Criando desertos. (conto)

Criando desertos. (conto)
O significado original da palavra deserto é desabitado. Sem vida humana.

O avô leva pela primeira vez o netinho para conhecer as plantações da família.
Orgulhoso mostra a imensa área plantada com soja transgênica. O neto olha e pergunta: Vô, por que plantamos? O avô responde: basicamente para alimentação. Então o garoto pergunta: Onde estão os espantalhos? O avô responde, não há mais pássaros, eles se alimentam de insetos e de alguns grãos, mas o veneno que usamos mata os insetos, e protegem os grãos. Então o garorinho assutado comenta: Nossa a comida que plantamos tem veneno, isso não é ruim vovô? Não querido esses venenos não fazem mal aos homens. O garoto fica olhando aquela imensidão silenciosa de folhas verdes. Vô, pergunta: E onde estão as árvores? O Vô responde: Para que árvores, elas só serviam para ninhos de pássaros, hoje existem fazendas que só plantam pinus para extrair madeira, árvores aqui só atrapalham. O menino meneia a cabeça, e pergunta? E as vacas, onde estão? O avô responde vacas aqui seriam um problema elas comeriam tudo. O garotinho pensa um pouco e diz: Mas vô se plantamos para comer, as vacas também comem, os pássaros também, e também os insetos. O vô responde: sim mas que façam isso bem longe daqui. Aqui nos colhemos para vender, depois elas ou são industrializadas, ou misturadas, ai os bois podem comer, e também os homens, na forma de óleos, farelos e tudo que se possa fazer com os nossos grãos.
Então avozinho, nós plantamos para ganhar dinheiro. E os bichos que não tem dinheiro, nem darão dinheiro aos seus criadores, ou não são criados pelos homens, não poderão comer? O avô engasgou. O garoto continuou: vi na televisão que estão lutando para preservar alguns animais da extinção, mas aqui vemos que muitas àrvores foram condenadas, e ninguém fala em conserva-las da extinção, nem dos bichos que ficaram ou ficarão sem comida. Eu gosto de arroz, de feijão, de milho, de verduras, de frutas que dão nas àrvores e no chão, e eu não vejo nada disso aqui. Também não vejo animais domésticos ou selvagens...vô não tem algo de errado aqui? O vô olha em volta, para aquele mar de soja, sente o vento soprar, o silencio, os milhares de hectares igualados pelas folhas verdes,o inabitado e não diz palavra. O neto resmunga: Estamos construindo desertos...isso sim. Vou contar pra mamãe!









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