Tivemos em outubro do ano passado a realização do Sínodo sobre a Família, no Vaticano. As disputas internas o tornaram confuso para a maioria dos fiéis.
Os Papas costumam considerar as recomendações sinodais e, em seguida, emitir um documento a respeito. Fala-se que o Papa Francisco está para publicar, talvez já em março, sua manifestação pós-sinodal.
Especula-se sobre qual será o conteúdo do documento papal.
Para alguns, Francisco simplesmente repetirá a doutrina tradicional, dado que o episcopado africano e outros bispos conservadores se opuseram fortemente, durante o Sínodo, a renunciar à doutrina católica que proíbe a comunhão aos chamados “recasados”.
Outros preveem o oposto, ou seja, que na esteira do Cardeal Kasper e outros progressistas raivosos, o Papa Francisco faria uma “abertura” geral, não distinguindo casados, recasados, uniões homossexuais etc.
Por fim, uma terceira corrente é de opinião que o Papa Francisco tomará a posição de um progressismo dito moderado, ou seja, reafirmará em princípio a doutrina tradicional da Igreja, mas deixará aos Bispos, na prática, que a apliquem ou não, conforme opinem sobre as circunstâncias concretas em cada caso. Uma diretriz ambígua, portanto.
As três correntes coincidem num ponto: em prever que o Papa Francisco aproveitará a ocasião para mais uma vez repetir seu leitmotiv contra o capitalismo.
Mas tudo isso são especulações. E não vale a pena nos determos nelas, enquanto não é publicado o esperado documento.
O que cabe fazer, isto sim, é perguntar o que um católico fiel, cansado de interpretações equívocas e de falta de afirmatividade cristã, desejaria ver refletido no documento papal para esclarecimento de sua consciência e paz de sua alma, uma vez que os meios católicos encontram-se atualmente imersos numa ambiguidade sinistra.
Nesse ambiente, nada é mais urgente do que fazer luz, proporcionar clareza. Contribuir para que se faça luz em meio a essa situação é tarefa altamente necessária. Por isso ocorreu-me recordar aqui um pronunciamento luminoso, contido num artigo que marcou época quando publicado, em agosto de 1972, e que constitui um desses faróis que não se apagam e podem ajudar a esclarecer muita coisa do que hoje ocorre.
Trata-se de um artigo de Plinio Corrêa de Oliveira em que o autor aborda o contexto em que vinham se dando os acontecimentos na Igreja e no mundo naquela época, contexto esse que, nos últimos 40 anos, não fez senão ampliar-se e agravar-se, sem entretanto mudar de natureza. Relembrá-lo agora, pode ajudar a interpretar os anseios de clareza do leitor.
* * *
Marcou época o artigo “Lágrimas, milagroso aviso”, de Plinio Corrêa de Oliveira, publicado na “Folha de S. Paulo” em agosto de 1972, e depois reproduzido um pouco por toda parte.
Tocante na sua expressão e profundo no pensamento que desenvolvia, o artigo punha em realce a lacrimação, então recente, de uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, ocorrida na cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos. Na impossibilidade de reproduzi-lo na íntegra, seguem aqui os trechos que mais nos dizem respeito no momento.
Nele lemos que, em Fátima, “Nossa Senhora incumbiu os pequenos pastores de comunicar ao mundo que estava profundamente desgostosa com a impiedade e a corrupção dos homens, Se estes não se emendassem, viria um terrível castigo, que faria desaparecer várias nações.”
Em Nova Orleans, “O misterioso pranto nos mostra a Virgem de Fátima a chorar sobre o mundo contemporâneo, como outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de afeto terníssimo, lágrimas de dor profunda, na previsão do castigo que virá […] se não renunciarem à impiedade e à corrupção; se não lutarem especialmente contra a autodemolição da Igreja, a maldita fumaça de Satanás, que no dizer do próprio Paulo VI, penetrou no recinto sagrado. Ainda é tempo, pois, de sustar o castigo, leitor, leitora!”.
Lágrimas que são, evidentemente, símbolo da dor de Nossa Senhora pelos pecados do mundo, que tanto ofendem seu divino Filho, e pela situação presente da Igreja e do que resta da Cristandade moribunda. Prossegue o autor:
“Não é preferível — pergunto — ler hoje este artigo sobre a suave manifestação da profética melancolia de nossa Mãe, a suportar os dias de amargura trágica que, a não nos emendarmos, terão que vir? Se vierem, tenho por lógico que haverá neles, pelo menos, uma misericórdia especial para os que, em sua vida pessoal, tenham tomado a sério o milagroso aviso de Maria. É para que minhas leitoras, meus leitores, se beneficiem dessa misericórdia, que lhes ofereço o presente artigo…”
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Nos presentes dias deste nosso século XXI, a impiedade e a corrupção moral alastram-se por toda parte, até dentro dos muros sagrados. Por isso Nossa Senhora continua a chorar, como chorou em La Salette e em Nova Orleans.
O primeiro movimento de um bom católico, que vê sua Mãe chorar, é consolá-la. Não por meio de um sentimentalismo estéril, que não conduz a nada, mas pelejando para fazer cessar a causa que produz tão grande dor.
Assim, o melhor modo de consolarmos Nossa Senhora é unirmo-nos aos sofrimentos d’Ela, medindo a imensidade do pecado que se comete contra Deus, indignando-nos com o mal que está sendo produzido e fazendo tudo quanto estiver a nosso alcance para que esse mal cesse.
À medida que o laicismo de Estado foi sendo implantado, e a Santa Igreja marginalizada, abriu-se um campo propício para a expansão até da bruxaria e do satanismo, hoje com direito de cidadania. E o pior é que a marginalização da doutrina católica vem sendo feita com a colaboração, por vezes explícita, por vezes velada, de um número não pequeno de eclesiásticos. Donde a necessidade premente de afirmações claras e categóricas em defesa da doutrina tradicional da Igreja, inclusive no que diz respeito aos casais “recasados” e outros.
Tal é o contexto mundial ─ em que o demônio já se faz oficialmente presente ─ no qual virá a lume o documento do Papa Francisco sobre o Sínodo. Rezemos!
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