pacífico.

        Não se trata de uma pregação moral. Longe de mim qualquer pretensão de  “civilizar”, de dar lições de ética ou de boas maneiras ao capitalismo financeiro global, ao imperialismo econômico, aos especuladores e aos jogadores das bolsas. Mas, um planeta desequilibrado, com essa abissal, monstruosa distância entre o Norte e o Sul é um planeta sem futuro.

        Vou fornecer mais alguns números para fortificar minha argumentação sobre as tentações de dominação nunca contidas, jamais refreadas dos países industrializados.     São dados sobre a desnacionalização da economia brasileira.

        Segundo a tão conhecida consultoria KPMG, de 2004 a 2012, cerca de 1.300 empresas brasileiras passaram ao controle de empresas estrangeiras, certamente algumas suecas. O processo de desnacionalização da economia brasileira acelera-se a cada ano. 

       E, agora, o ataque não vem apenas do Norte.  Eis que a China surge no palco. Segundo um estudo do banco Credit Suisse, divulgado neste dia primeiro de março, a China foi o país que mais investiu em fusões e aquisições no Brasil, nos últimos anos, à frente mesmo de um tradicionalíssimo comprador de empresa brasileiras, os
Estados Unidos. Por enquanto, o interesse chinês concentra-se nas commodities, petróleo, gás natural, minério de ferro.

    Quanto mais a economia brasileira desnacionaliza-se, com as aquisições e  as fusões, mais cresce a nossa sangria financeira, com o aumento da remessa dos lucros para o exterior, para as matrizes. Praticamente o Brasil não opõe restrições a que se remetam os lucros. Pelo contrário, a pretexto de atrair investimentos, criam-se facilidades para o fluxo.

     Nos últimos oito anos, as remessas de lucro feitas pelas multinacionais em operação no Brasil somaram a apreciável quantia de 404 bilhões de dólares. Entre 2004 e 2011, as remessas foram 152 por cento superiores ao saldo comercial que o Brasil obteve no mês mo período!

     No início deste 2013, vimos a Telefônica Brasil fazer uma remessa de centenas de milhões de euros para a sede na Espanha, para socorrer a combalida matriz, enquanto nós os brasileiros continuamos a amargar seguramente o pior e o mais caro serviço de telefonia sob a face da terra.

      Que fique claro. Não estou aqui satanizando, estigmatizando, amaldiçoando os investimentos estrangeiros. Longe de mim a xenofobia, o isolacionismo. Contudo, esses sentimentos são perniciosos quanto o saque sem limites dos  recursos, a sangria desatada das finanças dos países periféricos.

      A formação de um bloco sul-americano forte e unido certamente  dará aos nossos países   condições de negociar esses investimentos em termos que favoreçam o nosso desenvolvimento  e o bem-estar de nossos povos.

      Quer dizer: apenas a unidade latino-americana nos dará forças para negociar altaneiramente, com soberania com os países industrializados.  Acordos multilaterais que sejam satisfatórios para ambas as partes.  

      Qual é o oposto da integração continental, da unidade latino-americana?

      O contrário são os acordos bilaterais, o pacto entre o cordeiro e o lobo, celebrados segundo o ponto de vista do lobo.

      Para nós brasileiros, e também para a nossa antiga metrópole,  Portugal, o avô de todos os acordos bilaterais, o ponto de partida para as nossas desventuras, de um lado e do outro do Atlântico, é o Tratado de Methuen, celebrado entre Lisboa e Londres, nos primeiros anos do século 18. Foi aí que ancoramos o navio do atraso e perdemos o passo na história.

     O Tratado de Methuen, também conhecido o Tradado dos Panos e Vinhos,  não é muito diverso do que os países industrializados (e agora também os chineses) nos propõem com frequência. Pelo acordo, Portugal se obrigava, por todo o sempre, a fornecer vinho à Inglaterra  e esta, também por todo o sempre, a exportar tecidos e produtos industrializados para Portugal.          

         Como era de se esperar, em breve tempo, a diferença de preços entre os produtos industrializados e os vinhos acarretou um forte déficit à balança portuguesa. Pior ainda: a incipiente, modesta indústria portuguesa afundou-se com a importação do produto acabado da Inglaterra.

          É aí que entra em cena o ouro brasileiro. O desequilíbrio na balança é coberto pelo metal extraído na colônia que vai, sem escalas, irrigar o tesouro inglês e prover de recursos o desenvolvimento britânico, e a consequente revolução industrial.

          O século inaugurado pelo Tratado de Methuen encerra-se com o esgotamento das minas brasileiras. Por quase cem anos, o nosso ouro cobriu o hiato entre produzir e exportar vinhos e importar máquinas e produtos acabados. Quase um século depois do tratado temos, então, de um lado, Portugal quebrado, industrialmente pouco desenvolvido, produção agrícola limitada.

        Doutra face, revela-se um Brasil empobrecido, depenado de suas riquezas, com as atividades industriais proibidas, a fim de se proteger o produto inglês.

        Em contraposição, quando a Inglaterra tenta impor aos Estados Unidos essa mesma relação de subordinação, a reação norte-americana resulta na independência do país. E, livre do tacão colonial, os Estados Unidos abrem o seu próprio caminho para se desenvolver.

        Vemos, então, o primeiro secretário do Tesouro norte-americano, o guerrilheiro e general das batalhas da Independência, Alexander Hamilton, elaborar, propor e fazer aprovar no Congresso o “Tratado das Manufaturas”, a pedra angular, a pedra fundamental do desenvolvimento dos Estados Unidos.

           A Companhia das Índias, a poderosíssima transnacional colonial da época, que tinha entre seus funcionários Adam Smith, certamente o mais importante teórico do liberalismo econômico, também queria transformar os Estados Unidos em simples produtor de matérias-primas e consumidor de produtos industrializados ingleses.

          Os norte-americanos reagiram com o “Tratado das Manufaturas”, criando um banco nacional, estatizando o crédito e direcionando-o à produção, fixando tarifas protecionistas para os seus produtos, estabelecendo subsídios à agricultura, criando desde já um programa de desenvolvimento tecnológico.

         O resultado disso tudo está à vista de quem queira ver. E ainda temos que suportar as mais idiotas, mentecaptas e até mesmo racistas teorias quando se compara o desenvolvimento brasileiro com o desenvolvimento norte-americano.

         Marx e Engels, recentemente ressuscitados, depois de mais uma crise financeira global,  também examinam a opção norte-americana para desenvolvimento econômico. Na primeira metade do século 19, dizia Engels: “Os norte-americanos preferem viajar com bilhetes expressos para chegar antes ao seu destino”.

         E qual é esse “bilhete expresso” que, de fato, levou os Estados Unidos ao seu destino?

        O “Tratado das Manufaturas”, de Alexander Hamilton.

        Já Marx, em uma passagem de “O Capital”, afirmava: “O sistema protecionista é somente um meio para criar em um país a grande indústria. Por isso, vemos que naqueles países em que a burguesia começa a se impor como classe (…) grandes esforços para implantar tarifas protetoras”.

         E completa :“O sistema protecionista foi um meio artificial de fabricar fabricantes (….) capitalizar os meios de produção(…) e abreviar o trânsito do antigo ao moderno regime de produção”.

      “Tratado das Manufaturas” e “Tratado de Methuen”, essa a distância entre o desenvolvimento norte-americano e o desenvolvimento brasileiro.

       Ah, sim! Para arrematar esse século perdido, o século 18, o Brasil inaugurou o século 19  proclamando a com a “abertura dos portos”… para os produtos industrializados ingleses, é claro.

         Como afirmei há pouco, o  Tratado de Methuen, por suas implicações perniciosas deletérias, é o avô de todos os tratados bilaterais que amarram, travam e manietam o desenvolvimento de países não industrializados ou pouco industrializados.

      Afinal, quem, ganha com um tratado que opõe países produtores de matérias-primas, de commodities, e as avançadíssimas economias industriais e seus ávidos, nunca saciados conglomerados financeiros?

       Com a crise econômica global, é inevitável que os países centrais busquem exportar parte da encrenca em que se atolam para a periferia do mundo, para o sul do planeta.

        O que pretende o Norte? 

         Em minhas andanças pelo mundo, nesses dois últimos anos, entendo que basicamente interessa ao Norte,  basicamente, três coisas: que abramos às escâncaras nossas portas aos seus produtos industrializados e que lhe forneçamos produtos primários, commodities, a preços módicos; que importemos sua mão-de-obra desempregada; e que acolhamos com toda a generosidade os seus investimentos, sem restrições às remessas de lucros, à importação de componentes, à maquiagem tecnológica.

          Não seria isso uma variação do Tratado de Methuen?

          E, assim sendo,  não nos serve. Não nos serviu no passado, não serve no presente e compromete ainda mais o nosso futuro.

         O que nos serve é, primeiramente, a integração sul-americana e, assim fortalecidos, estabelecer com os países industrializados relações fraternas, negócios transparentes, baseados na reciprocidade e no respeito. Sem espertezas, sem a  visão do lobo, sem as razões do lobo.

         Por fim, não uma queixa, mas uma constatação. Pelo que tenho lido nos jornais e ouvido em conversas de bastidores, soa-me que não andam lá muito populares os governantes latino-americanos, aqui por essas bandas européias.

        Deixando de lado a ignomínia praticada pelo “El País”, vejo um alto grau de incompreensão pelo o que acontece em nosso continente.

        A ascensão ao comando dos nossos países de um operário metalúrgico, de um bispo adepto da Teologia da Libertação, de um índio, de uma ex-guerrilheira, de um economista que não se veste como economista e nem pensa como os “Chicago’boys” , de um militar atípico nessa Latino América acostumada a aliança férrea entre a oligarquia e os quartéis, talvez essa nova América Latina não agrade aos paladares mais sensíveis.

       Talvez, a Europa preferisse os sociólogos, os economistas doutorados em Harvard,  os rebentos das árvore genealógica que remontam aos tempos coloniais. Enfim, gente de fino trato, a nossa versão latino-americana para “branco, anglo-saxão e protestante”.

        

        Se os deuses forem compassivos como os nossos povos, isso não há de acontecer. Os índios, os mulatos, os padres que não perderam o contato com o seu povo, as mulheres que desafiaram as ditaduras e os preconceitos, os operários que comprovaram a correção do axioma de Gramsci continuarão a se impor na cena latino-americana.        

        Para escarnecê-los,  desprestigiá-los, combatê-los, classificam-nos de “populistas” , “nacional-populistas”, “demagogos” . Dizem-nos ignorantes das ciências econômicas, transgressores das regras pétreas da macroeconomia. 

        Benditos sejam todos eles, que é santa a ignorância deles. Benditos sejam os Chaves, os Rafael Caldeira, os Evo Morales, os Lula, as Dilma, os Kirchners. Bendito sejam aqueles que franquearam aos nossos povos, depois de quatro séculos de fome, miséria e desnutrição, o incrível privilégio de fazer três refeições por dia.

       Três refeições por dia! Que fantástica conquista!

       Com muita frequência, divirjo deles, critico-os. Mas isso é assunto interno, para discutir entre nós latino-americanos.

      Aqui, hoje, quero louvá-los, enaltecê-los por terem tornado possível o acesso de dezenas  de milhões de mulheres, homens, idosos e crianças ao maravilhoso mundo das três refeições  por dia


 







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terça-feira, 12 de março de 2013

Requião no Parlamento Sueco

Existem três versões do discurso de Requião em Estocolmo, em Inglês, em Português e Espanhol. Escolhemos essa em Espanhol pois o assunto diz repeito  também às nações da América Latina de lingua espanica.


OBS: Essa versão contem frases incompletas o que prejudica seu entendimento.


DISCURSO SENADOR ROBERTO REQUIÃO 1
La embajadora Leda Camargo sugiere que hable sobre mi experiencia como presidente de
la Representación Brasileña en el Parlamento del MERCOSUR, Parlasur. Es mí segundo
mandato como senador de la República Federativa de Brasil y también por la segunda vez,
presido la representación brasileña en el bloque sudamericano.
En esos dos años presidiendo la Representación Brasileña, después de inúmeras reuniones
con participantes de países miembros o asociados, inclusive aquí en Europa, en el ámbito
de la EUROLAT, la Asamblea Parlamentaria Europa-América Latina, me consolidó una
convicción: fuera de la unidad – y de la simbiosis – latinoamericana no hay salvación. No
hay salvación para Brasil, no hay salvación para la Argentina, Uruguay, Paraguay o para
Venezuela. No hay salvación para nuestro continente.
No sé si para Suecia, integrar la Unión Europea sea tan vital así. Para Brasil, la unidad
sudamericana es una cuestión de vida o muerte.
Paulo, el apóstol, a quién tal vez se deba la invención del cristianismo, decía que fuera de
la Iglesia no hay salvación, demarcando así los límites para la buena o mala venturanza.
Nuestro destino – el paraíso o la condenación eterna – depende del mismo axioma.
Para nosotros brasileños, para los países y para el pueblo latinoamericano, fuera de la unidad
continental no hay salida. No habrá remisión de ese atraso, tan antiguo, de esa desigualdad
tan secular, de la oscuridad de la miseria, del analfabetismo, de la dependencia, de la
sumisión cultural. Fuera de la unidad latinoamericana no nos liberaremos de nuestras élites,
una élite aferrada a sentimientos esclavistas, encastillada en privilegios y sumisa, servil a los
De cualquier forma, si no con la velocidad y la preeminencia deseadas, tenemos avanzado
en ese sentido. La entrada de Venezuela en el bloque, por ejemplo, nos dio un fuerte respiro.
Con su PBI de 300 mil millones de dólares y carente de toda suerte de productos, ya que
la vieja oligarquía que gobernó el país hasta diez años atrás vivía de exportar petróleo
2
y no plantaba un pie de lechuga siquiera, Venezuela se volvió uno de los pilares del
Con la adhesión de Venezuela, el MERCOSUR pasa a contar con una población de 270
millones de personas, correspondientes a 70% de la población de América del Sur, y engloba
72% del área del continente. El PBI del bloque se eleva a 3 billones y 300 mil millones de
dólares, el equivalente a 83% del PBI sudamericano.
O sea, tenemos una magnifica base de lanzamiento, un excelente punto de partida, y
esperamos aún la adhesión de otros países, como Bolivia y Ecuador.
Llamo la atención de las señoras y los señores para los datos que siguen, donde queda
demostrado el peso del MERCOSUR para la economía brasileña.
El año pasado, entre enero y noviembre, las exportaciones brasileñas para América Latina y
el Caribe sumaron 46.400 millones de dólares. Para Estados Unidos, nuestras exportaciones
sumaron 45.800 millones de dólares. Para la Unión Europea, 45.260 millones de dólares.
Para China, 40.250 millones de dólares.
O sea, los valores de las exportaciones brasileñas para América Latina y el Caribe ya
superan, comparativamente, los valores de las exportaciones para América del Norte, Europa
Es más, mientras el valor de la tonelada de los productos exportados para los países de
nuestro continente alcanza entre 1.400 y 1.700 dólares, el valor de la tonelada exportada para
la Unión Europea cayó para 500 dólares y, para la China alcanza a penas 200 dólares. En ese
caso, son las commodities, básicamente minero de hierro y soya, productos simbólicos de
En que se deprende que las exportaciones brasileñas para América Latina y el Caribe son
constituidas de productos industrializados.
Ya a respecto de nuestras relaciones comerciales con Suecia, se registra que en los últimos
20 años tenemos un fuerte acumulado déficit. Y anoten esa información simbólica,
emblemática: en los últimos años ha disminuido de forma sistemática nuestras exportaciones
3
de productos industrializados para el país de las señoras y señores, mientras aumentan
fuertemente nuestras exportaciones de commodities. Pronto, un déficit incorregible.
Para nosotros, latinoamericanos no hay duda de cuáles sean nuestros socios ideales. Sin
embargo, se vamos ancorar nuestros destinos en América Latina, eso no significa que sea
una opción aislacionista. Se fueron los días de los falansterios, de las islas utópicas, de los
muros y de las cortinas.
Somos parte del planeta Terra y es él que vivimos.
Sin embargo, queremos relacionarnos con el mundo, especialmente con los países
industrializados, de forma altiva y soberana. Queremos conversar y negociar como países
independientes y no factorías para el desfrute imperial; no somos meros mercados –
proveedores o consumidores – para el beneficio de los demás. Aunque así deseen que
seamos; y así somos vistos; y, muchas veces, así somos.
Ahora mismo, cuando la crisis financiera mundial aprieta los calos de los países del Norte,
como los señores nos miran, que mirada dirigen hacia el Sur?
En los variados encuentros que tuve en esos dos últimos años, aquí en Europa y en América
Latina, pude ver de parte de los países industrializados dos ardientes deseos; exportar el
desempleo y hacer buenos negocios, casi nunca nada buenos para nosotros, es obvio.
Es con tristeza y, as veces, con desaliento, que veo aún viva la vieja idea de que el mundo
es de los más fuertes. Y de los más vivos. Una vieja idea que el neoliberalismo, que el
Consenso de Washington, que las idiotices del “fin de la historia” y de la muerte de las
ideologías volvió la bandera en esas últimas tristes décadas.
Un MERCOSUR fuerte, cohesivo, solidario, es la nuestra defensa contra las tentaciones
coloniales del Norte, vez o otra revivida, especialmente en situaciones de crisis. Un
MERCOSUR fuerte, desarrollado y justo es una contribución esencial, vital para un mundo
menos desigual, menos cruel, más humano y pacífico.
No se trata de una predicación moral. Lejos yo de cualquier pretensión de “civilizar”,
de dar lecciones de ética o de cortesía al capitalismo financiero global, al imperialismo
4
económico, a los especuladores y a los jugadores de las bolsas de valores. Pero, un planeta
desequilibrado, con esa abisal, monstruosa distancia entre el Norte y el Sur es un planeta sin
Voy a proporcionar más algunos números para reforzar mi argumentación sobre las
tentaciones de la dominación nunca frenadas ni moderadas por los países industrializados.
Son datos sobre la desnacionalización de la economía brasileña.
Según la conocida consultoría KPMG, de 2004 a 2012, alrededor de 1.300 empresas
brasileñas pasaron al control de empresas extranjeras, seguramente algunas suecas. El
proceso de desnacionalización de la economía brasileña se acelera a cada año.
Y ahora, el ataque no viene a penas del Norte. Es que China surge en el tablado. Según un
informe del banco Credit Suisse, difundido en este primero día de marzo, China fue el país
que más invirtió en fusiones y adquisiciones en Brasil, en los últimos años, adelante mismo
de un tradicional comprador de empresas brasileñas, los Estados Unidos. Por el momento, el
interés chino se concentra en las commodities, petróleo, gas natural, minero de hierro.
Cuanto más la economía brasileña se desnacionaliza, con adquisiciones y fusiones, más crece
nuestra sangría financiera, con el aumento de la remesa de los lucros para el exterior, para
las matrices. Prácticamente Brasil no opone restricciones a que se remetan los lucros. Por el
contrario, a pretexto de atraer inversiones, se crean facilidades para el flujo.
En los últimos ocho años, las remesas de lucro hechas por las multinacionales en operación
en Brasil sumaron la apreciable cuantía de 404 mil millones de dólares. Entre 2004 y 2011,
las remesas fueron 152% superiores al saldo comercial que Brasil obtuvo en el mismo
En el inicio de este año de 2013, pudimos ver Telefónica Brasil realizar una remesa de
centenas de millones de euros para la sede en España, a fin de socorrer a la debilitada matriz,
mientras nosotros los brasileños continuamos a amargar seguramente el peor y más caro
servicio de telefonía del mundo.
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Que quede claro. No estoy aquí satanizando, estigmatizando, maldiciendo las inversiones
extranjeras. Lejos de yo, la xenofobia, el aislacionismo. Sin embargo, esos sentimientos
son perniciosos cuando el saqueó sin límites de los recursos, la sangría desenfrenada de las
finanzas de los países periféricos.
La formación de un bloque sudamericano fuerte e unido ciertamente ha de dar a nuestros
países condiciones de negociar esas inversiones en términos que favorezcan nuestros
desarrollo y el bien estar de nuestros pueblos.
O sea, a penas la unidad latinoamericana ha de darnos fuerzas para negociar altaneramente,
con soberanía con los países industrializados. Acuerdos multilaterales que sean satisfactorios
para ambas las partes.
¿Cuál es el opuesto de la integración continental, de la unidad latinoamericana?
Lo contrario son acuerdos bilaterales, el pacto entre el cordero y el lobo, celebrados según el
punto de vista del lobo.
Para nosotros brasileños, y también para nuestra antigua metropole, Portugal, el abuelo de
todos los acuerdos bilaterales, el punto de partida para nuestras desaventuras, de un lado y
de otro del Atlántico, es el Tratado de Methuen, celebrado entre Lisboa y Londres, en los
primeros años del siglo 18. Fue allá que ancoramos el buque del atraso y perdimos el paso de
El Tratado de Methuen también conocido como el Tratado de los Panes y Vinos no es
muy diverso en relación a lo que los países industrializados (y ahora también los chinos)
han propuesto con frecuencia. Por el acuerdo, Portugal se obligaba, por todo siempre, a
proveer vino a Inglaterra, y esta, también por todo siempre, a exportar tejidos y productos
industrializados para Portugal.
Como se esperaraba, en la brevedad, la diferencia de precios entre los productos
industrializados y los vinos provocó un fuerte déficit a la balanza portuguesa. Peor todavía:
la incipiente, modesta industria portuguesa se hundió con la importación del producto
terminado de Inglaterra.
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Es en este momento que entra en escena el oro brasileño. El desequilibro en la balanza es
cubierto por el metal extraído en la colonia que va, sin escalas, irrigar el tesoro inglés y
proveer de recursos el desarrollo británico, y la consiguiente revolución industrial.
El siglo inaugurado por el Tratado de Methuen se termina con el agotamiento de las minas
brasileñas. Por casi cien años, nuestro oro cubrió la brecha entre producir y exportar vinos
e importar máquinas y productos terminados. Casi un siglo después del tratado tenemos,
entonces, de un lado Portugal a la quiebra, industrialmente poco desarrollado y con una
producción agrícola limitada.
Por otro lado, se revela un Brasil empobrecido, desplumado de sus riquezas, con las
actividades industriales prohibidas, a fin de se proteger del producto inglés.
En contraposición, cuando Inglaterra intentar imponer a los Estados Unidos esa misma
relación de subordinación, la reacción norteamericana resulta en la independencia del país.
Y, libre del tacón colonial, los Estados Unidos abren su proprio camino para se desarrollar.
Vemos, entonces, el primero secretario del Tesoro norteamericano, el guerrillero y general
de las batallas de la Independencia, Alexander Hamilton, elaborar, proponer y hacer aprobar
en el Congreso el “Tratado de las Manufacturas”, la piedra angular, la piedra fundamental
del desenvolvimiento de los Estados Unidos.
La Compañía de las Indias, la poderosa transnacional colonial de la época, que tenía entre
sus funcionarios a Adam Smith, seguramente el más importante teórico del liberalismo
económico, también quería transformar los Estados Unidos en simples productor de materias
primas y consumidor de productos industrializados ingleses.
Los norteamericanos reaccionaron con el “Tratados de las Manufacturas”, creando un
banco nacional, estatizando el crédito y direccionándolo a la producción, fijando aranceles
proteccionistas para sus productos, estableciendo subsidios a la agricultura, creando desde el
principio un programa de desenvolvimiento tecnológico.
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El resultado de todo esos está a la vista de quién quiera ver. Y aún tenemos que soportar las
más idiotas, alienadas y hasta mismo racistas teorías cuando se compara el desenvolvimiento
brasileño con el desenvolvimiento norteamericano.
Marx e Engels, recientemente resucitados, después de más una crisis financiera global,
también examinan la opción norteamericana para el desenvolvimiento económico. En la
primera mitad del siglo 19, decía Engels: “Los norteamericanos preferían viajar con boletos
expresos para llegar antes a su destino”.
¿Y cuál es ese “boleto expreso” que de hecho llevó a los Estados Unidos a su destino?
El “Tratado de las Manufacturas”, de Alexander Hamilton.
Ya Marx, en una pasaje de “El Capital”, afirmaba: “El sistema proteccionista es solamente
un medio para crear en un país la grande industria. Por esos, vemos que en aquellos países en
que la burguesía empieza a imponerse como clase (…) grandes esfuerzos para implementar
aranceles proteccionistas”.
Y termina: “El sistema proteccionista fue un medio artificial de fabricar fabricantes (…)
capitalizar los medios de producción (…) y abreviar el transito del antiguo al moderno
régimen de producción”.
“Tratado de las Manufacturas” y el “Tratado de Methuen”, esa es la distancia entre el
desenvolvimiento norteamericano y el desenvolvimiento brasileño.
Ah, claro! Para arrematar ese siglo perdido, el siglo 18, Brasil inauguró en el siglo 19,
proclamando con la “apertura de los puertos” para los productos industrializados ingleses, es
Como afirmé hace poco, el Tratado de Methuen por sus implicaciones perniciosas, es el
abuelo de todos los tratados bilaterales que atan, traban y prohíben el desarrollo de países no
industrializados o poco industrializados.
A final, quién gana con un tratado que oponen países productores de materias primas,
de commodities, y las avanzadas economías industriales y sus ávidos, nunca saciados
conglomerados financieros?
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Con la crisis económica global, es inevitable que los países centrales busquen exportar parte
del problema en que se encuentran para la periferia del mundo, para el sur del planeta.
¿Qué pretenden el Norte?
En mis andanzas por el mundo, en esos últimos dos años, entiendo que básicamente interesa
al Norte tres cosas: que abramos totalmente nuestras puertas a sus productos industrializados
y que le proveemos productos primarios, commodities, a precios módicos; que importemos
su mano de obra desempleada; y que acojamos con toda la generosidad sus inversiones, sin
restricciones a las remesas de lucros, a la importación de partes, a la maquillaje tecnológica.
¿No sería eso una variación del Tratado de Methuen?
Y así siendo, no nos sirve. No nos servió en el pasado, no sirve en el presente y compromete
aún más nuestro futuro.
Lo que nos sirve es, primeramente, la integración sudamericana, y así fortalecidos, establecer
con los países industrializados relaciones fraternas, negocios transparentes, basadas en la
reciprocidad y en el respeto. Sin ingenios, sin la visión del lobo, sin las razones del lobo.
Por fin, no un queja, pero una constatación. Por lo que tengo leído en los periódicos e
escuchado en las charlas de bastidores, me suena que no están muy populares los líderes
latinoamericanos, aquí por Europa.
Dejando de lado lo vergonzoso que es el practicado por “El País”, veo un alto grado de
incomprensión por lo que ocurre en nuestro continente.
La ascensión del comando de nuestros países de un operario metalúrgico, de un obispo
adepto de la Teología de la Liberación, de un indígena, de una ex guerrillera, de un ex
guerrillero, de un economista que no se viste como economista y ni piensa como los
“Chicago boys”, de un militar atípico en esta América Latina acostumbrada a la alianza entre
la oligarquía y los cuarteles, quizás esa nueva América Latina no agrade a los paladares más
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Quizás, Europa prefiriera los sociólogos, los economistas doctorados en Harvard, los brotes
de la genealogía que se remonta a la época colonial. Finalmente, gente de fino tracto, nuestra
versión latinoamericana para “blanco, anglosajón, y protestaste”.
Si los dioses fueren compasivos con nuestros pueblos, eso ha de no ocurrir. Los indígenas,
los mulatos, los padres que no perdieron el contacto con su pueblo, las mujeres que
desafiaron las dictaduras y los prejuicios, los operarios que comprobaron la corrección del
axioma de Gramsci continuarán a imponerse en la escena latinoamericana.
Para burlarse, desacreditarlos, luchar contra ellos, los clasifican de "populistas", "nacional-
populistas", "demagogos". Nos dicen ignorantes de la economía, transgresores de normas
inmutables de la macroeconomía.
Bendecido sean todos ellos, que es santa la ignorancia de ellos. Bendecidos sean los
Chavez, los Rafael Correa, los Evo Morales, los Lula, las Dilma, los Kirchners, los Mujica.
Bendencido sean aquellos que franquearon a nuestros pueblos, después de cuatros siglos de
hambre, miseria, y desnutrición, el increíble privilegio de hacer tres comidas por día.
Tres comidas por día! Que fantástica conquista!
Con mucha frecuencia, diverjo de ellos, los critico. Pero eso es un asunto interno, para
debatir entre nosotros latinoamericanos.
Aquí hoy, quiero alábalos, exaltar a ellos por hacer posible el acceso de decenas de millones
de mujeres, hombres, ancianos y niños al maravilloso mundo de las tres comidas por día.







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ESTOCOLMO (fotos e discurso em português de Requãão no Parlamento Sueco)



Requião fala no Parlamento Sueco.




Requião escuta no Parlamento Sueco

discurso em poriuguês;

          A embaixadora Leda Camargo sugere que fale sobre minha experiência como presidente da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul, o Parlasul. É meu segundo mandato como senador da República do Brasil,  e também pela segunda vez presido a representação brasileira no bloco sul-americano.

           Nesses dois anos presidindo a Representação Brasileira, depois de inúmeras reuniões com participantes de países membros ou associados, inclusive aqui na Europa, no âmbito da Eurolat, a Assembléia Parlamentar Europa América Latina, consolidou-me uma convicção: fora da unidade --e da simbiose—latino-americana não há salvação. Não há salvação para o Brasil, não há salvação para a Argentina, o Uruguai, o Paraguai ou  para a Venezuela. Não há salvação para o nosso continente.

          Não sei se para a Suécia  integrar a União Européia seja tão vital assim. Para o Brasil,  a unidade sul-americana é uma questão de vida ou morte.

          Paulo, o apóstolo, a quem talvez se deva a invenção do cristianismo, dizia que fora da Igreja não havia salvação, demarcando assim os limites para a boa ou a má aventurança.  O nosso destino  --o paraíso ou a danação eterna—depende do mesmo axioma.

        Para nós brasileiros, para os países e para o povo latino-americanos, fora da unidade continental não há saída.  Não haverá remissão desse atraso  tão antigo, dessa desigualdade tão secular, da escuridão da miséria, da analfabetismo, da dependência, da submissão cultural. Fora da unidade latino-americana não  nos libertaremos de nossas elites,  uma elite aferrada a sentimentos escravocratas, encastelada em privilégios e submissa, servil aos interesses imperiais.

       De qualquer forma, se não com a velocidade e a premência desejadas, temos avançado, nesse sentido.    A entrada da Venezuela no bloco, por exemplo,  deu-nos um forte alento. Com o seu PIB de 300 bilhões de dólares e carente de toda sorte de produtos, já que a velha oligarquia que governou o país até dez anos atrás vivia de exportar petróleo e não plantava um pé de alface sequer, a Venezuela torna-se um dos esteios do Mercosul.

       Com a adesão da Venezuela,  o Mercosul passa a contar com uma população de 270 milhões de pessoas,  correspondente a 70 por cento da população da América do Sul, e abrange 72 por cento da área do continente. O PIB do bloco eleva-se a três trilhões e 300 bilhões de dólares, o equivalente a 83 por cento do PIB sul-americano.

       Quer dizer, temos uma magnífica base de lançamento, um excelente ponto de partida, e esperamos ainda a adesão de outros países, como a Bolívia e o Equador.

       Chamo a atenção das senhoras e dos senhores para os dados que seguem, onde fica demonstrado o peso do Mercosul para a economia brasileira.

       No ano passado, entre janeiro e novembro, as exportações brasileiras para a América Latina e o Caribe somaram 46 bilhões e 400 milhões de dólares. Para os Estados Unidos, nossas exportações somaram 45 bilhões e 800 milhões de dólares. Para a União Européia, 45 bilhões e 260 milhões de dólares. Para a China, 40 bilhões e 250 milhões de dólares.

     Quer dizer, os valores das  exportações brasileiras para a América Latina e o Caribe já superam, comparativamente,  os valores das exportações para a América do Norte, Europa e China.

      Mais ainda: enquanto o valor da tonelada dos produtos exportados para os países de nosso continente alcança entre mil e quatrocentos  e mil e setecentos dólares, o valor da tonelada exportada para a União Européia cai para 500 dólares e, para a China,  alcança apenas 200 dólares. Nesse caso, são as commodities, basicamente minério de ferro e soja, produtos simbólicos de nossa dependência.

      Donde se depreende que as exportações brasileiras para a América Latina e Caribe são constituídas de produtos industrializados.

      Já quanto às nossas relações comerciais com  a Suécia, registre-se que nos últimos 20 anos temos acumulado um forte déficit. E anotem essa informação simbólica, emblemática: nos últimos anos tem diminuído de forma sistemática as nossas exportações de produtos industrializados para o país das senhoras e dos senhores, enquanto aumentam fortemente as nossas exportações de commodities. Logo, um déficit incorrigível.

      Para nós latino-americanos não há dúvida de quais sejam os nossos parceiros ideais. No entanto, se vamos ancorar o nosso destino na América Latina, isso não quer dizer a opção por uma política isolacionista. Foram-se os dias dos falanstérios, das ilhas utópicas, dos muros e das cortinas.

      Somos parte do planeta Terra é nele que vivemos.

      No entanto, queremos nos relacionar com o mundo, especialmente com os países industrializados,  de forma altiva, soberana. Queremos conversar e negociar como países independentes  e não feitorias para o desfrute imperial; não somos meros mercados ---fornecedores ou consumidores--- para o proveito dos outros. Embora assim desejem que sejamos; e assim somos encarados: e, mais das vezes, assim somos.

       Agora mesmo, quando a crise financeira mundial aperta os calos dos países do Norte, como os senhores nos olham, que olhar dirigem ao Sul?

       Nos vários encontros que tive nesses dois últimos anos, aqui na Europa  e na América Latina, vi da parte dos países industrializados dois ardentes desejos: exportar o desemprego e fazer bons negócios,  quase nunca nada bons para nós, é claro.

       É com tristeza e, às vezes, com desalento, que vejo ainda viva a velha idéia de que o mundo é dos mais fortes. E dos mais espertos. Uma velha idéia que o neoliberalismo, que o Consenso de Washington, que as idiotices do “fim da história” e da morte das ideologias tornou bandeira nessas últimas tristes décadas.        

     Um Mercosul forte, coeso, solidário é a nossa defesa contra as tentações coloniais do Norte, volta e meia revivida, especialmente em situações de crise. Um Mercosul forte, desenvolvido e justo é uma contribuição essencial, vital para um mundo menos desigual, menos cruel, mais humano e pacífico.

        Não se trata de uma pregação moral. Longe de mim qualquer pretensão de  “civilizar”, de dar lições de ética ou de boas maneiras ao capitalismo financeiro global, ao imperialismo econômico, aos especuladores e aos jogadores das bolsas. Mas, um planeta desequilibrado, com essa abissal, monstruosa distância entre o Norte e o Sul é um planeta sem futuro.

        Vou fornecer mais alguns números para fortificar minha argumentação sobre as tentações de dominação nunca contidas, jamais refreadas dos países industrializados.     São dados sobre a desnacionalização da economia brasileira.

        Segundo a tão conhecida consultoria KPMG, de 2004 a 2012, cerca de 1.300 empresas brasileiras passaram ao controle de empresas estrangeiras, certamente algumas suecas. O processo de desnacionalização da economia brasileira acelera-se a cada ano. 

       E, agora, o ataque não vem apenas do Norte.  Eis que a China surge no palco. Segundo um estudo do banco Credit Suisse, divulgado neste dia primeiro de março, a China foi o país que mais investiu em fusões e aquisições no Brasil, nos últimos anos, à frente mesmo de um tradicionalíssimo comprador de empresa brasileiras, os
Estados Unidos. Por enquanto, o interesse chinês concentra-se nas commodities, petróleo, gás natural, minério de ferro.

    Quanto mais a economia brasileira desnacionaliza-se, com as aquisições e  as fusões, mais cresce a nossa sangria financeira, com o aumento da remessa dos lucros para o exterior, para as matrizes. Praticamente o Brasil não opõe restrições a que se remetam os lucros. Pelo contrário, a pretexto de atrair investimentos, criam-se facilidades para o fluxo.

     Nos últimos oito anos, as remessas de lucro feitas pelas multinacionais em operação no Brasil somaram a apreciável quantia de 404 bilhões de dólares. Entre 2004 e 2011, as remessas foram 152 por cento superiores ao saldo comercial que o Brasil obteve no mês mo período!

     No início deste 2013, vimos a Telefônica Brasil fazer uma remessa de centenas de milhões de euros para a sede na Espanha, para socorrer a combalida matriz, enquanto nós os brasileiros continuamos a amargar seguramente o pior e o mais caro serviço de telefonia sob a face da terra.

      Que fique claro. Não estou aqui satanizando, estigmatizando, amaldiçoando os investimentos estrangeiros. Longe de mim a xenofobia, o isolacionismo. Contudo, esses sentimentos são perniciosos quanto o saque sem limites dos  recursos, a sangria desatada das finanças dos países periféricos.

      A formação de um bloco sul-americano forte e unido certamente  dará aos nossos países   condições de negociar esses investimentos em termos que favoreçam o nosso desenvolvimento  e o bem-estar de nossos povos.

      Quer dizer: apenas a unidade latino-americana nos dará forças para negociar altaneiramente, com soberania com os países industrializados.  Acordos multilaterais que sejam satisfatórios para ambas as partes.  

      Qual é o oposto da integração continental, da unidade latino-americana?

      O contrário são os acordos bilaterais, o pacto entre o cordeiro e o lobo, celebrados segundo o ponto de vista do lobo.

      Para nós brasileiros, e também para a nossa antiga metrópole,  Portugal, o avô de todos os acordos bilaterais, o ponto de partida para as nossas desventuras, de um lado e do outro do Atlântico, é o Tratado de Methuen, celebrado entre Lisboa e Londres, nos primeiros anos do século 18. Foi aí que ancoramos o navio do atraso e perdemos o passo na história.

     O Tratado de Methuen, também conhecido o Tradado dos Panos e Vinhos,  não é muito diverso do que os países industrializados (e agora também os chineses) nos propõem com frequência. Pelo acordo, Portugal se obrigava, por todo o sempre, a fornecer vinho à Inglaterra  e esta, também por todo o sempre, a exportar tecidos e produtos industrializados para Portugal.          

         Como era de se esperar, em breve tempo, a diferença de preços entre os produtos industrializados e os vinhos acarretou um forte déficit à balança portuguesa. Pior ainda: a incipiente, modesta indústria portuguesa afundou-se com a importação do produto acabado da Inglaterra.

          É aí que entra em cena o ouro brasileiro. O desequilíbrio na balança é coberto pelo metal extraído na colônia que vai, sem escalas, irrigar o tesouro inglês e prover de recursos o desenvolvimento britânico, e a consequente revolução industrial.

          O século inaugurado pelo Tratado de Methuen encerra-se com o esgotamento das minas brasileiras. Por quase cem anos, o nosso ouro cobriu o hiato entre produzir e exportar vinhos e importar máquinas e produtos acabados. Quase um século depois do tratado temos, então, de um lado, Portugal quebrado, industrialmente pouco desenvolvido, produção agrícola limitada.

        Doutra face, revela-se um Brasil empobrecido, depenado de suas riquezas, com as atividades industriais proibidas, a fim de se proteger o produto inglês.

        Em contraposição, quando a Inglaterra tenta impor aos Estados Unidos essa mesma relação de subordinação, a reação norte-americana resulta na independência do país. E, livre do tacão colonial, os Estados Unidos abrem o seu próprio caminho para se desenvolver.

        Vemos, então, o primeiro secretário do Tesouro norte-americano, o guerrilheiro e general das batalhas da Independência, Alexander Hamilton, elaborar, propor e fazer aprovar no Congresso o “Tratado das Manufaturas”, a pedra angular, a pedra fundamental do desenvolvimento dos Estados Unidos.

           A Companhia das Índias, a poderosíssima transnacional colonial da época, que tinha entre seus funcionários Adam Smith, certamente o mais importante teórico do liberalismo econômico, também queria transformar os Estados Unidos em simples produtor de matérias-primas e consumidor de produtos industrializados ingleses.

          Os norte-americanos reagiram com o “Tratado das Manufaturas”, criando um banco nacional, estatizando o crédito e direcionando-o à produção, fixando tarifas protecionistas para os seus produtos, estabelecendo subsídios à agricultura, criando desde já um programa de desenvolvimento tecnológico.

         O resultado disso tudo está à vista de quem queira ver. E ainda temos que suportar as mais idiotas, mentecaptas e até mesmo racistas teorias quando se compara o desenvolvimento brasileiro com o desenvolvimento norte-americano.

         Marx e Engels, recentemente ressuscitados, depois de mais uma crise financeira global,  também examinam a opção norte-americana para desenvolvimento econômico. Na primeira metade do século 19, dizia Engels: “Os norte-americanos preferem viajar com bilhetes expressos para chegar antes ao seu destino”.

         E qual é esse “bilhete expresso” que, de fato, levou os Estados Unidos ao seu destino?

        O “Tratado das Manufaturas”, de Alexander Hamilton.

        Já Marx, em uma passagem de “O Capital”, afirmava: “O sistema protecionista é somente um meio para criar em um país a grande indústria. Por isso, vemos que naqueles países em que a burguesia começa a se impor como classe (…) grandes esforços para implantar tarifas protetoras”.

         E completa :“O sistema protecionista foi um meio artificial de fabricar fabricantes (….) capitalizar os meios de produção(…) e abreviar o trânsito do antigo ao moderno regime de produção”.

      “Tratado das Manufaturas” e “Tratado de Methuen”, essa a distância entre o desenvolvimento norte-americano e o desenvolvimento brasileiro.

       Ah, sim! Para arrematar esse século perdido, o século 18, o Brasil inaugurou o século 19  proclamando a com a “abertura dos portos”… para os produtos industrializados ingleses, é claro.

         Como afirmei há pouco, o  Tratado de Methuen, por suas implicações perniciosas deletérias, é o avô de todos os tratados bilaterais que amarram, travam e manietam o desenvolvimento de países não industrializados ou pouco industrializados.

      Afinal, quem, ganha com um tratado que opõe países produtores de matérias-primas, de commodities, e as avançadíssimas economias industriais e seus ávidos, nunca saciados conglomerados financeiros?

       Com a crise econômica global, é inevitável que os países centrais busquem exportar parte da encrenca em que se atolam para a periferia do mundo, para o sul do planeta.

        O que pretende o Norte? 

         Em minhas andanças pelo mundo, nesses dois últimos anos, entendo que basicamente interessa ao Norte,  basicamente, três coisas: que abramos às escâncaras nossas portas aos seus produtos industrializados e que lhe forneçamos produtos primários, commodities, a preços módicos; que importemos sua mão-de-obra desempregada; e que acolhamos com toda a generosidade os seus investimentos, sem restrições às remessas de lucros, à importação de componentes, à maquiagem tecnológica.

          Não seria isso uma variação do Tratado de Methuen?

          E, assim sendo,  não nos serve. Não nos serviu no passado, não serve no presente e compromete ainda mais o nosso futuro.

         O que nos serve é, primeiramente, a integração sul-americana e, assim fortalecidos, estabelecer com os países industrializados relações fraternas, negócios transparentes, baseados na reciprocidade e no respeito. Sem espertezas, sem a  visão do lobo, sem as razões do lobo.

         Por fim, não uma queixa, mas uma constatação. Pelo que tenho lido nos jornais e ouvido em conversas de bastidores, soa-me que não andam lá muito populares os governantes latino-americanos, aqui por essas bandas européias.

        Deixando de lado a ignomínia praticada pelo “El País”, vejo um alto grau de incompreensão pelo o que acontece em nosso continente.

        A ascensão ao comando dos nossos países de um operário metalúrgico, de um bispo adepto da Teologia da Libertação, de um índio, de uma ex-guerrilheira, de um economista que não se veste como economista e nem pensa como os “Chicago’boys” , de um militar atípico nessa Latino América acostumada a aliança férrea entre a oligarquia e os quartéis, talvez essa nova América Latina não agrade aos paladares mais sensíveis.

       Talvez, a Europa preferisse os sociólogos, os economistas doutorados em Harvard,  os rebentos das árvore genealógica que remontam aos tempos coloniais. Enfim, gente de fino trato, a nossa versão latino-americana para “branco, anglo-saxão e protestante”.

        

        Se os deuses forem compassivos como os nossos povos, isso não há de acontecer. Os índios, os mulatos, os padres que não perderam o contato com o seu povo, as mulheres que desafiaram as ditaduras e os preconceitos, os operários que comprovaram a correção do axioma de Gramsci continuarão a se impor na cena latino-americana.        

        Para escarnecê-los,  desprestigiá-los, combatê-los, classificam-nos de “populistas” , “nacional-populistas”, “demagogos” . Dizem-nos ignorantes das ciências econômicas, transgressores das regras pétreas da macroeconomia. 

        Benditos sejam todos eles, que é santa a ignorância deles. Benditos sejam os Chaves, os Rafael Caldeira, os Evo Morales, os Lula, as Dilma, os Kirchners. Bendito sejam aqueles que franquearam aos nossos povos, depois de quatro séculos de fome, miséria e desnutrição, o incrível privilégio de fazer três refeições por dia.

       Três refeições por dia! Que fantástica conquista!

       Com muita frequência, divirjo deles, critico-os. Mas isso é assunto interno, para discutir entre nós latino-americanos.

      Aqui, hoje, quero louvá-los, enaltecê-los por terem tornado possível o acesso de dezenas  de milhões de mulheres, homens, idosos e crianças ao maravilhoso mundo das três refeições  por dia




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