Requião e o povo do Céu.
Um conto.
Você sabe que com o Requião só trabalham malucos. Aqueles caras parecem que vivem no mundo da lua. Há mesmo quem diga que são de outro planeta.
Sexta feira, eu, o Ronaldo Reikdall, sua secretária, seu soldador, o Paulo, o Carlos Machuca e seu irmão mais velho, aproveitávamos o pouco movimento do dia frio, e conversávamos animadamente em roda, no All Car Escapamentos, na Rua Manoel Ribas.
Num repente chegou um destes esquisitos que trabalham com o Requião. Parou um fusquinha ano setenta, cor bege e não desceu. Ficou rindo e olhando para nós interrompendo, com sua atitude estranha, a nossa animada conversa. Perguntou então: "Hoje é quinta ou sexta feira?". “““ O Ronaldo respondeu:” sexta”.
O homem, sem dizer nada, deu a ré no fusquinha que levantou um metro e meio do chão, encolheu as rodas como se fosse um avião e como num curto-circuito, desapareceu na nossa frente, deixando um risco no céu.
Nós nos entreolhamos atônitos. Ninguém ousou dizer nada por vários dias. Não sei o que se passou na cabeça deles. Não sei o que se passou na minha.
Passados alguns dias, coincidentemente ou não, estávamos reunidos no mesmo local quando apareceram de novo, o fusquinha e o esquisito. Estacionou sorridente. Desceu. Veio conversar. Houve um mal estar, um arrepio que correu o corpo de cada um de nós.
O Cara disse: "hoje é quinta não é?". O Ronaldo respondeu: "sim". Ficou um silêncio no ar. Um nervosismo. “Aí, o Ronaldo, mais ousado, meio irritado, pergunta com tom de proprietário do estabelecimento que quer por ordem no pedaço:” O que há? O que foi aquilo que aconteceu aqui? Cara você sumiu no ar!"
O Cara, na maior calma, respondeu: "Vocês viram?" Todo mundo fez que sim movendo a cabeça com as bocas escancaradas e caras de pateta.
O cara sem mostrar nenhum espanto disse: "É comum acontecer, foi uma ilusão da mente, nada de anormal... é à força do CARISMA".
Todos ficaram de cara e nos entreolhamos assustados.
Ele percebendo disse: "vou explicar". Vocês estavam em círculo conversando e, mal comparando, imaginem que cada um de vocês fosse uma bússola, dispostas em circulo é claro. As bússolas normalmente apontam o Norte... Orientam-se pelos fatos do cotidiano, pelo trivial. Aí eu me aproximo de vocês. Aproximo-me como se fosse um grande imã. Atraio a atenção de vocês e a agulha de vocês se dirige sem querer, forçadas pelo magnetismo do carisma, todas para um mesmo ponto... vocês perdem o norte, ....vocês então tiveram a mesma ilusão mental. Acontece que eu estava com muita pressa... porque o patrão...o Requião, chegava na sexta....aí eu desejei isto. Desejei que meu fusca fosse um disco-voador. Induzi vocês. Desculpem.
Calou-se.
O Ronaldo fingindo que entendia resmungou: “... então foi a pressa".
O cara sem dar a menor bandeira, vai embora como se tudo aquilo fosse à coisa mais comum... o trivial ( talvez seja mesmo, lá no planeta deles)... Sai devagar com o fusquinha já bem caidinho, é óbvio que aquilo nunca voou fora uma ilusão.
O Ronaldo fica nervoso, quer beber uma cerveja. Vira para sua secretária e pede um conto. “Ela sem jeito diz: ”Não temos trocado no caixa". Ele vira para o Paulo soldador... "Um conto?” O Paulo, pondo a mão no bolso, responde: "Estou duro". Vira para mim:... "um conto"“. Eu sem jeito disse: ”Não tenho”. Ele, que sabe que ganho a vida escrevendo e mal, agora irritado com tudo o que vem acontecendo em seu estabelecimento, diz para mim: "se você não tem um conto, pô... então escreva... um". E eu, de susto, escrevi este. Depois, envergonhado, num estalo, como num curto-circuito, num flash, também sumi deste planeta deixando um risco no céu.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Nova postagem do Grupo de Estudos G 23 ( Curitiba Paraná Brazil)
sexta-feira, 27 de março de 2009
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