Cidades Imaginárias do Brasil.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Logo depois de ter escrito e enviado aos jornais um artigo titulado “Tribo Negra Pré-colombiana”, caiu em minhas mãos o livro de Joanni Langer, “As Cidades Imaginárias do Brasil” editado pela Secretaria de Estado da Cultura. Livro erudito, de autor paranaense, que deve ser lido.
Não há duvida que seja um texto muito interessante, mas é, a meu ver, influenciado pela leitura psicoanalitica da história, que tenta, também no meu entender, desistimular a esperança arqueológica e a solidez da interpretação do passado, ou no mínimo enquadrar a arqueologia, enquanto ciência, no discurso psicoanalitico - mítico e projetivo o que é absolutamente estéril, pois reduz o mito, a lenda, base inicial da procura arqueológica a uma exteriorização do desejo individual ou coletivo, como se fora uma fumaça. Cria um conflito entre mito e realidade, relativizando a verdade histórica, o que é péssimo, sobretudo para o estudo religioso. O texto fruto de pesquisa, em rica e variada bibliografia, despreza, em favor da hipótese levantada pelo autor, e a realidade concreta da ciência histórica e arqueológica, fazendo mergulhar, a saudável curiosidade humana pelo passado, em um relativismo de imagens construídas mentalmente, fruto do inconsciente. Isso faz ou provoca a destruição ou demolição do contexto dos fragmentos do passado. É uma demolição proposital do passado, para enxertar no presente, agora sim, um novo mito coletivo, o império do símbolo, a negação da base história e das fontes concretas dos valores morais humanos. Relativizando a base histórica das religiões, por exemplo, destrui-se a base dos valores, e nos permite advogar um Ética e um direito consuetudinário, fugaz, mutante, imanente apenas das paixões e instintos humanos, fonte primaria do inconsciente humano.
Bastaria para desmascarar o texto, na sua intenção mais profunda, o estudo arqueológico dos povos de Guairá, por exemplo, hoje reduzidos a ruínas ou soterrados e destruídos pela natureza, ou ainda destruídos pelo trabalho ambicioso dos homens, conforme, muito melhor do que eu pode falar Igor Chmyz ou a historiadora Chirtina Kluppel ambos da UFPR. Das treze “míticas” reduções, e vilas espanholas construídas no Paraná, foram encontradas, concretamente, até hoje, apenas três vilas espanholas em solo paranaense, e duas reduções jesuíticas. Há muito por fazer. Muita história para revelar ou comprovar.
Poderá parecer ao homem moderno que o passado já está revelado e que não há mais nada de novo a descobrir, mas vejam que em 17 de agosto de 2004, no Estadão lemos: “Novas ruínas são descobertas na proximidade de Lima no Peru a 2800 metros de altura. Uma área de 90 km quadrados (1/3 do município de Curitiba) de rico sitio arqueológico composto por torres, muralhas, praças e aquedutos, que se supõem representativos da cultura chachapoya”. É surpreendente. Mais uma preciosa peça para o mosaico americano.
Mais do que isso, vejam que, o mito (a história imaginada) da cidade bíblica, a mítica UR da Caldeia de onde teria vindo Abraão, perdida no tempo e na fantasia humana, permitiu, pelo mito bíblico, (pista mítica ou lendária) a sua localização precisa em 1946 por Wooley, ou ainda, o Império do rei Mari e sua biblioteca cuneiforme, também descrito na Bíblia, considerada uma estória da carochinha, foi descoberta pelo tenente francês Cabane em 1933 quando construía uma estrada de ferro. Esses fatos revelam que ainda há muito mistério a ser revelado no mosaico da história da humanidade. O mito (a imaginação dos relatos espanhóis e índios) da cidade proibida do Inca permitiu a descoberta de Machu Picchu, pelo professor Hiran Binghan em 1911 nos Andes. Hoje, arqueólogos italianos descobrem outra civilização enterrada no deserto de Nazca, seguindo pacientemente o mito de um túmulo “inventado” com suas ricas múmias e seus objetos de ouro ou prata, e que lá estava verdadeiro, real, soterrado e concreto. Sim, em Nazca no Peru para quem quiser ver. Nazca palavra que quer dizer “Origem” ou “Nascimento”, ressurge abrindo novas e revolucionarias teses sobre as populações pré-colombianas na América e o seu surgimento ou origens. Eu tive a oportunidade de ir visitar as ruínas em 1988 e também o museu das múmias, que foram encontradas intactas e estavam soterradas abaixo de outro tesouro e mistério arqueológico, as linhas e desenhos gigantes do deserto de Nazca.
A maior pirâmide do mundo estava também soterrada sobre um Mosteiro Cristão, e todos imaginavam que era uma montanha natural a sua base, e nem, por meio de fotos de satélite teria sido encontrada ou revelada, não fosse a perseguição fantasiosa de um mito, perseguida por um monge teimoso.
Copan, a cidade perdida Maia, em Honduras, na América Central, foi encontrada, seguindo-se uma lenda indígena como nos canta a obra “Deuses, Túmulos e Sábios”. Da mesma forma o Império Perdido de Angkor Vat, no Cambodja, foi descoberto pelo caçador de borboletas Henri Mouhout em 1861.
A epopéia de Thor Heyerdal na ilha da Páscoa em 1950 é também outro exemplo. As ricas “Portas de Ishtar”, a cidade mítica, da mesma forma, foram encontradas por Koldwey na Babilônia. A descoberta das dágoras do Ceilão e as ruínas da Mesquita chinesa de Uzbequistão e a estrada dourada de Samarcanda, foram também encontradas seguindo essas “invenções”. Keller em “A Biblia Tinha Razão” nos relata muitas dessas descobertas fundadas na pesquisa de mitos como, por exemplo, a descoberta arqueológica de Jaran e Nejor cidades bíblicas citadas em Gênesis 11, 31 e Gênesis 24, 10 respectivamente. Algo como se dissesse: “Onde há fumaça há fogo, vale a pena procurar”. Do mesmo modo Kaj Birket- Smith nos introduz em um mundo de informações curiosas sobre as ruínas americanas, maias, incas e astecas em seu livro “Historia da Cultura”. Como vemos, muitos viajantes antigos devem ter conhecido e testemunhado verbalmente ou por escrito, esses lugares, e narrado com imprecisão cientifica casos fantásticos, que podiam parecer, para muitos, invenções, lendas, ou mitos. A negação tem maior força psicológica que a projeção.
Assim foi com Marco Polo.
Mas e as ruínas brasileiras?
Quanto aos mitos de cidades perdidas no Brasil, há de se ler o livro de Joanni Langer, e dele copilarem a lista de noticias, as pistas, e montar pacientemente, ao menos como inicio de investigação, o quebra cabeça histórico, montando um mosaico comparativo e sinóptico, de modo a fazer voar a imaginação e motivar a descoberta concreta, revelando o escondido pelo tempo.
Eldorado a cidade de ouro na floresta Amazônica; Maiandena a cidade submersa; a cidade abandonada da Bahia; o Império Amazônico de Raleigh; Atlântida na selva, o mito de Fawcet e tantas cidades e noticias históricas como a tribo negra encontrada antes da vinda dos negros para o Brasil, testemunhada pelo capitão espanhol que viajava com Cabeza de Vaca, no sul do Brasil, tribo de homens barbados que construíam suas casas em pedra, e outras inúmeras possibilidades e estímulos para a leitura e pesquisa de campo. Onde há fumaça há fogo, já “dizia” o velho vulcão Vesúvio antes de soterrar Pompéia, e antes dela, muitas outras cidades “Míticas”, umas sobre as outras como um folhado de maçã ao forno. Imagem que para os psicanalistas, talvez, denuncie uma imagem “símbolo” do “pecado cozido”, não ao forno, mas pela coletividade soterrada, pela angustia calorosa, que causa a revelação e a consciência de um preciso e objetivo passado. Povos há que acoados pela revelação de seu passado, adorariam que tudo não passasse de uma projeção, uma invenção, um símbolo da realidade, uma “história psico analítica”. Uma fantasia da mente humana. Mas a História aos poucos se impõe, e aos poucos revela a verdade escondida.
Wallace Requião de Mello e Silva.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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