O garoto que pisou na
floreira.
Ao inclinar-se para catar uma
caixa de Isopor de uma lixeira o garoto desequilibrou e pisou na floreira.
Imediatamente uns grandalhões que estavam em uma mesa de bar, levantaram-se aos
berros. Garoto estúpido você pisou em nossa floreira!
Via-se que era uma floreira bem cuidada, com uma pequena tela de proteção de cerca de meio palmo de altura. Toda ela circundava um tronco de arvore em plena via publica. Não era, no entanto, podia-se ver, uma iniciativa da municipalidade, mas parecia ser uma iniciativa de particulares, comerciantes talvez.
O garoto sem assombro disse: Ou eu pisava,ou caia. Era eu, ou ela. O grandalhão o tomou pelo braço dando-lhe um beliscão, e disse : Veja a merda que você fez, pisou na nossa melhor flor. O menino respondeu: Que importância tem, ela morreu, eu também morrerei, os senhores morrerão. Garoto atrevido eu vou te mostrar... No entanto o outro disse: Espera. O garotinho sem tremer disse: Vejam onde os senhores estão pisando. Na calçada, respondeu irritado o grandalhão. Não, disse o menino, os senhores estão pisando sobre o cadáver de milhares de flores, arvores. insetos e até animais. E continuou: Antes dessa calçada e essa rua estarem aqui, havia aqui arvores, flores, frutas e animais, mas vocês, ou seus pais, ou seus avós e bisavós derrubaram tudo, pisaram na floreira com gosto e devoção. A ordem era devastar. Agora cheio de remorsos os senhores trocaram a ordem para preservar... Pura culpa e bobagem. Morreu essa, plante outra. Nesse momento , em algum lugar, alguns homens estão derrubando centenas de arvores, e vocês fazendo drama por uma flor.
Então o mais silencioso dos grandalhões perguntou: Guri que idade você tem! O garoto: Treze.
O grandalhão: E pensa que tens o que nos ensinar. O garoto: Anos atrás uns fazendeiros chegaram à casa de meu pai. Casa onde eu nasci. Diziam que nossa propriedade era improdutiva, inviável e que meu pai seria denunciado às autoridades por omitir-se mantendo seus filhos fora da escola e longe da assistência médica. E o pior: trabalhando. Lá, eles não queriam preservar, mas queriam plantar dinheiro. Meteram um trator em cima de nossa casa e derrubaram tudo para plantar soja, para quem sabe, alimentar gado estrangeiro. Era tudo que meu pai tinha e tudo o que sabia fazer. Nós estamos aqui catando lixo, como vocês vêem pisaram bonito em nossa floreira com gosto e sem piedade. Devastar sem piedade por ganância, ou preservar sem piedade e misericórdia por rancor, culpa e medo do futuro são atitudes burras, pois a virtude está no caminho do meio.
Então o pai do garoto o chamou, o garoto demorava.
O garoto disse: Desculpem tenho que ir ajudar o meu pai. E saiu correndo com sua caixa de Isopor. O grandalhão então gritou: Qual o teu nome guri. Ele sem virar para trás respondeu: Jesus.
Wallace Requião de Mello e Silva.
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