João Calvino o Papa
Protestante.
Esse é um dos mais
interessantes capítulos da história eclesial. João Calvino, já no seu tempo era
chamado de “ O Papa Protestante”.
Para entender esse fenômeno,
bastante estudado, seria preciso algumas leituras previas, tanto no campo da
filosofia, como na história dos chamados Papas do inicio da Idade Moderna. Sem
esse embasamento não entendemos os aspectos políticos e econômicos envolvidos
no surgimento daquilo que se convencionou chamar de protestantismo.
Acentuava-se a questão das igrejas nacionais, principalmente naqueles reinos
que se viam prejudicados pelas decisões dos Papas, que ao final da Idade Média
sofriam a ingerência do poder civil, pois era grande o numero de nobres e
príncipes ordenados cardeais, sacerdotes e monges. Na Europa, Ásia e Norte da África o
cristianismo era uma unanimidade que foi sendo quebrada com o inicio das
grandes navegações e o conhecimento de povos bem desenvolvidos, seus costumes e
fé, que jamais haviam ouvido falar em cristianismo. Esse
contacto, como era de se esperar, trazia inúmeras novas questões a uma Igreja
estabilizada exercendo enorme poder sobre os reinos do mundo cristão. Como
exemplo da resistência desses reinos à Roma, podemos citar o Rei Henrique II da
Inglaterra que proibia, já em 1164 que os frades apelassem à Roma, limitava a
saída dos frades da ilha e concedia ao Rei grande poder sobre a Igreja na
Inglaterra. Seria interessante ler os embates de São Thomas Becker contra
Henrique II.
Com o Grande Cisma de 1378
estabeleceu-se uma confusão entre os fieis e clérigos com o aparecimento das
chamadas heresias populares. Surgem Guilherme de Occam e Marcílio de Pádua,
cujo pensamento será aprofundado por João Wiclef um nobre inglês que se fez
sacerdote ( 1320-84) e João Huss (Jan Hus) frade de origem Tcheca em
(1370-1416); A Inglaterra devia impostos a Roma estabelecidos por João Sem
Terra em 1213 e prometidos ao Papa Inocêncio III. Havia então um embrião de uma
Igreja Nacional na Inglaterra, e esses citados acima que são chamados pré-reformadores
bem antes de Lutero, já estabeleciam a Sagrada Escritura como única fonte de
fé, rejeição da Tradição e Hierarquia e o nacionalismo em oposição a Igreja
Universal com sede em
Roma. Negavam portanto a verdade evangélica do primado de
Pedro sobre os apóstolos e a Igreja. Vê-se claramente a motivação política de
tais movimentos. No Brasil por exemplo, nos dias de hoje assistimos algo bem
parecido com a CNBB se arvorando uma igreja nacional, ramo de uma Igreja dita
Latino Americana, digamos infiel ao Papado, ate o surgimento do Papa Argentino
Francisco. Era o auge da teologia da Libertação que provocou a apostasia de
tantos padres. Os tempos se repetem,
Wiclef traduz a Bíblia para o
Inglês, assim como posteriormente Lutero o fará para o Alemão e outros para o
francês. A Idéia era quebrar a unidade eclesial provocada pelo uso do Latim e
tornar a Bíblia mais acessível a uma imensa multidão de analfabetos que não
liam nem o latim, nem o inglês. Wiclef envolve-se com uma sanguinária luta
entre camponeses e nobres nos campos da Inglaterra, então um sínodo
nacionalista clerico-civil em Londres o condenou. Ele rejeitava a Presença real
de Cristo na Eucaristia, a confissão auricular, e a autoridade de Roma. Seus
frades ( apostatas) eram chamados, pelos ingleses católicos de “Lolardos”,
origem em lollium, ou seja, joio.
Ana da Boemia, irmã do rei
Venceslaw da Boemia se casa com o Rei da Inglaterra Ricardo II, assim por esse
união política a já secular Universidade Católica de Oxford, atraia muitos
membros da nobreza Boemia, mas no entanto, essa união, criou um refugio ideal
para os seguidores de Wiclef através de seus escritos. Muitos se refugiaram em Praga. Jerônimo da
Boemia levou os escritos de Wiclef para Praga e como seu amigo o frade João
Huss começam a divulga-los. Em Praga a decadência moral era enorme e ainda eram
praticadas algumas heresias como as dos cátaros e valdenses, assim Huss
encontrou solo fértil; aqui também ocorria uma revolta dos boêmios contra os
alemães, e a idéia de uma igreja nacional e liberta de Roma era politicamente
aceita; Huss acendeu um fanatismo caloroso e foi condenado pelo arcebispo de
Praga em 1410 que lançou um interdito sobre Praga; no entanto o hussismo
tornou-se predominante na Boemia. A apostasia de um povo inteiro abalou o
sentimento cristão ocidental. O rei alemão Sigismundo, irmão do Rei da Boemia e
cunhado do Rei da Inglaterra convocou Huss a comparecer no Concílio de
Constança, onde ele foi condenado e encarcerado assim como seu amigo Jerônimo
de Praga foi condenado um ano depois. Essa história deve ser lida pois a
nobreza hussista havia expulsado os sacerdotes católicos da Boemia. Quando o
Rei Venceslaw os reabilitou, começou uma guerra interna. Com a morte de
Venceslaw, Sigismundo assumiu a Boemia mas foi rejeitado pelos hussistas que o
consideravam assassino de Huss, agora, os que faziam uso do cálice dos leigos( em oposição ao calice sacerdotal),
eram chamados ultraquistas ou calixistas, e não mais hussitas, eram como um
partido político aliados aos taboristas. Os taboristas eram mais radicais ainda,
aboliam as classes sociais, pilhavam Igrejas e mosteiros, executavam sacerdotes
e monges. Eram milenaristas e apocalípticos. Em 1425 os Taboristas devastaram a
Hungria, a Silésia, a Baviera e a Saxônia sob o comando de André Procópio ; o
que vemos, em primeiro lugar, e prestem a atenção, é que a livre interpretação da Bíblia e a
negação do Magistério, ia criando seitas fanáticas, sem controle, e que se
multiplicavam rapidamente, e em segundo lugar vemos o ideal pastoril dos
antigos hebreus anteriores a construção do suntuoso templo de Salomon.
Assim os anos que se seguem
são cheios de Guerras em toda a Europa, e os mais pobres eram e são as vitimas
principais, vagando na miséria, sem pastor. Pobres católicos e protestantes são
perseguidos.
A unidade cristã será
esfacelada pelo nacionalismo religioso da França ( calvinismo), Inglaterra ( o
cisma Anglicano) e Alemanha ( Luteranismo).
Como vemos, a perda da cabeça
, ou seja, a perda do vigário de Cristo estava levando a um grande número de
seitas cada qual defendendo as suas Verdades. Veremos isso com mais clareza em Martinho Lutero.
Posto assim os chamados pré-
reformadores vamos agora aos chamados reformadores. Se o leitor puder ler algo
sobre os papas do inicio da idade moderna Eclesial poderá melhor compreender os
erros administrativos cometidos e as pressões políticas das nobrezas e seus interesses nacionalistas e
da filosofia humanística que recaíram sobre a Igreja com sede em Roma.São eles:
Nicolau V; Calixto III; Pio II; Paulo II; Sixto IV; Inocêncio VII; Alexandre
VI; Pio III; Julio II e Leão X isto tudo entre 1447 e 1513. Apenas sessenta
anos.
Também os leitores já perceberam, que as
Escrituras foram guardadas e preservadas esses 14 séculos pela Igreja Católica
e pela Católica Ortodoxa depois da divisão do Império Romano, assim como também
os livros da Roma antiga e da Grécia Clássica. É também fácil perceber que os
lideres dos chamados “teólogos de protesto” eram todos frades da Igreja
Católica e muitos eram nobres ou destacados cidadãos na política em suas
comunidades.
Não foi diferente com
Martinho Lutero. Monge Agostiniano, membro de uma ordem regular da Igreja
Católica, rebela-se contra abusos cometidos por príncipes e nobres alemães que
eram digamos prelados ou delegados Papais. Esses no inicio rejeitaram Lutero,
mas logo perceberam as vantagens políticas de uma fé liberta de Roma. Assim
aquilo que parecia aos olhos de Roma uma questão particular do frade Martinho
Lutero tomou proporções políticas espantosas. Aquilo que: dizem os estudiosos
era uma resistência aos abusos da Igreja na Alemanha, tornou-se um cisma e uma
negação da Igreja de Roma.
Martinho nasceu em 1483 em uma Alemanha
Católica. Em 1505 entra para um mosteiro e em 1507 é ordenado
presbítero. Foi nomeado professor de Sagradas Escrituras na Universidade
Católica em
Wittenberg. Muito preocupado com sua fragilidade moral
apoiou-se nas cartas de Paulo e acabou por acreditar que não deveria se
preocupar como o que fazia ou deixava de fazer mas que lhe bastava a fé em Jesus Cristo. Com
o tempo de suas conclusões negou os sacramentos, a hierarquia eclesiástica, o
sacerdócio ministerial, a Missa e as Indulgências.
O Papa nomeou como Comissário
das Indulgências o príncipe Alberto de Brandenburgo que era arcebispo de Magdburgo.
Era homem mundano como tantos outros nobres, e havia se endividado com o
financista judeu “Fugger de Augsburgo”. Apenas como curiosidade nessa época
pouco mais pouco menos, outra casa “bancaria” de Judeus alemães, a Casa Welser,
financiou as navegações dos irmãos Pinzon à América. O príncipe dividia as
doações indugenciais em dois valores, um para pagar os banqueiros e outra para
pagar taxas a Igreja de Roma como óbolo de São Pedro pelos três arcebispados
que assumira. Nota-se portanto que havia vantagens mundanas em ser arcebispo,
mesmo para um príncipe. Nessa época já reinava franca rejeição as indulgências
dados aos abusos cometidos na Alemanha.E o próprio pregador Papal das
indulgências João Tetzel incorria nesses abusos.A questão era grave. Certa vez
quando Tetzel pregava em praça publica, Lutero insurgiu-se contra ele e
conforme as tradições acadêmicas da época fixou à porta da Igreja Católica de
Wittenberg 95 teses em latim que pretendiam corrigir os abusos. Essas teses, se
o leitor estuda-las afastavam Lutero da Igreja e anulavam a sua ordenação como
frade. As Teses e a rebeldia de Lutero espelhavam todo o ódio nacionalista
alemão contra Roma. O Papa então manda um teólogo de prestigio, o Cardeal
Caetano, visitar Lutero, mas esse não
consegue demovê-lo; Assim o Papa Leão X publica uma Bula chamada Exsurge
condenado 41 das teses de Lutero, e pede a sua retratação. Lutero queima a bula
e um livro de Direito Canônico, então chamado Eclesiástico em praça publica. O
Papa o excomunga.
Ainda vivíamos uma Alemanha
Católica. Lutero então apela para o nacionalismo Alemão e escreve: “Manifesto a
Nobreza Alemã”, pouco depois escreve “ O Cativeiro da Babilônia” onde critica
os sacramentos, e finalmente “ Da Liberdade Cristã”; que conclui a Igreja como
uma comunidade invisível composta de homens de fé.
A nobreza se divide, os que
exerciam o poder contra os que queriam exerce-lo; da-se então a Dieta de Worms
em 1521. Uma assembléia política, onde Lutero é condenado a morte. Todavia
Frederico da Saxônia esconde o frade excomungado em seu castelo, onde ele sob o
pseudônimo de Cavaleiro Jorge traduz a Bíblia para o Alemão. Enquanto Lutero
permanecia escondido, os frades se casavam, as Missas eram substituídas pelo
Culto da Ceia onde se recebia Pão e Vinho, que não eram consagrados, e sem confissão,
as imagens dos santos eram quebradas ou removidas...o descontrole era geral,
então aparecem uma nova corrente segundo o principio da Livre Interpretação da
Escrituras, os anabatistas, que são os Batistas de hoje. Eles pregavam o
batismo de adultos somente. Lutero assustado com a nova corrente sai de
Wittenberg e vai morar em seu antigo mosteiro doado a ele por Frederico da
Saxônia, provando com esse ato o quanto os nobres dispunham dos bens da Igreja,
e o quanto intervinham nela. Ali Lutero casou-se com a freira apostata
Catharina de Bora, e teve filhos.Em 1524 Lutero como líder dos luteranos teve
que enfrentar uma sangrenta revolta de camponeses liderada pelo líder dos
anabatistas, e Lutero que era contra a prepotência da Igreja de Roma na Alemanha,
resolveu esmagar violentamente a revolta e Thomas Munzer,,ider dos anabatistas, foi decapitado. Essa
atitude de Lutero afastou muitos de seus seguidores. Os anabatistas cresceram
junto as populações mais pobres contra os luteranos da nobreza. Em 1529 realizou-se a Assembléia política de
Espira na Alemanha e decidiu-se que não se faria mais mudanças na religião, e
isso favorecia os católicos ali estabelecidos havia séculos. Então em conseqüência
seis príncipes e 14 cidades imperiais fizeram um protesto contra essa decisão,
de onde lhes vem o nome de protestantes.Nos últimos anos Lutero observou que os
príncipes lideravam as questões religiosas e as manobravam em proveito próprio,
mesmo em terras ditas reformadas. Sua doença e o numero de seitas já lhe
indicavam que havia sim a necessidade de uma cabeça visível, um vinculo, uma
coerência interna. Essa duvida lhe arruinou os nervos; as teses de Lutero
dividiam os cristãos.
Nessa altura por diversos
motivos que devem ser estudados as teses de Lutero atravessam fronteiras
geográficas e políticas. Surgem com as mesmas teses Zwingli na Suíça em 1530 +
ou -, e João Calvino em 1532 em Genebra na Suíça francesa, ambos professando as
mesmas teses: cada crente é livre para interpretar a Bíblia como lhe pareça, ou
seja a Bíblia é a única fonte de fé, lida e interpretada sem o magistério da
Igreja Católica.
Portanto não vamos falar de
Zwingli, mas de Calvino o Papa Protestante.
Antes de continuarmos,
devemos lembrar que a questão de ler e interpretar a Sagrada Escritura era
questão menor para o povo de maioria quase absoluta de analfabetos. Ler e
interpretar as Sagradas escrituras era questão entre nobres e acadêmicos,
alunos todos até então de Universidades Católicas. Mas havia entre eles um povo
que tinha leitura da Thorá, ou Velho Testamento, que podemos dizer influenciava
essas idéias, supervalorando as escrituras hebraicas e desvalorizando as
cristãs. Mas não é hora para falarmos disso.
A França acorda um dia em pavorosa com as pregações de Guilherme Farel que propunha idéias semelhantes a de Lutero. Aparentemente essas pregações abrem caminho para outro francês João Calvino (1509-1564).
A França acorda um dia em pavorosa com as pregações de Guilherme Farel que propunha idéias semelhantes a de Lutero. Aparentemente essas pregações abrem caminho para outro francês João Calvino (1509-1564).
Calvino estudou Direito na
França e por suposto inteirou-se das teses humanistas; Mudou-se para Genebra.
Era católico, organizado, sistemático, possuía enorme capacidade de trabalho e ao
apostatar da fé católica em 1527 ao 18 anos, tinha já uma noção dos problemas
da Livre Interpretação da Bíblia e da sua dispersão ideológica e
interpretativa. Tendo-as professado publicamente caiu na perseguição do governo
Francês, ate então católico.Mudou-se para a Basiléia na Suíça, onde
surpreendentemente escreve seu primeiro livro Religiones Christianae Institutio
que se opunha fortemente contra os sacramentos, dogmas e culto. Da Basiléia
quis voltar a França, mas em Genebra foi convidado por Farel para organizar as
comunidades locais. Calvino, instituiu severa disciplina ( já não era tão
adepto da liberdade) cerceando a liberdade de consciência e conduta dos
cidadãos; temia que acontecesse o mesmo que com Lutero.
A oposição Católica em 1538
conseguiu expulsar de Genebra Calvino e Farel. Mas após três anos de ausência,
serão as autoridades que o chamam para controlar os descaminhos morais dos
cidadãos. Calvino propõe a doutrina da predestinação, uns se salvam, outros não
conforme a vontade de Deus. Calvino para controlar a sua igreja institui duas
comissões a “Venerável Companhia de Pastores e Doutores” encarregada do
magistério e “ Consistório” composto de pregadores e doze senadores que tinham
a tarefa de zelar pela disciplina ao estilo da Inquisição Medieval. Essa
comissão visitava as casas, servia-se de denuncias, pagava espionagem e os réus
considerados culpados eram entregues a um tribunal religioso; acreditem entre
1541 e 1546 esse tribunal executou 58 sentenças de morte. Em 1555 estava
consolidada a ditadura religiosa de Calvino, aquele que como os outros queria
ver-se livre da autoridade da Igreja de Roma impunha uma assembléia de aversão
ao prazer, como musicas, danças e qualquer atividade que distanciasse os homens
das suas leis.Pessimista ele declarou guerra aos humanistas e denominou a Roma
Protestante o refugio de todos aqueles que fugiam dos governos
Católicos.Recebia da França, Itália e Inglaterra adeptos. Fundou um Instituto
Teológico chamado Academia, e entregou a direção ao nobre francês Teodoro de
Beza, seu sucessor. No principio os calvinistas eram inimigos das artes , da
literatura, e da ciência.
Ate 1564 data de sua morte
era chamado pelos seus contemporâneos o Papa dos Protestantes, Sua doutrina se
propagou pela França, Escócia, Inglaterra e Holanda, países navegadores que a
disseminaram pelo mundo principalmente para a América do Norte. A Partir do
século XVI passaram a ser chamados “Igreja Reformada” sem nenhum vinculo com a
hierarquia de Pedro. Acredita-se que respondem pelo puritanismo e pelo espírito
de conquista dos povos anglo saxões e germânicos.
Conclusão: Percebe-se que
Jesus Cristo tinha razão ao instituir autoridade de Pedro sobre os demais
apóstolos, dizendo Pedro tu és a Pedra e sobre ti erguerei minha Igreja, Te
entrego as chaves do Céu e da Terra, o que ligares estará ligado, o que
desligares estará desligado, apascenta as minhas ovelhas. Esse é o texto
Bíblico mais claro da instituição do Magistério e da autoridade de Pedro, o primeiro Papa.
G 23 de Mello e Silva.
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