Os jesuítas na Amazônia
Entre as mais belas páginas da história da Igreja está
sua contribuição decisiva para o conhecimento e a evangelização da Amazônia,
nos séculos XVII e XVIII. Em paralelo com as ações militares e administrativas
lusitanas, as atividades catequéticas e evangelizadoras desenvolvidas por
franciscanos, carmelitas, mercedários e, principalmente, jesuítas foram
essenciais no povoamento e na consolidação do domínio português na Amazônia.
Após sua participação na expulsão dos franceses, holandeses e ingleses da
embocadura no Amazonas, em 22 de junho de 1657, partiu de São Luís do Maranhão
uma expedição comandada pelo cabo Bento Maciel Parente em direção ao coração da
Amazônia. Dois religiosos, os padres Francisco Veloso e Manuel Pires, os
acompanhavam.
Em 1668, o franciscano Frei Teodósio e o capitão Pedro
da Costa Favela fundam uma nova povoação à margem do Rio Negro, nas
proximidades da foz do rio Aruim. Em 1669, o Capitão Francisco da Mota Falcão e
seu filho construíram ali, no coração da Amazônia, próximo da confluência do
rio Negro com o Solimões, um pequeno forte quadrangular em pedra e barro. As
tribos indígenas aruaques (barés, banibas, passés e principalmente os manaós)
ajudaram na construção e passaram a morar em volta dele. A população formada
por indígenas e brancos cresceu rapidamente. Para ajudar na catequização dos
índios, os carmelitas, jesuítas, mercenários e franciscanos ergueram uma capela
próximo ao forte com o nome de Nossa Senhora da Conceição, futura padroeira da
cidade fundada em 1674: Manaus.Enquanto os portugueses iam estabelecendo-se no
baixo Amazonas, os espanhóis progrediam pelas cabeceiras através de aldeamentos
missionários dos jesuítas ao longo dos rios Napo, Huallaga, Ucayali, Marañon e
Solimões. Em 1684 chegou a Real Audiência de Quito o padre Samuel Fritz, jovem
missionário alemão de Trate nau. Entre 1686 e 1688 viajou e trabalhou no Alto
Amazonas, num trecho de mais de 1.000 quilômetros
entre o Napo e o Japurá com outros jesuítas. Em 1689, esses soldados da
Companhia de Jesus alcançaram as imediações da foz do Juruá. Os portugueses, em
sentido contrário, iniciaram a subida do Solimões.
Quando o padre Samuel Fritz desceu o rio Amazonas em
1689, encontrou os primeiros vestígios lusitanos representados por casas
desertas, junto à foz do rio Purus. A partir da viagem do padre Samuel Fritz
até Belém, abriu-se a questão do domínio do Solimões. O governo português
mostrou mais interesse em expandir suas fronteiras do que o governo espanhol em
ajudar seus missionários a defender suas pretensões amazônicas. Igualada a
divisão do território entre as ordens por meio de cartas régias (1687-1714),
vários grupos de religiosos iniciaram a tarefa sistemática de povoamento e
evangelização, espalhando suas missões por milhares de quilômetros pelo vale
amazônico. Os carmelitas, jesuítas, franciscanos e mercenários aprofundaram o
povoamento nos antigos domínios espanhóis e ocuparam a área atual do estado do
Amazonas. Os portugueses conquistaram definitivamente o Solimões entre 1709 e
1710.
Atendendo a uma solicitação da Coroa, os jesuítas
iniciaram as primeiras atividades extrativas de vulto das "drogas do
sertão" garantindo uma exportação regular de cravo (Dicypellium
caryophyllatum), cacau, baunilha, canela, resinas aromáticas e plantas
medicinais. Da multiplicidade desses aldeamentos e missões religiosas,
principalmente jesuíticas, surgiram dezenas de povoados, a exemplo de Cametá,
na foz do Tocantins; Airão, Carvoeiro, Moura e Barcelos, no rio Negro;
Santarém, na foz do Tapajó; Faro, no rio Nhamundã; Borba, no rio Madeira; Tefé,
São Paulo de Olivença e Coari, no Solimões; e em continuação, no curso do
Amazonas, Itacoatiara e Silves. Todo o espaço urbano das cidades mais antigas
da Amazônia organizou-se e cresceu em função das igrejas.Em 1743, os
portugueses subiram até o alto rio Negro e penetraram no rio Orenoco pela
passagem do canal do Cassiquiare. Essa conexão, entre as cabeceiras e bacias do
Negro e do Orenoco, foi confirmada pela primeira vez pelo padre jesuíta Manuel
Roviare em 1744. Assim começa a descrição geográfico-histórica do rio Amazonas
do padre jesuíta João Daniel (1722-1776), autor de uma obra enciclopédica sobre
o rio, a natureza e os homens da Amazônia.
Cronista da Companhia de Jesus, o padre João Daniel
viveu na Amazônia entre 1741 e 1757, quando foi preso por ordem do Marquês de
Pombal. Não sobreviveu aos 18 anos de prisão, vítima do despotismo esclarecido,
durante os quais sistematizou de memória tudo o que se sabia sobre a região
amazônica. E sem deixar transparecer, sequer nas entrelinhas, nenhuma queixa ou
amargor de sua injusta situação de prisioneiro condenado à morte. Uma obra
monumental sobre a geografia, a história, a economia, a flora e a fauna,
aquática e terrestre, os costumes dos povos e civilizações da região.
Esses pioneiros evangelizadores da Amazônia, cujo
martírio é esquecido, vêm sendo tratados de "meros instrumentos a serviço
dos interesses dos poderosos de seu tempo". Desmemoriados e cheios de auto
compaixão, muitos desses autores julgam que na história da Igreja está
praticamente tudo errado até o Concílio Vaticano II. E estimam dificílima a
tarefa de evangelizar nos dias de hoje, para explicar a expansão do paganismo e
das seitas na Amazônia. Vale lembrar-lhes o padre Vieira. Se lhes parece
difícil evangelizar ovelhas que bebem no rio e comem no prado, o que deverá ter
sido evangelizar e trazer para a grei da Igreja no século XVII e XVIII, ovelhas
que às vezes comiam os pastores e bebiam-lhes o sangue?
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