A viúva do Almirante desabafa.

A viúva do Almirante desabafa.

Ney de Souza e Silva, já falecido, era almirante da Marinha do Brasil. História bonita, aos dezessete anos deixou sua cidade natal, a portuária Paranaguá e seguiu ao Rio de Janeiro com o firme propósito de servir a Marinha. Fez carreira, tornou-se Almirante.

Sua esposa, já viúva, resolveu convidar amigas para uma confraternização. Aqueles jantares que reúnem amigas que desde muito tempo não se vêem. A conversa corria franca e fluente como era de se esperar entre mulheres que muito tinham para contar.

Mas eis que chegou o momento de se falar da política brasileira. Como a anfitriã era esposa de um militar de alta patente, alguém resolveu elogiar o governo militar e a revolução de 64. As outras julgando agradar, tomaram as rédeas da conversa e espirituosas mandaram ver com gracejos e comparações com os escandalosos políticos de nossos dias;

Quieta a anfitriã começou a entrar em um estado de nervos, suas mãos tremiam tanto que se podia ouvir o tilintar da xícara em suas mãos; num instante soltou: “Vocês não sabem o que foi o Governo Militar, as injustiças, os crimes, os abusos de poder, a corrupção, a leviandade dos inquéritos, os desaparecimento de pessoas porque alguém tinha convicção de que eram comunistas. Foi uma monstruosidade que se exerceu em nome da democracia que não se exercia em nenhum dos setores da sociedade.” E visivelmente irritada levantando-se se retirou.

Foi um constrangimento geral. As convidadas caladas se entreolhavam sem saber o que fazer. Iam-se embora? Pediam desculpas?

Foi quando a anfitriã voltou carregando uma imensa vasilha com fumegante feijão branco temperado com saborosa carne de animal silvestre. Todas relaxaram. Como é, vamos à mesa?

G23

Moral: A verdade não é motivo para inimizades, a mentira sim.

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