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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma personalidade surpreendente.

Dr. Justiniano de Mello e Silva.

Todos conhecem o adágio: “Santo de casa não faz milagres”. .
Parece que Justiniano, e eu, somos “santos de casa”, e não conseguimos vencer as “Resistências” que condenaram o enigmático Dr. Justiniano ao esquecimento e a incompreensão.
Desta feita, farei o inverso. É obvio que todo bom livro de História trás algum testemunho biográfico ou resenhas sobre personagens da vida nacional, portanto as pessoas se interessam sim, tanto pelo passado, como pela história, muito mais, quando pesa sobre uma dada personalidade o interesse de gerações. Mas nesse artigo eu escrevo especificamente para quem se interessa pela História da Imprensa no Paraná.
O Dr. Justiniano, não é uma pessoa importante na família e para a família, é uma pessoa importante na história do país, um farol, um militante da imprensa nacional, um etimólogo e filólogo, um especialista em história antiga, com artigos publicados no Recife, em Aracaju, em Curitiba, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Córdoba na Argentina. Foi Secretario de Estado no Paraná, deputado algumas vezes, e declinou de ser o Presidente da Província do Maranhão para onde fora indicado.
Então, se é assim, me diga: quem, fora do âmbito familiar, dá algum testemunho do saber desse sergipano e curitibano por opção?
Podemos começar por Osvaldo Pilotto (em Cem anos de Imprensa no Paraná), Ernani Costa Straube (Em “Do Licêo de Coritiba ao Colégio Estadual do Paraná”) David Carneiro pai; deputado Alencar Guimarães (em Anais da Câmara Federal, 1905); Ermelino de Leão, Darío Velozo, Leôncio Correa, Albino Silva, Domingos Nascimento, Silveira Neto, Antonio Braga, Emiliano Perneta, Candido Lopes (proprietário do 1O jornal do Paraná, já havia falecido em 1871, portanto o famoso jornal deveria ser dirigido por Jesuíno Lopes, quando Justiniano ali escreveu. O Dezenove de Dezembro funcionou até 1897), Rosy de Sá Cardoso, Maria Nicolas, Julia Wanderley Pretrich, Cecília Westephalen, Temístocles Linhares. No Sergipe o escritor Jeson Barreto, o jornalista Acrísio Torres (Gazeta do Sergipe 31 de Maio de 1977), o historiador Luiz Antonio Barreto (em Apologia de Deus e Outros Escritos Sergipanos), o histórico e famoso, deputado federal Fausto Cardoso (Jornal do Sergipe 16/11/1905) e o escritor Rollemberg Dantas. Em Pernambuco o famoso escritor Sylvio Romero que escrevia com Justiniano no jornal “A Crença” do Recife. No Rio, o célebre Jackson de Figueredo (em “Inquietação Moderna”, 1922, Editora Centro Dom Vital). Em Porto Alegre e Córdoba, fico devendo, infelizmente ainda aguardo correspondência de pesquisa que encomendei. (Centro de Estudos do MERCOSUL e Biblioteca Publica de Porto Alegre).
Dr. Justiniano de Mello e Silva cursou Direito, no Recife, e Ciências Sociais em Córdoba na Argentina, (1875 outra vez o problema de datas). Foi lente de inglês no Ateneu Sergipano, Diretor do Ginásio Paranaense e do Instituto de Educação, Inspetor Geral de Ensino Público, Secretário de Educação no governo de Lamenha Lins, deputado em (4) legislaturas, funcionário do Ministério da Fazenda na Diretoria de Rendas Internas no Rio de Janeiro. Faleceu em Colatina no estado do Espírito Santo. Estava cego. Colaborou com o jornal “A Arte”, um periódico publicado pela Escola de Desenho Arte e Pintura de Antonio Mariano de Lima (1888) onde escrevia com Pâmphilo de Assunpção, Emiliano Perneta e João Pereira Lago. Colaborou com a Revista Azul (1892) de Leôncio Correia, onde em diversos números publicou a serie “O amor materno e a educação dos instintos”. Foi o iniciador da cadeira de Pedagogia no Paraná (ver Maria Nicolas, em “Cem anos de vida parlamentar” pg. 130). Fundou redatoriou e bem orientou no Paraná, alguns jornais: segundo Oswaldo Pilotto: O 25 de Março (1876) ; O Paranaense (1879); O Jornal do Comercio (1883); O Sete de Março (1886/90). Além de matérias esparsas, deixou ainda: livro de poesia; Leis da Educação; Direito Constitucional; História da Revolução no Paraná (1894); Fetichismo e Idolatria; e um tratado filosófico-hitórico; em dois volumes, mais de 1400 paginas, obra muito curiosa que venho me preparando para bem interpretar. Sua mais importante obra foi “Nova Luz Sobre o Passado”, (Imprensa Nacional, Rio, 1905), cuja obra no original foi uma das ultimas paixões de Paulo Leminski que a encontrou incompleta na biblioteca do Instituto Neo-pitagórico em Curitiba.
Atualmente eu estou estudando essa obra complexa e surpreendente.
Recentemente o Governador Requião localizou os manuscritos originais do segundo volume, que ate então, se acreditava estavam perdidos no incêndio ocorrido na Imprensa Nacional, do Rio, em 1906.
É Ermelino de Leão, e posteriormente Maria Nicolas que registram sua passagem pela imprensa gaúcha, cujas provas textuais, eu ainda estou pesquisando. Seu diploma da Universidade de Córdoba encontra-se em Curitiba em poder de parentes: “Doutor em Ciências Sociais e Jurídicas, 1875”. Era membro do Colégio Abolicionista Paranaense, cujo discurso histórico está registrado no Boletim do Arquivo Publico do Paraná. A professora Julia Wanderlei nos conta que foi ele, no comando da educação do estado, que autorizou às mulheres a matricula no curso “Normal” anteriormente somente reservada aos homens, em resposta a uma solicitação dela, Julia Wanderlei, e de outros professores, que como ela, tinham sido seus ex-alunos (1890?) (Aqui há uma dificuldade, seguindo Ernani Straube em 1890, era inspetor geral de ensino o Padre Alberto José Gonçalves, Justiniano ocupou, pela segunda vez a posição, somente em 1891/92, a primeira em 1876). Foi seguramente um defensor da Escola Publica. O Historiador David Carneiro, pai, foi deputado numa mesma legislatura que o Dr. Justiniano. A intelectualidade paranaense muitas vezes não tinha outra fonte sobre a História Universal se não as aulas, a biblioteca e os artigos do Dr. Justiniano.
Dr. Justiniano foi Fundador do Partido Operário do Paraná, o primeiro partido Operário do Brasil, cujo estatuto foi publicado no jornal Sete de Março de 28 de Junho de 1880 no número 113.
Foi poeta simbolista. Publicando em “O Cenáculo” e recebendo critica consagradora de Andrade Muricy. (fonte Gazeta do Sergipe 15 de Dezembro de 2003). Também pudemos encontrar em Serafim Vieira de Almeida (Antologia dos poetas Sergipanos 1939) pequena biografia de Justiniano. Já o autor Sylvio Romero, em “Parnaso Sergipano”, procurou classificar Justiniano entre os “condoreiros” somando-o aos célebre José Jorge de Siqueira e Pedro Moreira.
O mais curioso é a afirmação encontrada no “Diccionário Bibliographico Brazileiro” (como era a grafia original), edição de 1899, (mil oitocentos e noventa e nove) , volume V pagina 273/274 de Augusto Victorino Alves Sacramento Blake, que diz textualmente: “Justiniano de Mello e Silva: Filho do advogado Felix José de Mello e Silva, o antigo secretário de Frei Caneca, na patriótica revolução pernambucana de 1817, e de dona Alexandrina de Mello e Silva (...)”. Embora essa informação seja também assinalada, aqui no Paraná pela historiadora Cecília Westephalen, eu considero uma curiosidade que precisa de melhor investigação pela dificuldade de datas. Eu particularmente acredito que, se for verdadeiro o fato, que já encontrei em livro da Editora Block, trata-se provavelmente do pernambucano Luiz de Mello e Silva, esse pai de Felix José de Mello e Silva. Ë curioso assinalar que tal Luiz de Mello e Silva, quase dois séculos antes, foi o donatário da Capitania do Maranhão e Grão Pará.
No plano internacional encontrei dois interessantes testemunhos: Em Revista de Domingo, periódico de Aracaju, 4 de Agosto de 1974: em Antiguidades Brasileiras, existe uma referencia sobre uma citação dos trabalhos de Justiniano pelo Professor austríaco Ludivico Schwenhagen, doutor em Filosofia pela Universidade de Viena, que escreveu em Belém, a obra “História Antiga do Brasil”. Outra noticia curiosa encontramos em “Justiniano de Mello e Silva, Filosofo e Historiador” de autoria do Dr. Luiz Carlos Rollemberg Dantas onde leremos na pagina 262: “Certa vez ouvi, (...) que Oswald Spengler, o grande historiador alemão, já conhecendo o primeiro volume de “Nova Luz Sobre o Passado” mandara procurar por intermédio da Biblioteca Nacional, os volumes seguintes (...)”. Finalmente, há sobre essa obra, um breve estudo (20 paginas) de autoria de Farias de Brito.
Para fechar o artigo quero citar as palavras de Osvaldo Pilotto em “100 Anos de Imprensa no Paraná”: “O Dr. Justiniano de Mello (...) era considerado sábio em consideração aos seus vastos conhecimentos filosóficos, sociais e de história. Foi professor e homem de imprensa em sua terra natal. Militou no jornalismo quando residente no Rio Grande do Sul. Teve atuação de destaque como educador na vida paranaense”. (BIHGEP volume XXIX, 1996 pagina 13 e 14)”.
Não ouso aqui qualquer julgamento de valor sobre a vasta obra de Justiniano, porque somente agora, vou criando embasamento para analisá-la no tempo e no conteúdo, e aos poucos vou tomando mais contacto com seus textos, alguns bem herméticos. Quem sabe, no futuro, publique uma conclusão.
Finalmente, ele foi casado com Tereza Paiva de Mello e Silva (ela natural de Pernambuco) com quem teve oito filhos: Candido; Adolfo, Ocean, Plutarco; Justino, Wallace, Alfiere e Otacília. Destes apenas o Tn. Cel.Wallace e Dr. Cândido de Mello e Silva permaneceram no Paraná. Dos irmãos de Justiniano, filhos, portanto de Felix José de Mello e Silva, conhecemos apenas o nome de; Martiniano, e Maximiliano de Mello e Silva, ambos sergipanos ilustres. Ao voltar para o Sergipe em 1897/8, Justiniano tornou-se Lente de Filosofia e História Universal no Atheneu Sergipano, onde já fora, anteriormente, Lente de Inglês em 1871. Após rápida passagem pelo interior de Minas Gerais (cidade de José Pedro (Hoje Ipanema) onde um dos seus netos foi prefeito (1928)), faleceu em Colatina, no Espírito Santo, na Clinica do Dr. Justiniano de Mello e Silva Neto (seu neto homônimo, e médico, que também foi prefeito duas vezes em Colatina).
Uma rápida pesquisa dos nomes de deputados paranaenses ilustres que dividiram o legislativo com o Dr. Justiniano nos dá uma idéia da qualidade de suas relações sociais, e do seu prestigio diante da Comunidade Curitibana daqueles anos. Vejamos então:

Biênio 1878/1879:
Antonio Ricardo dos Santos
Enéas de Paula
Bento Florêncio Munhoz
Francisco Portugal
Franco do Valle
Jordão Pedroso
Leocádio Correa
Taborda Ribas (substituído por Justiniano)
Manoel Eufrásio Correa
Manoel Ferreira Ribas Ten. Cel.
Olegário Macedo e outros menos conhecidos (MN pág.129)

Biênio 1882/1883; foram deputados com ele:
Barão do Serro Azul
Santos Andrade
Comendador Araújo
Generoso Marques
Telêmaco Borba
Manoel Eufrásio Correia
Trajano Reis
Frederico Virmond
O Barão de Guaraúna (Domingos Ferreira Pinto)
E outros menos conhecidos. (M. Nicolas pág. 141).

Biênio 1896/1897; foram deputados com ele:
Vicente Machado
Alencar Guimarães
Leôncio Correa
Candido Muricy
Frederico Virmond
Francisco de Moura Brito
Lamenha Lins
Benedito Carrão (Gazeta Paranaense)
Almeida Sebrão e outros menos conhecidos. (MN pág.215)

Justiniano de Mello e Silva, “O VELHO”, como é conhecido em família, é o bisavô pela linha paterna do governador Roberto Requião de Mello e Silva. Como vemos tal personalidade não foi cultuada apenas pela família, como também não é cultuado somente pela família o nosso governador, três vezes eleito, e tão incompreendido pelos jornalistas. Para bem entendê-lo, é preciso conhecer algo da história do Paraná.

Um tolo sociólogo paranaense recentemente publicou um ridículo artigo titulado: “Nepotismo de Requião remonta ao tempo de seu bisavô”. Ora senhores, se hoje temos 500.000 analfabetos no estado, diminuídos numa media de 80.000 por ano, graças ao esforço do governo do estado, imaginem o que era o analfabetismo no Paraná em 1870. Julgue você que ainda tem algum bom senso. Será que esse pioneiro da Educação, e ativo profissional de imprensa não reunia condições para ser o responsável pela Educação no Paraná em seu tempo? Será que uma vida dessas, pode ser reduzida a expressão: E Ele foi nomeado Secretário de Educação do Paraná, porque tinha um parente que era muito amigo da Família Imperial? Me poupem.


Wallace Requião de Mello e Silva.
Texto & Pesquisa

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