Eu quero com
esse texto demonstrar como a manipulação do sentido das palavras pode
falsificar a história. È por esse motivo que eu amo livros antigos. Hoje nas
escolas começa o articulado propósito de desdocumentar a história ensinando que
livros antigos nada têm a ensinar, que são velhos, desatualizados, ocupam demasiado
espaço, custa caro a sua manutenção, e por esses motivos devem ser destruídos.
São canalhas os que defendem essa posição.
Quando, por exemplo,
estudamos a história da enfermagem, ao encontrarmos a figura de Florence
Nightingale, vemos que os ingleses passam por cima de ordens religiosas
femininas, criadas para cuidarem de doentes, muito séculos antes desta que é
considerada a mãe das enfermeiras. Nunca se fala dos pais de Florence. Dizem sempre
que ela era anglicana (religião oficial do cidadão britânico à época vitoriana
cujo chefe de igreja é a rainha). Omite-se, no entanto, que ela nasceu na Itália,
em Florença, numa Itália Católica e dessa sociedade sofreu influência. Não
somente ela, mas também sua irmã mais velha, nascida em Nápoles. Sua vocação se
define em visita ao hospital alemão Kaiserwerth, um hospital gerido por freiras
católicas alemãs, visitadas por ela em 1848. Nunca se diz, que não ser anglicana
na Inglaterra, era uma traição do cidadão britânico, portanto Nigthingale, não
poderia ser não anglicana. Florence era rica e muito bem relacionada na nobreza
inglesa, como consequência do trabalho de seus pais.
Quando
Florence em 1854 servia como superintendente do Hospital de Inválidos
espalhou-se na Inglaterra os horrores da guerra da Crimeia (Turquia) onde se
combatia aos muçulmanos ( Otomanos). Os soldados morriam como moscas. Ao convite do Ministro
da Guerra inglês ela partiu para Scutari na Turquia. O que ela fez em Scutari,
tornou-se uma lenda. Chamada de “senhora da lamparina” de fato foi de um heroísmo
sem par. Pois trabalhava todas as noites debaixo de luz de lamparinas, cuidando
de soldados feridos. Ali adoeceu de febre tifoide, e teve que voltar a
Inglaterra. Seu principal mérito foi a criação de um método de enfermagem, do
uso da estatística setorial e da criação na Inglaterra de escolas de
enfermagem. Porém chamá-la de mãe das enfermeiras, me parece um exagero
tipicamente inglês para afastar o mérito das diversas ordens religiosas católicas
fundadas para o atendimento de enfermos pobres. Ao morrer com 90 anos de idade já
havia recebido a Ordem do Mérito, o que faz dela cidadã britânica (nascida na
Itália) muito especial. Neste caso, ocorreu algo parecido com o que ocorreu
entre Santos Dumont e os irmãos Wright, venceu a propaganda e a versão dos
poderosos.
Tio Wallace,
texto ditado.
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