Um texto desaparecido.
Hoje eu me deparei com esse
parágrafo escrito por meu bisavô, a pagina 34 do livro “Nova Luz Sobre o
Passado”.
Diz: “Quando a nossa ciência,
ainda nas faixas (nas fraldas, nos cueiros, na infância) puder transformar os
sons em imagens, veremos que a trombeta emite phosphenas de sangue jorrarem de
corpos retalhados, de mutilações horríveis”.
Seu livro foi impresso em
1906, e ele nasceu em 1852, portanto essa luz lhe foi soprada muito antes do
aparecimento do LSD, uma das chamadas drogas psicodélicas, que entre outros
atributos tinha o de fazer, ou provocar imagens mentais a partir de estímulos
sonoros. Na verdade, a fala, que é som articulado e memorizado cria imagens
mentais e conceitos. Justiniano, meu bisavô antevia que a musica poderia
desenvolver mensagens visuais em níveis mentais mais profundos e de difícil
acesso. Puxa isso, no meu entender era revolucionário. Depois disso, li
diversos trabalhos sobre o uso de drogas, alguns técnicos e outros romanceados
com “As Portas da Percepção” de Aldous Huxley. Na década de 60, meu pai, médico
e psicólogo havia feito experiência com o LSD em presos voluntários do Presídio
Central do Estado. Ele relatava as suas experiências aos seus irmãos médicos, e
médicos que trabalhavam com ele no Departamento de Criminologia do Presídio
Central que estava sob sua direção. Pouco depois eu escrevi um artigo, que pelo
titulo pode parecer uma apologia às drogas, no entanto, muito pelo contrario
era um alerta. Titulado “Drogas e Crescimento Pessoal” rodado em copias soltas
e distribuído entre universitários causou algum furor. Esse texto esta
desaparecido. Foi publicado entre 1975 ou 76.
A tese era bem simples. Se a
droga causava uma profunda alteração da percepção, como ilusões dos diversos
sentidos, ela poderia produzir uma ferramenta clinica para personalidades
rígidas e céticas quanto a qualquer mudança pessoal. À memória de si mesmo,
sempre igual, acrescia-se a memória da experiência “alterada” de si mesmo. Ora
essas duas visões de si mesmo criaria um dialogo, base para um crescimento
pessoal entendido como busca de mudanças no mais profundo do ser. Todavia, a
tendência de quem faz a experiência é procurar repetir a experiência, e não
criar uma ponte de transito entre a rigidez original e a percepção das
alterações em si mesmo, o que seria propriamente a psicoterapia, mas ao invés
disso recorrem à droga para sentir-se diferente, ate o vicio.
O que meu pai procurava
descobrir era se tal poderosa droga poderia das aos presos voluntários uma nova
perspectiva e uma crença ou fé na possibilidade de mudança radical de vida, principalmente
daquelas pessoas que profundamente embotadas na sua afetividade tornaram-se
psicopatas, ou sociopatas.
Tudo isso era gravado, e
monitorado pelos testes psicológicos e fisiologicos ( tempo de reação, equilibrio, alteração do sistema autonomo, hiper-sensibilidade, etc.) conhecidos de modo a se provar verdadeiros
alterações permanentes, ou com reflexos claros para embasar a tese a partir das
hipóteses de diagnostico e história criminal.
O meu trabalho era bem mais
simples e direto, intuitivo. Foi tão explosivo, que meu tio advogado Ulisses, e
meu tio psiquiatra Péricles, me chamaram para uma conversa seria, pois pensavam
que eu pudesse estar usando drogas. Eles educados no século XIX não podiam
avaliar a penetração do Espírito Santo na especulação psicológica. Então posso
voltar ao parágrafo de meu bisavô, o Espírito é sopro, e o sopro leva às
palavras, as palavras criam imagens mentais, e os sons, todos eles, podem criar
percepções psicodélicas. Essas duas verdades abrem um novo leque de
possibilidades para a analise daquilo que alguns chamam de “inconsciente”, mas
que pode ser entendido de maneira diferente. Deus não tem inconsciente, e pode
soprar uma sabedoria que pode se traduzir em sons, imagens, sensações e
emoções tão profundas que podem ultrapassar o tempo da existência pessoal, para
o passado ou para o futuro, num protótipo, num arquétipo que parece estar
expresso na bíblia no seguinte texto: “Todavia falamos entre os perfeitos uma
sabedoria que não é desse mundo, nem dos príncipes (principais) desse mundo,
que perece, mas ensinamos uma sabedoria divina, misteriosa, escondida,
predestinada por Deus antes dos séculos para nossa gloria”. Carta aos Corintios
2, 5-9.
G23.
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