Cidade Industrial de Curitiba
(CIC).
Com a morte de meu amigo
Valter Luis Campos eu precisei acompanhar seus pais ao bairro X que é marginal
a Cidade Industrial de Curitiba. A pessoa que dirigia o carro muito jovem, e a
dona do veiculo, pareciam acreditar que a Cidade Industrial era obra de um
prefeito muito incensado pela mídia local. Não citarei seu nome, nem lhe
desmerecerei os méritos, porém nesse caso encontramos mais um exemplo de como a
mídia desvia a verdade, e como um individuo se deixa “inocentemente” apropriar-se
de obras alheias.
Meu pai foi prefeito em 1951
e já falava da necessidade de se desenvolver o setor industrial da cidade. Isso
porque, em 1943, quando era prefeito Alexandre Beltrão, foi encomendado o
famoso plano do urbanista francês Alfredo Agache, que já previa e localizava o SETOR INDUSTRIAL DE
CURITIBA, como qualquer pessoa poderá confirmar nos desenhos do referido plano
diretor. O “famoso” prefeito tinha então apenas três anos. Na década de 50, com
o problema do fornecimento de energia elétrica e água, a falta de
telecomunicação, e ausência de estradas, projetou-se então, algo absolutamente
racional, criar a infra-estrutura do setor industrial as margens da ferrovia,
em localização em que a predominância dos ventos, levasse a fumaça industrial
para longe da cidade. ( ver História da Curitiba Urbana, edição IPPUC).
Curitiba não tinha uma mentalidade
industrial, portanto esperava-se de estrangeiros a tal iniciativa.
Industrias estrangeiras ou
não, precisam de mão de obra, assim era preciso antes de mais nada concentrar o
foco do projeto em áreas de moradia próximas ao setor, pois como
dissemos, a infra-estrutura ferroviária não se adequava ao transporte de
pessoas. Quando veio o regime militar,
após 1964, o Brasil se viu objeto de grandes investimentos na infra-estrutura
de transportes e mobilidade urbana. Em todo o Brasil se traçava grandes obras.
Em Curitiba haviam projetado as rodovias de contorno à cidade, tudo, positiva ou
negativamente colocando o Brasil de modo a melhor servir o comercio de
potencias estrangeiras. Assim em 11 de novembro de 1966, quando era prefeito
Ivo Arzua Pereira, Castelo Branco veio inaugurar o primeiro conjunto
habitacional do Brasil na CIC, batizado como Villa Nossa Senhora da Luz, (
Jornal Diário da Tarde de 12 de Novembro de 1966) um conjunto que pretendia
servir de “deposito de mão de obra” para futuras industrias do setor. Estava
então habitada a imensa área destinada a ser a CIC, a Cidade Industrial de
Curitiba que ate então era chamado Setor Industrial. Como sempre em nossa
história, ao governo, cabe realizar o mais difícil, arruamento, fornecimento de
energia, escola, saúde saneamento e transporte. Para as industrias somente o
beneficio do capital e da infra-estrutura publica. A Sotec, empresa do avô de
meu filho, teve papel relevante na obra, todavia recebendo em pagamento um lote
industrial na via de acesso ( João Betega), como a promessa de que o tal lote
se valorizaria ate cobrir a divida da prefeitura com a Sotec ( curioso).
As empresas aos poucos se
instalariam com isenções e garantias no fornecimento de energia e água,
empréstimos públicos de longo prazo, incentivos ou isenções fiscais, e nenhum
compromisso social com aquele deposito de mão de obra, quase sempre
desqualificada. Esse deposito cresceria mais de 5.7 % ao ano, sem que a
infra-estrutura acompanhasse o crescimento. Por via da propaganda governamental do regime
militar, foram transferidas para o conjunto CIC em apenas vinte horas 15 mil
pessoas que foram levadas com suas
mudanças para a Vila de um tal modo que Castelo Branco aceitasse e confirmasse
os necessários financiamentos federais. O Povo pobre de todo o Brasil financiaria
assim através desses aportes, a instalação de Industrias Estrangeiras em Curitiba. O tal
prefeito famoso a quem se atribui a obra tinha então 22 anos e era estudante de
arquitetura. Mas porque a fama. Por que lhe atribuem a obra? É que em em 1973,
indicado pelo Major Ney de Amintas Barros Braga, o governo militar empossava
como prefeito esse arquiteto que em 19
de janeiro de 1973 assinava a criação de algo que já existia, e no salão do
antigo BADEP,ocorreu a oficialização publicitária ou formal da Cidade
Industrial de Curitiba. No dia 29 de março de 1973, pelo decreto municipal numero
30, ( preciso pesquisar o seu conteúdo) o tal prefeito limitava em planta um projeto de 1965 que
reservava quase 44 milhões de metros quadrados como área industrial de
Curitiba, apropriando-se assim, como ou sem dolo, da paternidade da CIC. Como
alias muitos prefeitos fazem. Em 1975 a Siemens instalou-se,
sendo essa a primeira empresa de porte estrangeira a se instalar na CIC.
Ao raiar os anos 90, na CIC
haviam 94 conjuntos habitacionais, sendo que muitos eram verdadeiras favelas de famílias que vivem dos restos
industriais ou mesmo apenas do lixo. São mais de 180 000 habitantes na década
de 90 vivendo no entorno dessas fabricas naquilo que se chamou Cidade
Industrial de Curitiba. Beneficio, sim, esta claro. Malefícios? Muitos. Como
essas industrias não absorvem esse contingente de mão de obra, foi preciso
criar linhas de transporte urbano, para que esses homens e mulheres que não
queriam viver do lixo, viessem em busca de trabalho domestico, escola para seus
filhos, saúde, empregos nos serviços e
no comércio. Em muitas vilas não há esgoto, asfalto, coleta de lixo, escolas,
postos de saúde. Embora nestas ultimas duas décadas alguns desse problemas
foram solucionados, a questão social esta longe de ter sido resolvida. A CIC
ajudou a inchar a cidade. Se o tal prefeito não é o autor, também não é o
culpado. Isso é bom, ou mau? É o que é, é a nossa realidade.
G 23 para o Grupo 23 de
Outubro. Cidade Industrial de Curitiba
(CIC).
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