SEMPRE FUI UM TOLO.

Sempre fui um tolo.
Vocês todos sabem, quem tem mãe tem tudo! Minha mãe me chamou e disse: Querido não gostei da sua introdução ao texto do Sylvio você pareceu muito presunçoso. Como você pode dizer que estudou mais que eles, ou que sofreu mais do que eles, e por fim se dizer mais velho do que eles... O que você pretende que pensem que sou centenária?
Respondi: não mamãe eu direi a todos que a senhora só tem 96 anos. Continuou minha mãe: Assim esta bem, você me prometeu que quando eu chegar aos 98 contará os anos decrescendo não é? Sim mamãe faremos isso. Mas, continuou ela, essas suas seduções de nada adiantam, eu não mudarei minha opinião sobre aquela introdução, você quis parecer melhor do que o Veríssimo e o Sylvio. Respondi: Foi mamãe foi exatamente o que eu quis dizer, quis parecer melhor do que eles para que as pessoas se preocupem em ler meus textos.
Ela: Bobagem, você ainda se acha tolo não é? É verdade mamãe, eu sempre fui tolo.
Ela me olhou seria e completou: devia ter batido em seus irmãos quando eles escreveram na parede de seu quarto: “A culpa é do burrinho” (obs.: o Burrinho era eu)... Eles foram muito maus.
Sabem meus irmãos me amavam muito, e davam provas disso todos os dias. Desligavam o fusível do chuveiro elétrico quando eu estava no banho. Prendiam-me no quarto e roubavam minhas roupas para que eu não saísse. Quando eu dormia com a boca aberta dada a uma “dificuldade respiratória” de tanto que esse amor me sufocava, e eles gentilmente a enchiam de mostarda, eram uns amores os meus irmãos.
Hoje, por vezes, eu sinto necessidade de me auto-vangloriar. Não o faço sem base real, tímido e introvertido li o que foi possível ler, estudei um bocado, com os anos aventurei, tornei-me um rebelde, fugi para casar aos 19 anos, e nunca mais botei os pés no chão, ou seja, só o faço para abastecer e decolar novamente. Meu filho acha que é uma opção. Ele diz se consolando: poxa pai, eu não entendo, mas respeito essa sua opção de vida. Eu nunca fiz essa opção, eu queria ser como todo mundo. Encher a boca dos meus irmãos de mostarda, encher a cara deles de bordoadas, desligar o chuveiro quando eles tomavam banho, sair com o carro de papai antes deles, etc. e tal. Como todos sonhei em ser rico, ter um vidão, ser um garanhão com centenas de mulheres babando por mim, ser meio bandido, se possível, como pensa todo adolescente ser homicida resolvendo seus problemas com socos facadas e tiros. Ora eu também quis ser musico artista, viciado em drogas, contestador político, rebelde e desajustado, mas o que eu não posso dizer para vocês, nem para meu filho, é que Deus botou um dedo em minha vida, e me impediu de ser o que eu queria para aos poucos fazer de mim o que ele queria.
Desse modo, dando seqüência as minhas presunções, eu transcrevo esse texto bíblico que me explica, e me justifica diante de minha mãe, meus irmãos, meus filhos e amantes, meus amigos e inimigos:
Carta de São Paulo aos Coríntios: 19 e seguintes.
“Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e anularei a prudência dos prudentes. Onde esta o sábio? Onde o erudito? Onde o investigador desse mundo? Acaso Deus não convenceu de incapacidade a sabedoria desse mundo. Já que a sabedoria desse mundo não chegou a conhecer a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem.
Mais abaixo: Pois o que é tido como loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
E falando aos judeus: Vê irmãos, o vosso grupo de eleitos: humanamente falado não há entre vós muitos sábios, não muitos poderosos, não muitos nobres. O que é incapaz segundo o mundo Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco segundo o mundo Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível ao mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim ninguém se vanglorie diante de Deus (e mais adiante) Quem se gloria se glorie no Senhor.
Ora meus caros leitores, a vida me provou de diversas formas e me convenceu de que sou um tolo. Não persigo as sabedorias mundanas, não tenho e estatus social que se espera de um homem com três faculdades e irmão de autoridades de tanta expressão. Meu carro é velho, não faço o tipo do homem de sucesso, não tenho a garra dos auto-suficientes. Não jogo o jogo da sedução mundana. Sou criticado, caluniado, injuriado, não que os meus irmãos de sucesso também não o sejam, mas a natureza dos ataques à minha pessoa é de fundo religioso, trata-se de ódio á Deus, naquilo que em minha fraqueza eu o represento. Pois quanto mais o homem desaparece, mais Deus e sua obra aparecem. Então eu sou prepotente no Senhor, eu sou vil no Senhor, eu sou tolo no Senhor e eu posso parecer contraditório, querida mamãe, me glorio no Senhor.
Eu amo as mulheres, e as mantenho a uma distância respeitosa por amor de Deus. Eu amo o poder, e o rejeito para que Deus seja poder em mim. Eu tenho preparo e sabedoria do mundo, mas me faço estulto, para que a Sabedoria de Deus flua pelo meu ser imperfeito, frágil, vil.
Sim eu também fui tentado pelo diabo: “Se me adorares vê aquelas cidades, tudo eu te darei”. Que tolo você dirá, eu fui, dizendo não. Acontece que as cidades não lhe pertenciam; vai pula de cabeça no olho do furacão, tentou outra vez, pois está escrito: Os anjos do Senhor te guardarão, e eu, sem coragem, deixei que o próprio Cristo respondesse : NÂO TENTARÁS O SENHOR TEU DEUS.
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