A Soja Transgênica ou geneticamente modificada (I).
Wallace Requião de Mello e Silva.
O assunto é vasto e complicado. Uma serie de bons artigos podem ajudar. Existem mais de nove mil sites na Internet sobre o assunto. Tomo para base nesse primeiro artigo um estudo assinado por Luiz Carlos Balcewicz, engenheiro agrônomo e professor na FAMEC, e Ralfy Karly também engenheiro agrônomo formado pela PUC do Paraná. O trabalho é denso e sugere muitos assuntos sobre o tema transgênicos. Trata-se de um comparativo entre a produção da soja tradicional (natural) no Paraná e a soja transgênica em Iowa (EUA). Em linhas gerais o trabalho conclui que o produtor de soja brasileiro leva vantagem em relação ao produtor dos EUA. Essa opinião eu já houvera ouvido do presidente do CREA PR, quando em entrevista na Radio Paraná Educativa , no dia 28 de Fevereiro de 2004, afirmava que nós, no Paraná, produzimos, com liberdade, mais soja por hectare do que o produtor norte americano. Dizia também, que desenvolvemos aqui uma tecnologia de plantio, defesa e colheita altamente produtiva que resulta em uma soja competitiva no mercado internacional.
Posto isso, vamos lembrar o que é a soja transgênica. É um organismo geneticamente modificado (OGMs) também denominado planta transgênica que possui além de seus genes naturais, outros, introduzidos artificialmente de outro organismo vivo, oriúndos de outra planta, bactéria ou até animal. As plantas manipuladas têm suas características alteradas, possuem patente genética requerida e proprietário da patente (a semente transgênica tem dono, cujos direitos vão muito além do direito de venda das sementes, no Brasil, previamente garantidos pela lei de Cultivares). Como se vê, a orientação fundamental desse tipo de pesquisa genética é garantir em primeiro lugar a propriedade do organismo, e secundariamente apresentá-lo ao mercado como uma alternativa de reduzir custos de produção em um modelo comercial econômico. Toda a mídia paga foi preparada para introduzir no Brasil a “dependência da soja patenteada”, a exemplo do que foi feito no Rio Grande do Sul, que no ano passado não exportou um quilo sequer para o mercado europeu ou na Argentina.
Todavia, prudentemente, os autores acima citados fazem notar; “Atentos à resistência dos consumidores europeus e do extremo oriente, os produtores norte americanos começam a dar sinais de que estão perdendo o entusiasmo pelo cultivo de produtos geneticamente modificados. O movimento começou a ficar mais evidente já no ano de 2000 quando o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) apurou que as lavouras de transgênicos recuaram em relação às media anteriormente plantada. (omito os dados comparativos). Outro fator a destacar (continuam os autores) é que os agricultores dos EUA também se sentem atraídos pelos prêmios que os países importadores estão dispostos a pagar na compra dos grãos naturais (tradicionais). De acordo com o diretor do Conselho Agrícola do Condado de De Kalb, em Illinois, no chamado cinturão do milho, o grão não-trangênico está recebendo de 4% a 5% a mais no preço, quando destinado a exportação para o Japão e Taiwan, sendo que a soja chega a obter prêmios de 5% a 10%, e pode aumentar (Bueno 2001)”. Finalmente o custo de produção, no item agrotóxico, segundo a USDA, fica em apenas 2,5% em favor da soja transgênico (Blecher, 2001).
No Brasil, não há o repasse desse aumento de preço para o produtor agrícola, diluindo-se as vantagens destinadas ao produtor, entre os agenciadores, nos diz Júlio Balico, agricultor na região de Nova Aurora no Paraná.
Quero lembrar que, além do glifosato, pós-emergente, necessário às plantas transgênicas, que é proibido no Brasil, a planta modificada geneticamente é um híbrido, ou seja, depois do primeiro plantio, não se pode tirar dela semente economicamente viável. Isso contradiz o bom senso bíblico, sabedoria hebraica, que manda separar as melhores espigas do milho e do trigo, quiçá também da soja, para serem sementes, as outras, as que sobram, destinam-se para o uso cotidiano. A ganância quer diferente. A patente quer exclusividade. O dono da patente quer lucro. E o mercado de sementes que vê serem reduzidos os produtores nos EUA, quer vender sementes e fertilizantes e defensivos em outras paragens que ainda não definiram bem suas posições. Se a monocultura é um perigo, no mundo todo, pois escraviza a produção aos caprichos de uma flutuação de mercado de um único produto, (e é um perigo para o equilíbrio ambiental) mais ainda é perigosa sob o ponto de vista econômico se for dependente de uma semente modificada e patenteada. Estou errado? Que vantagem nós levamos? Vejam o caso da Argentina onde os fazendeiros abandonaram outras culturas para perigosamente gerar uma escassez de alimentos. Aos poucos as áreas de outras culturas foram sendo substituídas pela soja. Por exemplo: arroz diminuição de 44,1%; Milho diminuição de 21,2%; girassol diminuição de 34%; trigo diminuição de 3,5% e o exagerado aumento da soja em 74%. Isso significou mais de 100 milhões de litros de glifosato, e tal envenenamento do solo esta alterando a microbiologia do solo. Fungos, lesmas e caracóis proliferam. Também outras espécies de plantas resistentes ao glifosato começam a proliferar sem controle, exigindo outros poderosos venenos (sempre lembrar que um herbicida é um veneno) como o paraquat (Gramoxo) e o atracine (Gesparin). Além do que a provas de que o glifosato esta interrompendo o processo natural pelo qual a soja capta nitrogênio do ar (www. cartacapital. com. br) .
Se nós temos maior produção por hectare, com uma soja tradicional, fértil, sem os riscos acima, que nos garante liberdade de plantio e saúde, sem pagar royalties, e que nos garante, além do mais, mercados como o europeu, a China (dois bilhões de consumidores), a Índia, Japão e Taiwan? Não vejo a vantagem.
Acontece que como denuncia a revista “Carta Capital” de 31 de Março de 2004 existem financiamentos facilitados para pacotes de apoio a trangênia (chamados pacotes tecnológicos), que envolve desde os empréstimos em banco, ate sementes e herbicidas. Ou seja, o interesse é dirigido. Uma saída para o nosso governo seria também premiar o plantio da soja tradicional, como propôs o produtor de sementes, Júlio Balico, no Paraná. Assunto para a Secretaria de Agricultura do nosso estado.
Acrescento ainda dados do trabalho que demonstram que a semente da soja tradicional custa 40% mais barato do que a transgênica nos EUA.
Nem mesmo a produtividade justifica, pois segundo a Universidade de Wisconsin (citação do mesmo trabalho à pág. 8) a melhor variedade de soja transgênica produziu 3,4%, naquele estado, (três vírgula quatro), menos soja que a melhor variedade de soja convencional. Num comparativo entre as cinco melhores variedades, a transgênica produziu em media 3,5% (três e meio por cento) menos que as variedades naturais. Lá, nos EUA, eles querem retornar à soja, aqui queremos introduzir os transgênicos. Em nome de que? Em nome, tão somente, da tecnologia dos capitais, é a minha primeira impressão.
No próximo artigo vou demonstrar como os grupos que produzem sementes (Monsanto; DuPont; Bunge Y Borg; Louis Dreyfus e ADM) também exploram o mercado de commodities, seguros, industrialização, silagem, portos e, como era de se esperar, também manipulam internacionalmente o comércio de futuros através de bolsas internacionais de mercadorias e futuros. Os grãos já não são apenas alimentos, mas são sobretudo moedas infladas artificialmente para mais ou para menos, conforme a conveniência em um mundo dos “agronegócios”. Uma moeda emitida não por um país, mas por um laboratório genético, como parte de um pacote tecnológico de dominação.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Pesquisa & texto.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
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