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quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Igreja e a Educação no Brasil.

OBS: Esse texto foi escrito quando eu ainda era Secretário Parlamentar na Câmara Federal. Ele é similar aos outros dois já publicados nesse blog. Se não me falha a memória ele foi enviado ao Núncio Apostólico do Brasil,  durante um Fórum sobre a educação no Brasil e tinha como objetivo manifestar a simpatia do Deputado Federal com quem eu trabalhava, homem que embora não fosse batizado, vinha desempenhando papel favorável na Comissão de Educação. O Texto procurava mostrar o nivel de conhecimento sobre o tema que tínhamos nós da assessoria. Penso que o objetivo foi atingido, embora à época eu não tenha sido designado para acompanhar o Fórum.

Texto:

Ninguém em sã consciência poderá falar em educação neste pais sem ouvir a Igreja. Quando Humberto Grande prefaciou a obra de Alvim Correia sobre a história da educação no Brasil Fez um pálido elogio ao relevante papel da Igreja e suas Ordens Religiosas na educação dos povos da América Latina. Naquele prefácio Humberto nos lembra que os jesuítas foram durante 210 anos os verdadeiros educadores das populações existentes no Brasil.. Acertadamente fez referência ao prejuízo sofrido por esses povos com a expulsão dos jesuítas em 1759, todavia nos deixa a falsa impressão de que com a expulsão daqueles padres haveria acabado a ação efectiva da Igreja no contexto da educação no Brasil, o que não é a verdade. Se houve prejuízo no ensino formal, por outro lado as outras ordens continuaram suas ações missionárias, sempre civilizadoras, e muitas vezes assumiram sim a educação formal. ( dominicanos, beneditinos, franciscanos e mais tarde salesianos).

Essa falsa impressão tem sido reiteradamente divulgada, principalmente por historiadores que aderem, por ideologia, a um velado ataque e critica que pretende atribuir á Igreja culpa e consequencia a um suposto obscurecimento vivido, pela humanidade toda na chamada Idade Média e início da Moderna.

Dois erros graves existem ai. A educação formal não era um ideal coletivo, o analfabetismo era regra geral. E durante esse período histórico a igreja não abrangia a totalidade dos povos, portanto mesmo que ela tivesse alguma culpa, não seria capaz de obscurecer o conhecimento humano da humanidade toda.

Na verdade o fenômeno educacional da Igreja não se restringe a um determinado período histórico e muito menos foi limitado a um espaço geográficos qualquer ( Europa, por exemplo) e sim, com aos séculos atingiu todas as regiões do Globo onde pode alcançar com sua obra missionaria. A Igreja jamais poderá ser acusada de omissão na educação da humanidade.

Quando Jesus Cristo ( ver em São Marcos Evangelista) ordenou aos apóstolos ensinar todos os povos do mundo mais do que caracterizou como essencial a missão pedagógica da Igreja.

A Igreja existe para ensinar, educar moralmente e transmitir com exactidão, sendo assim, enfrentou em todos os tempos as maiores dificuldades metodológicas sistematizando, em vias dr obter sucesso de seu fim missionário, línguas e costumes de praticamente todos os povos existentes. Foi esse zelo que trouxe os Evangelhos ate os anos 1450 entregando-os à obra menor dos evangélicos. Não fosse a Igreja, os evangélicos não conheceriam os Evangelhos. Assim a Igreja na necessidade de comunicar teve sempre o maior interesse em aprender para poder ensinar, ou missionar.

Mesmo autores pouco inclinados à defesa da Igreja como os historiadores Laurent e Michelet foram obrigados diante das evidências a admitir que os hospitais, os orfanatos e as escolas formais como conhecemos hoje são criações da Igreja e de suas Ordens Religiosas,

Lembrando que Bíblia quer dizer" um conjunto de livros", pode-se também dizer que a Igreja teve desde sempre como objetivo, desde os seus primórdios a missão de " Guardar os Livros e a Tradição", uma tendência que se expressará pela história adentro. Não que a Igreja seja autora das primeiras BIBLOStécas ( Bibliotecas) mas guardar e ensinar resultaria em bibliotecas portentosas, e entre elas a primeira que sobressai foi a fundada pelo Bispo Alexandre em Jerusalém no terceiro século de nossa era. Segue-se a de São Damaso em Roma. Ficaram celebres na história do conhecimento humano e das culturas humanas as bibliotecas organizadas nas Catedrais de Chartres e Reins e aquelas que nasceram em conventos como a de São Galo, Monte Cassino, Monte Athos e a de Santa Catarina que isolada no deserto da península do Sião no Egipto preservou um monumental e raro tesouro de cultura. Hoje, negue quem puder, a biblioteca do Vaticano é uma das mais importantes do mundo contemporãneo seja pelo número de impressos e manuscritos que possui, seja pelo valor histórico e científico desses documentos.

Não fosse o zelo da Igreja e de suas ordens religiosas mais antigas, e ate historiadores marxistas admitem isso. dificilmente o mundo seria como é, ou se conheceria nos dias de hoje os ditos clássicos como as obras de Aristóteles e através dele Platão. Julierme, historiador Marxista reconhece que se não fosse a IGREJA mais de 80% do que hoje conhecemos sobre o mundo antigo teria se perdido. Sendo assim tampouco conheceríamos o que hoje conhecemos.

Se assim não foi( lembrem-se que a imprensa não existia), devemos aos manjes copistas ou Amanauenses, que com arte e paciencia copiaram, comentaram e divulgaram os documentos que deram origem a civilização europeia contemporãnea.

Ensina-nos a historia da educação que são quase inseparáveis as noções de educação formal com as noções de leitura e escrita, livros, memória, bibliotecas, e escolas sistematizadas.

Neste último sentido a história irá nos testemunhar como a primeira sistematização de uma vontade governamental dirigida a alfabetização popular, a incomum e fantástica iniciativa do Imperador Carlos Magno que sob a supervisão do monge e sábio cristão Alduino estruturava escolas entre o oitavo e nono século de nossa era. Quem quiser pesquisar encontrará verdadeiras escolas modernas nos mosteiros do décimo século. Depois vieram as escolas Catedralícias anexas às Catedrais e destinadas ao ensino formal complexo.

Jamais se poderá negar e não se pode deixar de lembrar que as Universidades no exato sentido do termo, são filhas da Igreja. O Papa Inocêncio III fundou a Universidade de Paris. É também obra da Igreja, apesar de muitos pensarem ser obras de protestantes, as Universidades de Oxford na Inglaterra em 1168 e a de Cambridge fundadas antes da "reforma". Outros Papas viabilizaram Montepallier, Orleams, Toulouse, Avignhon, Pointiers todas na França. Na Espanha Vallhadollid em 1346 obra do Papoa Clemente VI e posteriormente Salamanca. Em Portugal o Estudio de Lisboa em 1290. O Estudio de Praga em 1347, Heidelberg na Alemanha em 1386. A Universidade de Colônia, obra dos dominicanos em 1388 e Erfurt reconhecida em 1379, uma obra dos Franciscanos. Daqueles anos para cá eu não ousaria enumerar as instituições de ensino de todos os níveis promovidas pela igreja nos cinco continentes. Todos podem testemunhar.

Quem poderá negar portanto o papel da Igreja na educação e na cultura da humanidade? Julgo porém necessário lembrar um outro aspecto esquecido e negligenciado pelos historiadores da educação. é o fato de que as missas em assembleia, enquanto espaço de predicação, veículo de homilias inteligentes é, e sempre foi, uma escola de civismo e moral, que com sua ação ininterrupta desde os primórdios da Igreja  formou a consciência cívica dos cristãos. Ainda que se possa dizer que tais não ensinam a escrever e ler, ninguém poderia negar sua ação civilizadora. E educação é muito mais do que ler e escrever, educar se é aprender a conviver em sociedade em amor e temor de Deus.

Assim concluímos que no Brasil, não haverá verdadeiro debate sobre a educação se não houver o concurso da Igreja pioneira na educação no Brasil. Se isso não bastasse lembramos que em recente pesquisa de opinião pública a Igreja foi apontada como a Instituição que detém o maior índice de confiabilidade popular nesse país, e só isto já a justificaria.

wallacereq@gmail.com.






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