A Rainha das águas e o tubarão.
Conto da vida real.
Por Wallace Requião de Mello e Silva.
Contou-me um velho marinheiro bêbado, que quando Caminha mandou sua famosa carta ao rei de Portugal, teria enviado lacrada com o sinete de Pedro Álvares Cabral, uma secreta carta. Segundo o velho, um funcionário da Torre do Tombo em Portugal, num tropeço, ao cair, a teria encontrado por debaixo de velho e histórico móvel. Diz o tal documento:
Alteza,
Incumbiu-me de tudo vos contar. Por escrúpulo, quiçá, ou licença, eu, com todo o respeito que lhe devo quero lhe contar o que sucedeu comigo. Mal a nau aportara e os apetrechos desancaram sobre a areia nessa terra nova, ouvi o sonoro dos pássaros na floresta densa e colorida. Dei alguns passos em direção a mata e o que vi. Vi a mulher mais bela que meus olhos jamais haviam visto. Cor de cobre, dona de formas redondas e carne firme, longos cabelos negros e púbis careca como a testa do almirante, deleitava-se a banhar-se em águas límpidas. Extasiei num delírio, pois era tão grande a fertilidade do quadro, com aves e seus ninhos, sapos acasalando, e peixes dançando num espetáculo invulgar. È possível que o colorido estivesse reforçado pelos meses que estive embarcado, mas como cristão por respeito, e quiçá certo temor retirei-me.
Mais tarde na vigília, ao rever os fatos, percebi que em borá límpida a água, nela abundava as sementes de peixes e sapos, pois como sabeis os sapos e peixes não copulam como nos os homens, eles lançam suas sementes sobre os ovos das fêmeas, e tudo por haverá de se misturar as águas. Nunca em outra oportunidade houvera visto algo igual, nem tampouco pensado nisso.
Ao dormir sonhei. Nesse sonho, alteza, um tubarão com cara humana me perseguia com ciúme daquela mulher, que agora se me aparecia como uma rainha, a rainha das águas, protegida pelo tubarão voraz.
Súbito acordei assustado, e os pensamentos voavam ao ritmo de meu coração disparado. Há de haver Alteza, uma chave, como mil e um cadeados encadeados de maneira a proteger as sementes humanas das sementes dos animais, pois, se assim não for, nessas terras férteis tudo haverá de se misturar. A rainha ao banhar-se, poderá ser penetrada pela semente de um sapo ou peixe e engravidar, ou um vento mais forte, haveria de misturar as plantas, de tal maneira que a cada temporada surgiriam espécies diferentes com tal velocidade, que em bem pouco tempo já não saberíamos o que eram, ou quem éramos nós.
Alteza eu temi pela minha sanidade, e temi que vossa Alteza me tomasse por doido, desse modo por segredo envio essas noticias rogando-lhe que delas nada de ciência a ninguém.
Pero Vaz de Caminha, seu fiel súdito.
Código Genético e Transgenia.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
A Rainha das águas e o tubarão.
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