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terça-feira, 25 de novembro de 2008

O pensamento ocidental visto do meu ponto ( entrevista I)

O pensamento ocidental visto do meu Ponto.

Quando me foi proposto esse trabalho de pronto me lembrei de Santo Agostinho, naquela passagem em que ele conta que um menino tentava colocar o oceano em um buraquinho na areia. Presunção, onipotência infantil, impossibilidade real. Então congelei diante da tarefa de fazer um resumo do Pensamento Ocidental, me pareceu uma tarefa impossível para um escultor, sim porque a minha preocupação central é o senso estético e o manuseio das matérias primas, sobremodo o barro. Sou um oleiro, palavra dinamarquesa que deu origem a palavra Holanda.
Pensei em alguém que pudesse me ajudar, e me lembrei que o amigo Wallace estudou Filosofia e Teologia e fui buscar ajuda.

Wallace, você que estudou Filosofia... – Não ninguém estudou Filosofia, a filosofia no sentido clássico é uma busca constante e intima por algum tipo de sabedoria, daí ser chamada amizade da sabedoria. É um estudo sem fim, e deve ser conjugado no tempo presente. Passado, não. E você já entenderá o motivo. Mas vamos lá, que tipo de ajuda você quer, para sabermos, se dá para ajudar?

O mestre quer um resumo em três laudas do Pensamento Filosófico Ocidental, com uma passagem pela Mitologia, Religião e História até os nossos dias.

Parece uma tarefa um tanto difícil, muitos já tentaram, o único que conseguiu foi Moises( embora não fosse ocidental), isso porque Deus lhe entregou uma síntese, os demais se perderam na presunção, aliás, nesse momento eu estou sendo presunçoso. Mas veja Luis, Ocidente o que é? É uma convenção Européia bem recente. Para os Egípcios, no norte da África, os Hebreus eram orientais, para os gregos os egípcios eram orientais, e para nós Brasileiros, os europeus são orientais. Isso concretamente, todavia nós, do lado de cá, aceitamos como convenção histórica que a antiguidade clássica Greco Romana, é a ocidental, e o que não lhe dizia respeito, eram culturas orientais, tudo muito relativo, mas assim é. Um resumo do pensamento filosófico nestes termos é uma presunção. Você lembra que fui estudar com os padres Claretianos, olhar aquela biblioteca magnífica, é uma lição clara (acobertada pelo mito das personalidades enciclopédicas) da impossibilidade de se ler, e meditar sobre o total do pensamento dos antigos. 365 livros por ano, se você ler um por dia. 3650 livros lidos em 10 anos, 36.500 livros lidos em 100 anos, e nós não chegamos à metade, da metade dos livros da biblioteca pública por exemplo. Isso é presunção. Nesse dedicar-se ao estudo dos outros, os homens abortam a criatividade na busca da sabedoria. Se você pensar bem, Salomon, rei hebreu, não conhecia os estudos de Ptáh-Hotep que viveu a cinco mil anos passados, nem Salomon conheceu os trabalhos do chinês Teng Shi e a história de Pan-Ku o primeiro homem, aliás para Salomon ( Salomão) as terras de Ur, de onde sai Abrão, eram reinos orientais. Veja como é. Quem haveria de ter lido o Velho mestre Chinês Lao Tzé? Ou a quem teria estudado o chinês MO –TI, ( dizem que vem daí a palavra motim); a quem se atribui, a frase : “é a ambição de poucos a desgraça de muitos” , ou ainda: “O egoísmo esta na base de todos os males”. Bem investigada a questão é ate possível que não soubesses ler, e algum escriba haveria de registrar os seus pensamentos, como de resto foi o caso do Grande Marco Pólo, que ditou suas aventuras na prisão. Como saber? Você talvez não concorde com o que vou dizer: A Igreja Católica é uma instituição viva, com quase dois mil anos, se formos criteriosos. Ela é uma testemunha da História desse período, produziu muitos grandes pensadores e você não vê ninguém ensinando esses nomes, nem discutindo os seus ensinamentos, seus métodos investigativos, sua lógica... nada, essa instituição viva, é negada. Fazem isso como fazem com a História, que é o testemunho escrito dos fatos, para preferirem em detrimento da história a pré história, as novidades que cabem aí, os tempos escuros, porque lá podemos esconder qualquer teoria, qualquer hipótese, qualquer tese. Veja bem: Tales de Mileto viveu cerca de 600 anos antes de Cristo, Buda também (Buda era um príncipe Hindu). Quem dos dois estudou quem. Como você vê, nós vivemos o mito da presunção, queremos ser sábios, mas perdemos a simplicidade que é a sabedoria, a sabedoria é simples, inteligível, para qualquer e todos os homens. Cícero o grande orador dizia ironizando esses filósofos clássicos que tanto veneramos que : “Não há nada de mais absurdo do que o que encontramos nos livros dos Filósofos” No entanto, só com o pensamento Demócrito descobriu a teoria atômica (a-tomo= indivisível) 2500 anos antes de Cristo.
Estou fugindo do assunto?

Não, eu acho que está bem interessante: nunca me disseram as coisas dessa forma.

Posso continuar? Claro.

Hegesias,filosofo grego, muito pouco conhecido, levou grande numero de jovens ao suicídio, enquanto ele mesmo, jamais tentou. Sócrates o Grande, o homem que ampliou o pensamento ocidental, possivelmente não escrevia, e nada deixou escrito. Conhecemos alguma coisa pelo testemunho de terceiros, e há quem o negue como indivíduo histórico, como alias há quem negue a Cristo, o Cristo Histórico. Sócrates este “mito” da Filosofia chamava a si mesmo de moscardo e, dizem os cronistas ser ele o autor da Maiêutica, palavra que quer dizer mais ou menos, parto do espírito, ou seja, pelo jogo de perguntas e respostas ele desenvolveu o método de fazer nascerem às luzes filosóficas. Sua mulher Xantipa, o traria em rédeas curtas. Há quem diga que ela mandava nele, enfim alguém tinha que fazer algo de concreto na vida. Foi condenado à morte, diante dos poderosos, como tantos outros, que assim morreram como santos, mártires e revolucionários sem nunca serem considerados Filósofos. Platão era Aristocrata, elite das altas, e dizem, amigo de Sócrates, escreveu a Republica. Tal obra é considerada por muitos a primeira Utopia da História, eu prefiro como Utopia o livro dos Mortos dos egípcios, que eu nunca li. Na seqüência clássica e indispensável vem o mais versátil deles Aristóteles, que nós conhecemos, e por ele também conhecemos Sócrates e Platão, por causa da Igreja, foi a Igreja com Santo Tomas de Aquino, que lançou luzes e estudos sobre a Filosofia Aristotélica, nem mesmo Avicena, o Persa nascido em Afsana, teria lhe dado o prestigio que a Igreja lhe deu. Ele foi, todavia, tutor do Grande Alexandre filho de Felipe da Macedônia, que era Rei, e isso alavancou o seu gênio. O Império de Alexandre invadiu os territórios orientais em relação ao mundo grego. Aqui nesse tempo ainda se discutia as relações de poder em uma cosmovisão qualquer, e as pessoas aceitavam como nós aceitamos sem raciocinar sobre tudo o que a televisão nos fala. Uns falam outros ouvem. Temos um período que a coisa se desloca para uma visão mais personalizada, como o caso dos epicuristas, ou filósofos do prazer, algo como o que estamos vivendo hoje. Essa filosofia da carne, do comer, do sentir, lhe levou a formular uma teoria do evolucionismo 2300 anos antes de Darwin, mais eu te pergunto Luis, que importância tem isso agora?
Se você e eu estivéssemos em uma biblioteca especializada, para qualquer centímetro que olhássemos encontraríamos um livro, de um determinado filosofo de uma determinada época e de uma determinada escola de pensamento, e daí,... como já vimos, seria impossível estudá-los todos. Francis Bacon, Spinoza,Maimônides, Schopenhauer,Nietzsche,Bergenson, Groce, Russel, Santayana, Wilhem James e o pragmatismo, Jon Dewey, trocando o passado pela ciência, são visões de mundo tão importantes como a de qualquer outro homem. Todo homem faz filosofia, ou tem a sua filosofia.Você Luiz fez uma síntese de sua vida, você se diz e se identifica como escultor, e não como filósofo, você é um amigo do barro, e Deus, que curioso, também era amigo do barro, porque fez do barro o primeiro Homem, e eu te pergunto: Houve, haverá alguém mais sábio que o criador dos homens?
Veja que nós já fomos bem longe nesse lero, lero.
Na verdade nós temos um problema que é resolver o seu trabalho quase impossível. E estamos dando uma solução humilde e possível, para uma questão insolúvel, imensa, estamos todos nós em busca da Sabedoria, e como a Sabedoria é atributo do próprio Deus, estamos em busca de Deus, o Deus dos simples, dos humildes dos pequeninos. Mas Deus se revela aos homens, ou seja, a sabedoria vem de encontro aos homens, a todos nós e se revela segundo as nossa luzes e experiências pessoais, mas a sabedoria nos procura. Assim lemos em Filipenses 2,13 Porque Deus é o que opera em vos tanto o querer como o efetuar” veja Luiz como isso é sábio, fácil, profundo e simples.

Wallace desculpe interromper, mas veja, ainda temos pela frente a questão que achei mais interessante, a questão de que se é possível termos uma Ética para os tempos atuais.

Sei, desculpe, eu acho que me alonguei de mais.
O que é a Ética? Que ética temos hoje? Bem a Ética de hoje é não termos Ética, ou seja, a Ética em vigor é não termos valores, isso é ético hoje. Isso é uma impossibilidade lógica, como aquela: é proibido proibir (já estamos proibindo). A ética sem ética é uma impossibilidade lógica, mas a lógica, não é invenção dos homens. Todos os valores devem ser transitórios nos dias de hoje, ou seja, conforme os costumes, ou como se diz no direito, serem consuetudinários (veja no dicionário Jurídico do Professor De Plácido e Silva o significado preciso). Ora, isso faz do valor, um valor sem Deus, um valor transitório, e o certo de hoje já não e certo amanhã. Assim, a nossa Ética, ao destruir os valores estáveis, destrói o senso de justiça, pois não havendo uma verdade, ou certo ou errado, não se lesa a justiça. Ou seja, negando Deus, negamos a verdade e a justiça, e entramos na ética da tolerância do erro, e do combate a verdade, aos valores estáveis, e a justiça. A ética diz D.Estevâo Bettencourt em seu Curso de Filosofia Tomista, ou melhor, acho que em sua introdução a Teologia Moral, difere da moral em um ponto insofismável. A ética parte, como pano de fundo do evolucionismo cego, sem Deus, e, portanto, é um conjunto de valores consuetudinários frutos de um pacto social, obra do homem na construção do homem, num dado tempo, numa dada sociedade. A MORAL, assim com letra maiúscula, diz respeito à REVELAÇÃO, ou seja, dos valores inscritos no coração de todos os homens em todos os tempos e em todas as culturas, confirmados por Deus a Moises (Dez Mandamentos) e, diríamos ainda que errando, ou sendo imprecisos: referendados por Jesus Cristo Nosso Senhor. Ou seja, para hoje, para ontem e para amanhã a única “ Ética” possível, é a moral cristã, não a Mosaica no sentido do Farisaismo, porque a Moral Cristã tem por objetivo a universalidade dos indivíduos e o Amor Universal, a Mosaica esta presa a religião-raça, e portanto peca pelo sectarismo e egoísmo, como muito bem observou sem o saber Mo-ti: “ O egoísmo esta na base de todos os males”.
Luiz eu publiquei recentemente no meu Blog, um texto titulado, "Como podemos amar se não cumprimos os mandamentos?" Ora , meu caro amigo e escultor, o amor é a arte da vida, e não há sabedoria, nem simplicidade, sem amor. Por quê? Porque Deus é amor, e sem Deus, estamos cegos, somos reduzidos à nossa anima “alma” no sentido anímico, aristotélico, quase materialista, ou seja, nos tornamos como anima+l (animal, animais, bestas). E Bestas não fazem esculturas. Não fazem Filosofia, nem Ética (Etos= caminho filosófico) nem compreendem a Moral caminho de Deus para todos os Homens.

Luiz vou te dar meu endereço de Blog, você copia esse texto que vai terminar com chave de ouro, essa nossa produtiva conversa, pelo menos penso eu. Saiba trabalhar, moldar esse barro, e essa conversa, e eu acredito que seu professor, haverá de perceber que você pegou o espírito da coisa. Tenho certeza que ele vai gostar, seja para criticar, seja para elogiar.

Entrevista concedida a Luis Alberto Lopes pelo G 23 Wallace.

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