O Pulo do Gato.
Enquanto a cadeira de balanço range no seu vai e vem, em sua volta um mundo “violento” se desenvolve no silêncio da paz. O vento sopra suave no final da tarde. Paz de uma tarde de verão. Paz? Será?
Carreiros de formigas trabalham no transporte de plantas e restos mortais de insetos. A lagarta devora uma folha sem parar avidamente. Uma pequena aranha tece sua teia para caçar insetos. Uma lagartixa branca caça silenciosa.
Na grama, pássaros com destreza beliscam a terra dela tirando pequenos seres vivos roubando-lhes a vida para manter a própria. Por detrás de uma moita um gato prepara o seu pulo fatal.
Num repente os pássaros se agitam em debandada, porém um ficou nas garras do gato. Os outros, como se nada houvera acontecido voltam a beliscar a terra, enfim fazem o que o gato acabara de fazer, roubando a vida para manter a própria. Parece cruel. Mas é real, insofismável, verdadeiro.
Aparece um cão com um rato na boca. Não o comerá. Passeara horas com ele como se fora um troféu e ao fim o enterrará. Sim os animais também matam por instinto, como se necessário fosse exercitar as suas técnicas... Não o fazem apenas para comer. O que conquistam nesse esporte cruel, milhões de bactérias virão decompor. È como se prestassem um serviço a outras espécies de seres ínfimos e invisíveis.
Assim no silencio, nessa placidez de fim de tarde. Trava-se uma guerra entre espécies, sem que elas aparentemente vivam um drama existencial. A morte de um pássaro do grupo não afugenta, desmobiliza, ou paralisa aos outros, que sem se preocupar com os destinos dos restos mortais do companheiro continuam seus afazeres cotidianos.
A cadeira de balanço range.
Com um leve ruído o homem deixa cair às mãos inertes. A cadeira para o seu vai e vem. A morte dera o seu pulo certeiro... E já não haverá a contemplação do final da tarde. Não muito longe dali, outros homens continuam sem parar os seus afazeres diários.
O que nos leva a pensar que somos diferentes dos outros seres vivos? O que nos ilude e nos faz pensar que Deus não esta a espreita para colher as nossas vidas? Um estava ao arado e o pulo certeiro da morte o colheu. Outro no motel. Outro dirigia. Outro cantava e tocava violão e o nosso amigo curtia o ranger da cadeira de balanço. Foram colhidos, estes alimentarão seres minúsculos, aqueles num passado remoto alimentavam as feras, aqueles outros alimentavam as ambições de outros homens.
O que me dói é contemplar com quantas ilusões nós recheamos os nossos futuros cadáveres.
Se a alma não existe, para sobreviver à morte inevitável, somos um saco de ossos a espera inocente do Pulo do Gato que nos espreita.
wallacereq@gmail.com.
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