Quando a mulher é bem comida.

Cadê meu braço seu bocudo?

A mulher bem comida.

Como é difícil entender as mulheres.
Seu Juca enrolava um palheiro em silencio e escutava atento.
As comadres matraqueavam. Você viu na TV, uma senhora, moradora numa palafita às margens do São Francisco teve realizado um velho pesadelo. Ela sonhava que um par de olhos verdes e luminosos a fitava sem cessar, sem piscar, e ela acordava desesperada, angustiada, quente, agitada.
Pois não é que agora nos meses das cheias, quando as águas sobem à altura do beiral das portas e ao nível das varandas, essa mulher, em plena madrugada, precisou fazer sei lá o que na varanda, e, ao curvar-se teve seu braço arrancado violentamente por um jacaré.
Socorrida sem sentidos, ela relatou que só se lembrava daqueles olhos verdes, luminosos, e já não se lembrava de mais nada. Os homens saíram em busca do bicho e o mataram e recuperaram o braço da mulher, mas passado muito tempo, os médicos da região não conseguiram mais reimplantá-lo.
Que horror disse a comadre... E ai o que aconteceu com a mulher?
Comadre você não vai acreditar, a senhora se encheu de amores pelos bichos, fundou uma ONG protetora dos jacarés e tem passado o tempo a estudá-los, é veja você como são as coisas.
A comadre com cara de descrença disse: não acredito!!!
Seu Juca pigarreou, e se metendo disse: ué mué, é tão comum isso acontecê, a mué quando é bem comida, não se esquece, e ela protege os bichos, pois o falecido pode ter um irmão, um primo, sei lá, outro bicho com o mesmo apetite.
Quem sabe, num aparece outro né?

Mué é bicho difícil de intendê.

Todos riram por um longo tempo. Naquela noite todos tiveram o mesmo pesadelo, sonharam com uma mulher gritando abafado: cedê meu braço seu bocudo?
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