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sábado, 7 de junho de 2014

Os olhos de Tomizo dão vertigem.

Os olhos de Tomizo dão vertigem.
Contos da vida Real.
Tomizo San é meu amigo desde algumas décadas. Ele consome seus dias atendendo ao balcão de uma farmácia. Portador de mente invulgar, tem por habilidade principal viajar no tempo cósmico, em escalas infinitamente maiores do que o nosso tempo terral, telúrico, geodésico, expressado em segundos, minutos, horas, dias e noites. No espaço cósmico o tempo se mede pala intensidade das luzes.
Outro dia ele me contava que viajava com a sua nave mental, pelo espaço sideral, numa imensa orbita em torno do sol. Foi quando notou que de um lado da nave havia sempre sol, e do outra escuridão. Como sua nave não rodava sob o eixo transversal, o que seria ótimo para baixar e harmonizar as temperaturas das superfícies, ele acabou por concluir, que vivia um fenômeno único. Convivia com o dia e a noite num estado físico sem fronteiras. Então, me contou ele, resolveu construir uma parede divisória de ponta a ponta em sua nave, e assim separava o dia da noite, porém, deixou ao meio, uma porta, uma passagem. Quando queria o dia, ficava ao lado exposto ao sol, quando queria a noite, abria a porta e deitava-se ao lado oposto ao sol. Atento como é, o velho amigo Tomizo, notou que quando cruzava essa parede divisória entre o dia e a noite, seu corpo formigava em trilhões de fótons coloridos. Isso o levou a pensar que a inteligência nada mais era do que a cor, sim, quanto maior a gama, a filigrana, a sutileza de tons, maior era a percepção do intelecto. Sim a inteligência era aquele espaço representado pela parede divisória entre o dia e a noite, a luz e as trevas. Na cor havia emoção, identidade, sutileza, mas a inteligência se assim era, era algo que estava prisioneira entre estes dois, não digo, opostos, porque as trevas nada mais são que ausência de luz, ou a luz a ausência de trevas. Como a viagem era longa, Tomizo que é um homem simples, daqueles que quando esta alegre dança como criança, ou seja, expressa sua alegria em movimentos de dança, passou a dançar no exíguo espaço da inteligência Fótica. Show. Mas num repente, notou que Deus, não poderia ser maniqueísta e estar também prisioneiro entre trevas e luz. Mas Deus era inteligência e vontade. Inteligência como aquela vibração ordenadora dos átomos coloridos em moléculas, que o fazia lembrar-se dos tempos vividos nos campos, quando as carroças cheias de melancias, iam acomodando os frutos, com o balançar. Sim a vibração ordenava as partículas, e as acomodada em moléculas, que se acomodavam em estruturas maiores, como se dançassem. Mas Deus também era vontade, isso, tensão, intenção, energia capaz de mover as partículas no tempo e no espaço. Mas se não podia estar prisioneiro, pois deixaria de ser onipotente, Deus deveria estar além do tempo e do espaço, alem da matéria, além da energia, além da palavra, além da obra criada como o Universo e Tomizo pela primeira vez olhou para além do espaço cósmico. Viu o VERBO, álavra que expressa ação, ação intencional, livre, criativa, inteligente de Deus.
Nesse momento entrou um cliente. Seu Tomizo, o senhor tem ai um remedinho para dor de cabeça? Tomizo com muita educação, sabendo que nas farmácias da vida só entram pessoas preocupadas com sigo mesmas, com seus dramas pessoais, e só lembram que tem cabeça quando dói, ele foi atendê-lo fingindo mais uma vez, que vive nesse mundo.
Como? Quem? Suspeitaria que aquele homem vivesse em outro mundo cujo espaço de contacto com esse é o balcão de uma farmácia.
O homem atendido pagou o remédio, e agradeceu, mas não olhou nos olhos do velho Tomizo, meu amigo de décadas. Se o fizesse, teria experimentado algo como aproximar os olhos de um binóculo potente, e através dos olhos do velho japonês, veria estrelas movendo-se lentamente em um espaço infinito. Mas isso certamente causaria Vertigem.
Tomizo voltou com um sorriso, para o lugar que ocupa, e onde consome os seus dias, incompreendido pela mulher e filhos, servindo terráqueos que não olham para além dos espelhos de seus armarinhos de banheiro, em busca de drageas.
Wallace Requiâo de Mello e Silva.

Para o G 23.









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