Seja bem vindo.

O Grupo de Estudos 23 de Outubro mantém 11 Blogs, eles falam de moralidade, política, nacionalismo, sociedade e Fé. Se você gostar inscreva-se como seguidor, ou divulgue nosso Blog clicando sobre o envelope marcado com uma flecha ao fim de cada texto. Agradecemos seu comentário. Obrigado pela visita.
www.G23Presidente.blogspot.com




wallacereq@gmail.com.







terça-feira, 15 de março de 2011

Para aprender a conversar com o Senhor.

PERGUNTE E RESPONDEREMOS 555/Setembro 2008

Santos e Místicos

Gabrielle Bossis, uma grande mística do séc. XX

"ELE E EU - VIVER COM DEUS"

Sem nenhum estardalhaço publicitário como fazem as grandes editoras por ocasião
de seus "bestsellers", tantas vezes medíocres, a Editora Quadrante publicou ano passado um
pequeno livrinho Ele e Eu - Viver com Deus, de autoria de Gabrielle Bossis. Tal lançamento
não pode passar desapercebido do público católico, pois trata-se de uma pequena jóia da
espiritualidade, uma grande obra mística, que pode fazer muito bem às almas sedentas. De
fato, o livrinho lançado no Brasil é uma antologia, tendo sido a seleção dos textos feita por
Paulo Monteiro Ramalho.

O livro de 11 x 16,5 cm tem só 84 páginas. A edição completa em francês (Lui et
moi - entretiens spirituels, Beauchesne, Paris) compreende sete pequenos volumes (10,5 x
18 cm), totalizando 1.228 páginas. O 1º volume (1949) está na 60ª edição (1997).

Gabrielle Bossis (1874-1950) era até agora desconhecida no Brasil. Foi uma católica
francesa, natural de Nantes, onde sempre viveu, mais exatamente em Fresne sur Loire, a
cerca de 60 quilômetros daquela cidade. Leiga, permaneceu solteira, apesar de numerosos
pedidos de casamento. De família abastada, sempre teve um bom padrão de vida, vivendo de
rendimentos deixados pelos pais, o que lhe permitiu também muitas obras de caridade.

Sua família era muito religiosa e ela estudou num colégio de freiras. Era a mais
moça de quatro irmãos. Em 1898 perdeu o pai, passando a morar com a mãe e uma irmã,
igualmente solteira. Muito viva e expansiva, era extraordinariamente dotada para todas as
formas de arte: pintura, música escultura, canto, trabalhos manuais, dança.

Gostava dos esportes da época: bicicleta e equitação. Não era de uma beleza clássica,
mas tinha muito charme, sendo inteligente, dinâmica e alegre. Conciliava seus sentimentos
religiosos com uma vida social um pouco refinada.

Em 1908 morreu sua mãe e em 1912 faleceu a irmã. Passou a morar sozinha.
Trabalhou num atelier de decorações litúrgicas para as Missões, que ela ajuda com
importantes contribuições. Ensinou regularmente catecismo e participou em outras atividades
paroquiais. Obteve o diploma de enfermeira, que exerceu durante a Primeira Guerra Mundial.

Em 1923 Gabrielle está com quase 50 anos. Eis que o pároco de Fresne, que a
conhecia desde a adolescência e tinha seguido seu crescimento espiritual, lhe pede que
escreva uma peça teatral para os jovens. É um tipo de apostolado meio desconhecido no
Brasil, mas muito difundido na época na França: peças teatrais edificantes, em nível paroquial.
Ela escreve uma peça em que ela própria vai atuar, cantando e dançando com vários jovens
paroquianos, atores improvisados. A representação conquista o público e o pároco organiza
diversas outras representações e empresta a "troupe" o outras paróquias, tendo sempre um
grande sucesso. Começa a missão de Gabrielle de escritora e atriz. De 1923 a 1936 vai compor

16 comédias em três atos e 14 "saynètes" ou balets. Todas têm um sentido moral e reflexões
espirituais, sendo apresentadas em teatros paroquiais e de movimentos religiosos.

Ela sempre atua nos espetáculos. Vai ficando famosa e viaja com seu grupo amador
por toda a França, até 1948, quando pela idade e por seu estado de saúde tem que parar. As
peças teatrais são editadas e os livros tornam-se um grande sucesso de venda, recebendo
vários prêmios. Os constantes deslocamentos a obrigavam muitas vezes a dormir nos
trens ou num banco nas estações ferroviárias, tinha que renunciar ao sono e a refeições
regulares, suportar o calor tórrido e o frio glacial. Tudo visava o apostolado. As despesas
eram todas pagas com seu bolso. E sabia conciliar o intenso trabalho com uma vida de
oração constante. Em 1936, após 13 anos de apostolado em cena, com 62 anos de idade,
Gabrielle aceita um convite para apresentações no Canadá. Até então ela não tinha nenhum
diário, era muito impetuosa e dinâmica para se observar e se descrever. Eis que na viagem
de ida num grande transatlântico, começa a escrever um diário da viagem. É aí que irrompe
com muita naturalidade uma Voz sobrenatural em sua vida. Ela se põe à escuta da Voz e
começa o diálogo, que coloca no papel. "Ele e eu". É o diálogo de Jesus com Gabrielle. Certas
descobertas recentes parecem revelar que estes diálogos com a Voz divina são de fato
anteriores a 1936, mas neste ano é que os diálogos se acentuaram e passaram a ser habituais.
Neste momento é que seus escritos se transformam em mensagens, em autêntica missão:

"Eu não te peço se não isso: "escrever". Não é muito difícil?

Eu estou contigo. Seja Minha fiel. Eu sou teu Fiel".

"Quanta doçura nos primeiros diálogos transcritos por Gabrielle", diz Lúcia
Barocchi, biógrafa de Gabrielle Bossis. "É a época em que quase que o Senhor a "corteja", em
que quer conquistar todo lugar no seu coração para ligá-la a Ele. Ternamente responde às suas
perguntas, participa de seus problemas, entra quase que na ponta dos pés nas situações
humanas mais humildes. É comovedor perceber esta divina sensibilidade no timbre cheio de
benevolência e delicado, que Gabrielle registra". Depois a pressão torna-se cada vez maior,
mais exigente, busca conduzi-la para uma vida sempre mais profunda, ávida de união eterna.
De página em página o Interlocutor invisível dispensa uma delicada lição de Amor que orienta
Gabrielle no caminho das virtudes fundamentais e a encoraja a tentar os esforços decisivos
para seu crescimento interior. O Senhor que a deseja longe do mundo e das
distrações "mundanas", a lança contudo no mundo do apostolado teatral, em que sua atenção
era toda para Ele, para que ela lhe traga almas. Ele a exorta sempre à vida de oração - e
mesmo no turbilhão de sua vida com muitas viagens ela será fiel à via-sacra cada manhã, uma
hora de adoração, a Hora santa nas quintas-feiras, visitas repetidas ao Santíssimo
Sacramento, o Angelus e o Rosário, a missa diária, o que a obriga por vezes a grandes
sacrifícios (estando na Córsega, teve um domingo que caminhar sete quilômetros a pé para
poder ir à missa):

"... Eu oferecia os perfumes intensos desta terra Córsega à Santíssima Virgem, e como
não sentisse a fadiga da subida contínua, Ele me disse: Vês que tudo é fácil no Amor. E eu
sentia Sua Presença à minha esquerda."

A Voz divina exorta igualmente Gabrielle à mortificação do espírito e da

carne, "cilícios" em todos os sentidos.

O diário vai sempre prosseguindo. Ela não fala quase dos acontecimentos de sua
vida, ignorando acontecimentos que se passam em volta, como a Segunda Guerra Mundial,
registra quase que apenas diálogos espirituais. Muita coisa escreve de joelhos durante a Hora
Santa semanal na igreja paroquial. A salvação das almas, a paixão pelos pecadores, a vida
sacramental, a caridade, tudo está lá na lição deste Mestre que ensina o amor e pede o amor.
Ele a todo momento manifesta sua ternura. Há páginas de muita profundidade e simplicidade.
Há algo com Santa Teresa do Menino Jesus - nascida um ano antes dela - e seu caminho da
infância espiritual.

Mas será mesmo Cristo que fala a Gabrielle? Ela mesma tem momentos de dúvida,
considerando sua indignidade. Mas a própria Voz vence suas dúvidas:

"O pensamento de tua indignidade te faz duvidar que seja Eu que te fala? Não teme, se
verá bem que não é por causa de teus méritos que Eu te falo, mas pela necessidade de Minha
misericórdia.

Duvidas que seja Eu? Faz como se fosse verdade... Que é que escreverias se eu não te
ditasse?"

Patrick de Laubier, professor da Universidade de Genebra, membro leigo do Pontifício
Conselho Justiça e Paz (nos últimos anos foi ordenado sacerdote), autor de várias obras, entre
as quais "Jesus, mon Frère", ensaio sobre as conversas espirituais de Gabrielle Bossis, observa
que ela, sem formação teológica particular, teria sido incapaz por si mesma de tratar, como
trata, de pontos de ordem espiritual e teológica particularmente importantes, recebendo
uma notável iluminação. "Como escrever mil e cento e quatro páginas de conversações sobre
tantos assuntos sem cometer nenhum erro teológico, com uma felicidade de expressão e uma
profundidade espiritual tão original, sem o atribuir Àquele que lhe fala? Se notará, aliás, a
dificuldade para Gabrielle Bossis de crer em sua missão e de medir a extraordinária vocação à
qual foi chamada". Laubier vê no diário de Gabrielle Bossis como mensagem particularmente
importante o Amor universal de Cristo e diz que a particularidade mais revolucionária de Ele
e Eu reside na constante tensão "missionária" de Cristo, que quer quase "ultrapassar" o limite
para se unir a nós, para nos converter. Gabrielle não é tanto aquela que recebe, mas a que
retransmite as mensagem ardentes que Cristo lança a cada um de nós.

De fato, as mensagens de Cristo não são dirigidas unicamente a Gabrielle e ele a partir
de 24 de outubro de 1944 começa a pedir a publicação delas em livro. Gabrielle concorda,
desde que seu nome não aparecesse. Um papel importante na publicação da obra terá o
Pe. Alphonse de Parvillez, SJ (1881 -1970), autor espiritual conceituado, colaborador da
revista "Études", conhecido por sua ligação com o grande escritor Daniel-Rops (colaborou
para a sua volta à Igreja e o orientou para a História da Igreja). Ele é amigo de Gabrielle desde
1929 e fica encarregado de encontrar um editor. Os tempos difíceis da guerra impedem
isso. Só em 1948 o Pe. de Parvillez vai encontrar a editora, a conhecida Beauchesne. Nesse
ínterim, o próprio bispo de Nantes, Mons. Villepelet, mostra interesse e mesmo impaciência
pela publicação. Quando ela recebe as provas do livro, o Interlocutor divino abre-se numa
comovedora efusão, "uma das mais belas páginas do diário" para Lúcia Barocchi:"Sim, fica

muito alegre e reza para que cada uma destas linhas tenha sua ressonância de passos nas
almas. Oh, Minha Filha, podes saber o caminho que terá este livrinho? Pede-me para ir aos
mais miseráveis, estes paralíticos espirituais, estes desolados sem esperança, estes mudos
diante de Deus, estes possuídos do desejo de dinheiro. Pede que Eu passe por intermédio
deste livrinho como Eu passava outrora, curando, atraindo a Mim.. (...) Ah! Que venham se
alimentar nele e respirar mais forte!".

A obra sai em julho de 1949 com prefácio do bispo Mons. Villepelet, apresentação
do Pe. Jules Lebreton, SJ, antigo decano da Faculdade de Teologia do Instituto Católico de
Paris e introdução do Pe. de Parvillez, SJ. Nenhum dos três se pronuncia sobre a origem divina
das locuções, mas garantem a perfeita ortodoxia e utilidade dos textos. O Pe. Lebreton nota
que Gabrielle, tendo se perguntado se as palavras que anotava vinham do Senhor ou dela
mesma, Cristo lhe responde: "Mas mesmo que estas palavras saíssem de teu natural humano,
não sou eu que criou este natural? Não deves tu tudo tornar a levar a mim? De mim, a raiz
de teu ser. Minha pobre filhinha". E o Pe. Lebreton acrescenta: "A dúvida era legítima; mas a
resposta foi boa. É preciso acrescentar que Deus, que criou a alma, a santifica e a move por
sua graça. Mais a vida espiritual se desenvolve, mais esta ação é poderosa, mais também ela é
manifesta. O termo ao qual aspira o cristão que quer ser inteiramente fiel à graça, é descrito
em toda verdade por São Paulo: "Não sou eu mais que vivo, é Cristo que vive em mim". O Pe.
de Parvillez explica por sua vez a natureza da obra: "São "palavras interiores", percebidas por
uma alma como vindas de Cristo, e notadas por ela logo. Nada de aparições, nem de audição
externa; tudo se passa além do mundo dos sentidos, numa região mais profunda".

Enfim, o livro alcança bastante sucesso e Gabrielle começa - ainda convalescendo
de uma cirurgia para a retirada de um tumor no seio - a preparar logo um volume II com o
material de seus cadernos. Ela está com 76 anos.

Sente-se fatigada. Em março de 1950 os médicos descobrem que o tumor atingiu
os pulmões. Gabrielle Bossis morre, depois de muitos sofrimentos, mas de forma muito
consciente, num dia significativo: na noite da festa de "Corpus Christi, 9 de junho. É sepultada
com o hábito de terciária franciscana, num túmulo por ela escolhido anos antes e no qual
mandara gravar a seguinte inscrição: "Oh, Cristo, meu irmão \ trabalhar junto de Ti \ sofrer
contigo \morrer contigo \ sobreviver em Ti".

O II volume de "Ele e Eu” sairá em dezembro de 1950, com um belo prefácio de Daniel
Rops (que consta da antologia publicada agora em português pela Quadrante). Os volumes III
a VII foram saindo gradualmente, até 1953, organizados pelo Pe. de Parvillez, a partir dos dez
cadernos deixados por Gabrielle. O vol. VI é precedido de uma biografia de Gabrielle por sua
amiga, a sra. Pierre de Bouchaud.

De 1953 para cá a obra de Gabrielle Bossis tem feito seu caminho, embora sem muito
estrondo. A autora vai se tornando conhecida. O conceituado "Dictionnaire de Spiritualité"
a menciona no verbete "Palavras interiores" ("Paroles intérieures"), de André Derville, que
lembra outras místicas do séc. XX e a compara a Santa Brígida da Suécia, Santa Gertrudes
Magna, Santa Catarina de Sena, Santa Margarida Maria Alocoque, Marina de Escobar,

Maria di Agreda. Em 1999 Patrick de Laubier publica seu ensaio teológico, que

acima mencionamos, "Jesus mon frère", e em 2005 sai na Itália uma biografia mais completa
de Gabrielle, "Luit e Gabrielle Bossis", de Lúcia Barocchi, figura conhecida do laicato
italiano (o cardeal Camillo Ruini escreve o prefácio do livro). Está agora surgindo na França
uma "Associação Gabrielle Bossis", montando um site (www.gabriellebossis.fr) em que se pede
orações pela beatificação de Gabrielle. Que a obra da Quadrante tenha o sucesso que merece
e que um dia possa ser publicado na íntegra em português o livro de Gabrielle Bossis.

Para concluir, percorramos alguns dos textos de "Ele e Eu - Viver com Deus"
(Quadrante):

20 de janeiro de 1939. Soissons. "Difunde a alegria por onde quer que passes". Na
minha solidão, pensava comigo mesma: "Ah, se Ele estivesse comigo neste vagão". Ele: "Tu
não me vês, mas estou aqui. Sempre estou contigo" (p. 14).

13 de janeiro de 1939. "Aumenta, aumenta a intensidade dos teus sentimentos de Fé,
de Esperança e de Caridade! Pensas que, se me pedisses com freqüência que te faça santa, Eu
poderia deixar de atender-te? Exercita-te na esperança e na reparação, pois não há arte que se
possa adquirir sem exercício" (p. 16).

19 de dezembro de 1936. "Há momentos em que duvidas de que seja Eu quem te fala,
tão simples e tuas próprias te parecem as minhas palavras. Mas por acaso não somos tu e Eu
uma e a mesma coisa?" (p. 17).

Argel, 23 de abril de 1937. "Não te canses de Mim. Eu não me canso de ti" (p. 20).

1937. Admirava-me de que Ele me tivesse cumulado de tantos bens durante toda a
minha vida, ao passo que a outras... Enfim disse-me com suma delicadeza: "Perdoas-me por
ter-te amado tanto?" (p. 21).

1938. "Diz-me bom-dia a cada amanhecer, logo que acordares. Como se estivesses
entrando no céu" (p. 26).

21 de maio de 1938. Nantes, de volta a casa. "Que se possa julgar a tua alma pela
ordem da tua casa" (p. 36).

1937. "Quando recebes com um sorriso as pequenas contrariedades da vida diária,
curas as minhas chagas" (p. 41).

12 de maio de 1937. "Eu ando à procura de sofrimentos que se queiram unir aos
meus" (p. 42).

1938. Eu pensava na morte e me perguntava: "Que farei [nessa hora]? Serei capaz, ao
menos, de dizer bom dia ao meu Deus? Ele, com vivacidade: "Serei Eu quem te desejará bom-
dia" (p. 45).

1e de abril de 1938. No metrô: "Fala comigo, fala comigo!" (p. 51).

25 de maio de 1937. Renne, no trem: "Por que haverias de viver na solidão, se Eu
quero que vivas em público? E depois, com muito carinho: "Minha filhinha tão amada leva-

me, leva-me aos outros. Sobrenaturaliza" (p. 52).

1938. "Com os outros, podes falar pensando em outra coisa, mas comigo, não!" (p.
55).1940. Na bela igreja do século XIII. "Evita pensar que Eu exijo que as almas sejam perfeitas
para recebê-las no meu Coração. Dai-vos a mim com todas as vossas misérias e negligências e
com as vossas faltas de cada momento. Reconhecei-as aos meus pés e pedi perdão por elas, e
estai seguros de serdes os filhos queridos do meu Amor" (p. 60).

19 de abril de 1940. "A Eucaristia é o presente do céu; nada tem valor neste mundo
fora dela" (p. 65).

D. José Palmeiro Mendes, OS



Nova postagem do Grupo de Estudos G 23 ( Curitiba Paraná Brazil)Conheça o G23 Presidente

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça seu comentário. Obrigado pela visita.