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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Creio na comunhão dos Santos


Ai está, um texto indignado, viceral, lúcido e prudente.
Gostei,
Geraldo Azegna


Creio na comunhão dos Santos

“Quando ouço que tantos Cristãos no mundo sofrem, sou indiferente ou é como se sofresse um membro da minha família?” Essa pergunta ecoa com ainda mais força por ter sido proferida pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro, perante milhares de fiéis, neste 25 de setembro.

Nos últimos tempos é raro o dia em que não há notícias de ataques contra cristãos, contra seus interesses, suas casas, famílias e comunidades ‒ e a via por onde tomamos conhecimento desses fatos quase sempre não é a grande mídia.
Notícias da brutal perseguição que padecem os cristãos no Paquistão pelos terroristas vindos da Arábia Saudita, com episódios particularmente sanguinários como o ataque suicida na Igreja de Todos os Santos, em Peshawar, no último 22 de setembro, que matou cerca de 100 pessoas, deixando o dobro de feridos. Notícias da perseguição dos cristãos no Egito, obrigados a fugir, deixando para trás suas casas saqueadas e reduzidas a cinzas pelos jihadistas ‒ que confundem a política norte americana e o ocidente com o Cristianismo. Nesse país, vários mosteiros e templos com séculos de história engrossam a lista dos imóveis reduzidos a escombros. Pelo menos 43 igrejas foram completamente destruídas. Dentre elas, recentemente, uma igreja copta do século IV, dedicada a Nossa Senhora e que estava à espera de ser declarada patrimônio mundial pela UNESCO. Notícias da Síria, como o assassinato de Yohannes, um cristão da comunidade armênia, no caminho a Aleppo, pelos terroristas, que ao revistá-lo descobriram que levava uma cruz sobre o peito: contra ela dispararam ‒ assassinando-o.
No entanto, a guerra global contra os cristãos segue sendo a notícia jamais contada, em pleno século XXI ‒ tempos de fluxo imediato de informação. Porque, afinal, o que sabemos da violenta perseguição que sofrem atualmente os cristãos na Coreia do Norte? Arábia Saudita? Afeganistão? Nigéria? O que sabemos da Igreja que vive escondida no Iraque, na Somália, Maldivas, Mali, Irã, Eritreia, Iêmen, Índia, Síria, China (onde pelo menos 40 bispos católicos estão presos ou desaparecidos)? Acaso tivemos conhecimento dos anos de terror no Camboja? Em 1970, nesse país os católicos eram 65 mil. Depois do massacre liderado por Pol Pot, só restaram cerca de mil. Não sobrevivendo ao extermínio dos Khmers Vermelhos nenhum dos sacerdotes e religiosas cambojanos.
O presidente do Pontifício Conselho para o diálogo inter-religioso, Cardeal Tauran, no último dia do encontro internacional que celebrou os 50 anos da encíclica Pacem in Terris (do Papa João XXIII - em breve Santo), no dia 4 do mês passado, em Roma, reafirmou o clima de perseguição aos cristãos em todo o mundo, declarando os cristãos como “a minoria mais perseguida no mundo por causa da sua fé”. A Sociedade Internacional para os Direitos Humanos (ISHR), um observatório não confessional com sede na Alemanha, afirma que 80% dos atos de discriminação religiosa no mundo de hoje se dirigem aos cristãos. Segundo dados do Center for the Study of Global Christianity, mais de 100 mil cristãos são assassinados por ano na chamada "situação de testemunho" nas últimas décadas. “A cada 5 minutos um cristão é assassinado”, afirmou em Budapeste o conceituado sociólogo Massimo Introvigne em sua intervenção na Conferência Internacional sobre o Diálogo Inter-Religioso, promovida pela presidência húngara da União Europeia. Isso significa que 12 cristãos são assassinados por hora, nos 7 dias da semana e nos 365 dias do ano, em algum lugar do mundo, por razões relacionadas à sua fé.

Tempo dos Mártires
A Igreja, Corpo Místico de Cristo, sempre foi e será perseguida. Ao longo dos dois mil anos, como Esposa, segue, na via crucis, a Cristo, o Primeiro Perseguido. Porém, nestes dois últimos séculos vivemos um tempo de perseguição como em nenhum outro da história. Tal fato é confirmado também pelos três últimos papas. Na celebração do Jubileu do Ano 2000, o Papa João Paulo II afirmou que o número de mártires do século XX superou o de todos os mártires dos dezenove séculos anteriores.
Olhando, portanto, para a realidade dos cristãos no extremo oposto do planeta, nos cabe o questionamento: qual é, por exemplo, o preço em ser cristão na Síria? E qual é o preço em o ser no Brasil?
É certo que no nosso país a perseguição ainda não é "violenta e brutal", mas aqui, assim como na Europa, a situação não é muito melhor. Aqui a perseguição acontece com uma secreta violência muito mais diabólica de quem trabalha para manipular as consciências e para persuadir-nos a nos acreditarmos culpados, dando razão a eles ‒ os perseguidores. É uma perseguição dissimulada que facilmente nos induz a negarmos a nossa fé; que em nome da tolerância e do respeito, a verdade seja calada, escondida; que a religião seja restringida à esfera do privado. É por isso que retiram os crucifixos dos repartimentos públicos como se fossem veículos de indevido e culpável proselitismo. Em substância, embora não em forma, isso é equivalente a uma reivindicação de extrema violência ‒ aquela de erradicar as raízes cristãs que alimentam o povo brasileiro, de fazer com que o nossa sociedade seja descristianizada. Os cristãos são acusados de cultivar valores que não são os “valores da moda”; sofrem discriminação no ambiente acadêmico; se não impedidos, muitas vezes são prejudicados no crescimento profissional; experimentam a intolerância e a arrogância com que se impõem comunistas, feministas e gayzistas que, apresentando-se como faróis de liberdade no mundo moderno, promovem leis contrárias à vida.

Quereis ajudar-nos?
Mostrai a vossa fé e sejais unidos”, assim responde Monsenhor Nona, arcebispo de Mosul, Iraque, na sua carta aos cristãos do ocidente. “Aquele que quiser fazer algo: faça um esforço por viver abertamente a sua fé de uma forma mais profunda, abraçando a vivência da fé na prática cotidiana”.
A fé cristã não é abstrata, não é uma teoria racional, distante do presente e da vida, mas algo a ser descoberto no seu significado mais profundo, na sua expressão mais alta, ou seja, como revelação da Encarnação. De fato, é somente no relacionamento com a pessoa de Cristo que se pode viver nas condições mais terríveis. Escreve Monsenhor Nona: “apenas quando a pessoa descobre essa possibilidade será capaz de suportar qualquer prova e vai fazer de tudo para proteger essa descoberta, mesmo que isso significasse morrer por isso”. “Para nós, cristãos perseguidos no Iraque, o maior presente é saber que podemos ajudar a outros a viverem a sua fé com mais vigor, alegria, confiança e fidelidade”. “Vocês são a nossa voz”, escreve o arcebispo, mas “a melhor coisa que vocês podem fazer para responder à nossa situação é redescobrir e trabalhar pela unidade ‒ pessoal e comunitária”.
No dia 13 de outubro em Tarragona, Espanha, foram proclamados beatos 522 mártires, assassinados por ódio à fé durante a guerra civil espanhola, ocorrida nos anos 30 do século passado, e nesse dia o Papa Francisco exortou-nos a pedir a intercessão dos mártires para não sermos cristãos medíocres. Portanto peçamos a eles e à Virgem Santíssima, Rainha dos Mártires, que nos ajudem a imitá-los. Sempre temos que morrer um pouco para sair de nós mesmos, dos nossos egoísmos, do nosso bem-estar, da nossa preguiça, das nossas tristezas. Imitar os mártires significa colocar Deus em primeiro lugar, superando a tentação de instrumentalizá-Lo, de fechar-se na busca do próprio êxito, prestígio, posição; significa permitir que o Evangelho nos guie e transforme; significa deixar de pensar que somos nós os únicos construtores da nossa existência, reconhecendo que somos criaturas, que dependemos de Deus, de seu amor, e que, sobretudo, perdendo a nossa vida Nele, podemos ganhá-la. Desse modo nos abrimos ao Amor Misericordioso de Cristo que nos leva aos outros, especialmente aos que mais necessitam, apresentando a eles, mais do que com as palavras, com o testemunho concreto da nossa vida, a Misericórdia Divina. 
  
ac


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