Luiz Alberto Lopes, Escultor.
Wallace Requião de Mello e Silva (Psicólogo). Em 15 de Abril de 2007.
José Blegèr[1], psicanalista argentino, foi o primeiro a tentar uma analise institucional. Sua teoria acredita que as instituições, enquanto obra humana repete os mesmos mecanismos inconscientes de defesa do indivíduo, segundo os conceitos de Anna Freud[2], permitindo a analise institucional, com os mesmos métodos da pratica psicanalítica. Como a Educação, a Arte, e a Psicologia, enquanto ciências do homem concorrem para um ponto comum, ou seja, desembocam num estudo do homem que as produz, pode-se, criteriosamente, falar em psicologia das instituições, da educação, da arte, da psicologia. É diferente, portanto da aplicação dos conceitos e técnicas da ciência psicológica, seja na arte, na educação e na ciência psicológica, mas é uma analise cientifica da Psicologia, da Arte, e da Educação enquanto ciências (instituições) a serviço do homem.
Essa aproximação de objetos, quase uma mistura dos objetos científicos da arte, da educação e da própria psicologia, tem confundido os estudantes, e em certa maneira até mesmo os docentes. O tema é bem complexo[3], e exige alguns estudos introdutórios, sem os quais, o estudante se perde.
Aparentemente a Arte, a Educação e a Psicologia enquanto ciências, querem, sendo obras humanas, produzir um homem melhor, todavia, o homem, sim o homem, produtor dessas ciências nem sempre quer um homem melhor, muitas vezes por impulso incontrolável quer a destruição do homem, ou de outros homens, e faz disso, uma sutil instrumentalização da arte; da educação, e da psicologia (manipulação dos invisíveis), utilizando essas ciências (ferramentas) para obtenção de êxito de seus impulsos de morte. Ou seja, a arte enquanto preparo da morte e educação para a morte, é ciência da vida. Ou seja, o homem, enquanto agente da ciência, também produz uma ciência e uma arte do “Mal”, negativa, destrutiva, pois o homem não esta livre das suas contingências e de sua transitoriedade. Uma delas, por exemplo, em nome da sobrevivência (individual ou coletiva), oscila na bipolaridade entre matar e morrer. Destruir ou preservar. Afastamos de nossa mente, (para um “inconsciente” moral), por exemplo, que matamos vegetais e animais (entre eles o homem), para viver, e a vida, tão defendida e romanceada, assim, se mostra bastante cruel, escondendo os impulsos de dominação egóica, social ou racial. Destruímos valores morais que fortalecem o próximo, no intuito de enfraquecê-lo e destrui-lo. O fenômeno se repete na Educação e na Arte.
José Carlos Rodrigues em seu livro “Tabu do Corpo”, editora Achiamé, à página 159 diz: “Há no organismo, forças controladas e forças que ignoram o controle social e o ameaçam. (...) É preciso compreender, porque na perspectiva que estamos adotando, compreender o que uma sociedade não quer ser (nega ou esconde) é tão importante como compreender o que ela é (afirma ser): é impossível, portanto, compreender o que é permitido, sem que se compreenda o que é proibido”. Admitimos, portanto, como hipótese, que o mesmo se aplica a Educação, a Arte e a Psicologia. Na perspectiva de Anna Freud podemos dizer que o “inconsciente” abriga em nós, um “Inferno” que costumamos ver no outro. O “inconsciente” do outro é visível para nós, ou seja, reconhecemos a “Natureza Humana” no outro que é estranha, de modo geral, aos homens, e por eles negada naquilo que Rodrigues entende como “Tabu do Corpo”. Nesse sentido, podemos recorrer aos conceitos iniciais da ciência psicológica[4]. Ora, psicologia[5], essa palavra composta fala de borboleta (arrasto, casulo, vôo suave, planeio e morte) e lógos, do grego, significando estudo, portanto, estudo do planeio do homem do inferior ao superior no vôo anímico em comunicação interna. Alguns a traduzem como estudo da alma (psique). Na verdade, a alma esse “invisível”, tão característico do ser humano, sem o que não o compreendemos, tem em sua etimologia o sentido de vento (espirito em latim significa aquele que sopra), sopro (alma, em hebraico, significa sopro ou hálito), e personalidade, (significa aquele que soa, sopra, pela mascara, “per sona ou soa” através da carcaça) ar modulado, invisível elemento, porém indispensável para a vida e para a comunicação da e na vida. (o homem carnal e o homem espiritual habitam) Mas se o corpo fala pelas cordas vocais pela modulação do invisível, também fala pelos movimentos e expressões do visível. Numa maneira consciente ou inconsciente. (ações voluntárias da vontade educada, ou ações involuntárias da vontade do corpo). E as Instituições se revelam também pelas atitudes, objetivos e limites, de maneira voluntária e involuntária, pois ampliam o homem ao mesmo tempo em que os contêm. Os fenômenos psíquicos invisíveis, tornados visíveis e audíveis, são indispensáveis para a compreensão dos homens em comunicação. E a “personalidade” das instituições, possa sim, igualmente se tornar visíveis e audíveis pela ciência, das “in”- tensões. José Ângelo Gaiarsa, psiquiatra paulista, desenvolve muito bem essa conceito em seus livros “O Corpo” [6] e em “A Estatua e a Bailarina” e José Blegèr em “Analise Institucional”. Assim, a Psicologia aparece como ciência do invisível[7], (fenômenos psíquicos, ou melhor, a arte, a arte de tornar visível ou invisível as verdadeiras intenções do homem ou grupo de homens / Psicologia Social/ Antropologia Social/ Analise Institucional / Analise Transacional etc.), ou seja, para o nosso assunto, aquilo que estamos tratando aqui, a Psicologia da Educação, mostra-se como a analise do invisível na Educação, na Arte, e na própria Psicologia enquanto objetos da Educação. Analise esta, procurando revelar o que está por detrás da Educação, da Arte, e da Psicologia enquanto ciências a serviço das intenções humanas esbarrando no objeto da Sociologia, mas diferindo no método. Quais as intenções (tensões internas) “invisíveis” do homem enquanto agente de tais ciências, e delas criador, e do papel das ciências em si, enquanto instituições, criadas como instrumentos dos homens na luta pela construção e destruição da vida individual e coletiva? O sopro, a alma, o espirito destas ciências, seu discurso consciente e sua inconsciência em linguagem revelável pela psicologia. O óbvio, aqui, já vai se revelando. A Arte, a Educação e a Psicologia, como todas as demais ciências, reproduzem os mesmos mecanismos de defesa (e, portanto de ataque) que regem o comportamento humano. Flutuam entre o amor (impulso de vida = Eros) [8] e o ódio (impulso de morte = Thanatus), lembrando que por vezes o amor é ódio, e o ódio, outras vezes, amor (intra e extrapsíquicos obviamente).
Vejamos: a Arte, enquanto conceito, muitas vezes é entendido como a maneira de fazer uma coisa com perfeição. (arte de matar, caçar; ou a arte de cozinhar, fazer da morte vida). É também entendida como modo de fazer e obter êxito (disfarçar as intenções, e controlar as contingências, na arte da sobrevivência[9]). Por ultimo, é também entendida como expressão de um ideal de “beleza” nas obras humanas (idealização, ou espiritualização). Assim, podemos entender que há arte na Educação e na Psicologia, e arte na Arte. A Educação por sua vez é a arte, ou ação com arte, de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais do indivíduo em sociedade (controle do corpo, comunicação e intenções), ou seja, transmissão de conhecimentos de práticas sociais (autocontrole) que permitem a civilidade e a compreensão dos valores que se vive em um dado tempo e sociedade. A Psicologia, se a reduzirmos ao seu conceito principal, nada mais é que o estudo cientifica dos fenômenos psíquicos (in-tensões, tensões internas (intenções) anímicas reveláveis) nos homens e nas instituições. Ora, sendo assim, em redundância, voltamos ao tema, inicial, sendo a Educação, a Arte, e a própria Psicologia exteriorização de fenômenos psíquicos do homem, portanto a Psicologia da Arte, da Educação e da própria Psicologia, é o estudo dos invisíveis (fenômenos psíquicos) que “determinam” ou animam a Arte, a Educação e a Psicologia enquanto ciências[10].
Após Reich, e Piaget, ocorre uma reedição “corporal”, material, concreta, dos invisíveis dos homens e das instituições, ou seja, o invisível, o “inconsciente freudiano” é visível no outro, seja, enquanto indivíduo seja, enquanto instituição. Tornar visível a luz interior da Arte e da Educação, suas intenções, e mesmo torná-las visíveis na ciência da Psicologia é o objeto da Psicologia da Educação. Essa visibilidade, ou como queiram essa “iluminação” do objeto em estudo [procurando o oculto], nos revelará, como, e de que maneira, se polarizam os impulsos destrutivos e construtivos dentro das ciências do homem, e pelo homem, na ciência do sentir e coexistir no mundo físico, segundo o sopro do espirito anímico, que mantém viva a vida, à custa da morte, sob o testemunho silencioso da luz (há vida há calor, há calor há movimento, há calor e movimento... há luz, parece que a vida tem origem (na luz ainda inconsciente) e inclina-se para a Luz consciente, ou seja, a vida procura a consciência de si mesma, ou procura a Luz que a criou).
Já a Psicologia na Educação estaria orientada pela Epistemologia Genética de Piaget nas diversas fases do desenvolvimento infantil e adulto. Na Psicologia Diferencial (Anna Anastasi); nos estudos da Fisiologia da Percepção (Georg von Bekésy); na Percepção das Formas (Robert Fantz); na Psicobiologia e biotipologia (Normann Weinberger); na Fenomenologia da Memória (Pureza Vanthier); na Analise do Caráter (Reich); na Psicologia do Comportamento (teoria do reforço de Skinner); nas teorias da Vocação Educacional e Profissional (Mira y Lopez e Paul Kline); nos testes de avaliação do potencial ou habilidades sócios emocionais (Béla Székely e vários autores); nas teorias da Inteligência Emocional; nas Teorias Cognitivas, na Psicomotricidade e seu desenvolvimento (Flinchum & Le Boulch); na estimulação sensorial precoce; na dinâmica de grupo (Lauro de Oliveira Lima), no Psicodrama (Moreno) e na expressão corporal. Obviamente tudo submetido pelo poder dos homens uns sobre os outros, num jogo de luz e sombra, como nos parece dizer Fritz Perls em “Dentro y Fuera del Tarro de la Basura”, Editorial Cuatro Vientos; Buenos Aires.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Psicólogo
Luiz Alberto Lopes
Escultor.
[1] José Blegèr, em Psicologia Institucional, Buenos Aires.
[2] Anna Freud em Mecanismo de Defesa do Ego.
[3] A Sociologia da Arte de Jean Duvignaud; Editora Forense & Tabu do Copo de José Carlos Rodrigues Editora Achiamé.
[4] La Psychanalyse par Daniel Lagache Presses Universitaires de France.
[5] Psico = alma; espirito: em radicais gregos, Gramática da Língua Portuguesa de C. Ferreira da Cunha.
[6] O Corpo de José Angelo Gaiarsa; Editora Brasiliense.
[7] Em “O Inconsciente” de Macintyre Editorial Presença.
[8] Em Eros e Repressão de Rollo May, Vozes.
[9] Em “A Simulação na Arte da Sobrevivência” de José Ingenieros.
[10] Em “O Eu Desconhecido” de Carl Jung; Editora Fundo de Cultura, Rio de Janeiro.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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