A “História
da Filosofia” é pura convenção.
Se vocês
leram o meu perfil, viram que eu sou licenciado em filosofia pela UFPR. Isso
não quer dizer muito, nem o que escreverei aqui é algo novo ou revolucionário
que exija apurada formação como um doutorado ou PHD por exemplo.
Direi coisas
simples, para pessoas simples e inteligentes pensarem e não se deixarem iludir.
Digo isso, pois a massa de “conhecimentos filosóficos” podem reprovar
candidatos em concursos ou em cursos de formação, quando muitas vezes eles não
passam de meras convenções repetidas à exaustão e de valor histórico duvidoso.
Vamos
começar com um exemplo emprestado da cartografia.
Quando
geógrafos, cartógrafos e Kosmógrafos (astrônomos) criaram por convenção o
sistema de coordenadas geográficas, criavam uma realidade técnica, mas não uma
realidade concreta. Os meridianos e paralelos são linhas imaginarias, não
realidades físicas, concretas e objetivas. No entanto essas convenções criaram
uma linguagem única que permitiram em muito o desenvolvimento da navegação
marítima, aérea e espacial. Do mesmo modo, quando por convenção, Greenwich
tornou-se o meridiano zero, isto condicionou a cartografia a mostrar a imagem
99% das vezes de um “mapa mundi” tendo a Inglaterra como centro. Ora isso
necessariamente não precisava ser assim. Poderíamos ver o mundo tendo a Índia,
a Antártida, o Japão como o centro cartográfico. Assim as deformações das
projeções cartográficas nos dariam outra ideia das verdadeiras dimensões
territoriais dos continentes. A Rússia não nos pareceria tão grande. O Brasil
seria graficamente maior que os EUA (o que é real) e outros preconceitos
geográficos seriam derrubados, como o abusivo tamanho gráfico do Canadá, por
exemplo.
Na história
da filosofia, algo de muito parecido aconteceu. Convencionou-se que a
paternidade da filosofia como ciência divorciada da religião teve sua origem na
Grécia Antiga. Assim a Grécia tornou-se o meridiano zero da história da
filosofia, um Greenwich do pensamento filosófico. Com isso temos uma
“linguagem” acadêmica que pode sim ter ajudado muito a entender o pensamento
filosófico, no entanto não representa uma verdade objetiva, nem é fato
histórico concreto e objetivo. Pior, como na cartografia ocorrem distorções
cartográficas aumentando ou diminuindo áreas, na filosofia esse fenômeno
deforma o pensamento sobre a importância e o status de cada escola diante da
visão de historiadores repetitivos de antigos preconceitos.
Por exemplo:
se aceitamos o Greenwich filosófico, encontraremos como lugar comum e marco
zero, o filósofo grego Pitágoras do século VI AC, como autor da palavra
Filosofia, entendida como amigo da sabedoria ( filo = amizade e sofoi =
sabedoria). Aparentemente a filosofia que é a busca da sabedoria e a construção
de cosmo visões explicativas da verdade e da realidade, hoje entendida como
ciência de todas as coisas pelas suas causas mais elevadas, adquiridas à luz
natural da razão, teve outras fontes, outros meridianos zero, outros paralelos
e outras datas, o que enriqueceria em muito a História da Filosofia, e o
verdadeiro registro do pensamento humano.
É obvio que
quando estamos falando em história da filosofia estamos falando do testemunho
escrito destes sistemas filosóficos. Caso contrário estaria falando da
pré-história da filosofia, objeto da investigação histórica que diz respeito à
busca da sabedoria pelos homens de tempos iletrados (de ontem e de hoje), cujas
pistas históricas nos são reveladas pelas ciências investigativas afins, como
antropologia cultural (investigação da indústria humana) a paleontologia
comparada, a arqueologia, o estudo de mitos vivos em povos que desconhecem a
escrita. Nesse período, é obvio existiam filósofos anônimos que contribuíram
para a evolução do pensamento humano. Mas foi justamente a escrita que
determinou a convenção de atribuirmos à Grécia o meridiano zero da Filosofia. Todos
por convenção aceitam a História da filosofia na Idade Antiga período do século
VII AC ao século III AC (tais como: a Filosofia helênica; Pré-socráticos, como
a Escola Jônica, Heráclito de Efeso, Pitágoras, Escola Eleatica e finalmente os
Pluralistas). Pouco depois a filosofia Helenistica-Romana tais como o
Epicurismo o Estoicismo, o Pirronismo, o Cinismo, o Ecletismo e o Neo
Platonismo. E por que o fazem? Pelo conhecimento da língua grega e do latim. E
desconhecimento da língua de outros sistemas como o africano- egípcia
(hieróglifos), o Mesopotâmico (cuneiforme) o Hindu e Chinês (ideogramas). Assim
após o Império de Alexandre e o Inicio do Império Romano que dilatou essas duas
culturas amplamente no mundo conhecido, resultou que o cristianismo e os
amanuenses (* monges católicos) copilaram e arquivaram esses chamados clássicos
gregos e romanos, fazendo deles o Marco Zero, a linha inicial, o Greenwich da
Filosofia. Mas quase 2000 anos antes, muito mais aprofundados no tempo,
existiram sistemas filosóficos complexos, embora desconhecidos dos impérios,
que eram verdadeiras óticas diferenciais do pensamento humano. Contemporâneo da
História Antiga da Filosofia grega, por exemplo, encontramos Buda, na Índia,
como um sistema filosófico complexo que não era religião; embora como Pitágoras
reconhecesse que a Sabedoria é como que a inteligência de Deus operando sobre
tudo.
O
desconhecimento da escrita antiga e a criação dessa convenção do Greenwich grego
afastaram de vez sistemas filosóficos portentosos, ainda hoje pouco estudados
pelo mundo “Ocidental”. Alias, fica aqui a critica, mesmo os autores gregos são
pouco estudados, nós nos limitamos a repetir citações. Você que esta lendo me
diga o nome de três professores de Filosofia que leram no original (escrita
grega dos séculos VII ao III AC) de autores Tales de Mileto, Anaximandro e
Anaxímenes de Mileto, Heráclito, Empédocles, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito,
Protágoras e Górgias, ou Epícuro, ou Zenão de Citio, ou Diógenes ao menos. Não,
eles não leram. Nós não lemos. Mesmo durante o Renascimento os chamados círculos
Platônicos liam traduções da Igreja, que foi quem preservou os textos
clássicos. Não conhecemos o Grego dito Clássico, não temos um preparo para um
estudo linguístico comparado para saber o exato conceito de cada palavra,
portanto repetimos citações sem fim ao sabor das ideologias dominantes do
momento. Nada mais.
Assim
ficaram como que esquecidos de nossas navegações históricas sobre a Filosofia
filósofos como Ptah-hotep egípcio, que viveu a mais de 5000 anos atrás. O autor
anônimo do Livro dos Mortos, os filósofos anônimos da Bíblia, o pensamento
caldeu, o persa, o pensamento hindu dos
Upanishads, os chineses como Teng Shih, Lao-Tze, Mo-Ti, Confúcio (
Kung-Fu-Tze); o que vemos então, e vemos
claramente, que aqui também, embora façamos citações eruditas, praticamente
ninguém estudou os originais desses autores milenares, nos seus conceitos e
significados originais, e cometemos, logo nós que somos amantes da Sabedoria e
da VERDADE, o mesmo erro do superficialismo, e hipocritamente exigimos de nossos
alunos “ verdades decoradas” que sequer nós mesmos, sabemos se podemos tomá-las
como tal. Ou prová-las como fatos históricos.
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