Desapego e Fé

Desapego e Fé.

O texto que você lerá tem inspiração no excelente livro, do grande teólogo polonês padre Thadeusz Dajcezer, “Meditações sobre a Fé”; um belo presente que recebi da amiga monja.

Quase sempre, nós cristão, na nossa quase totalidade, nos portamos como guias turísticos de Cristo. Queremos andar à Sua frente, mostrando as paisagens, os caminhos seguros, os pontos principais de nossas vidas e, principalmente, o que gostamos e queremos para nós. Não conseguimos - com humildade - seguir a Cristo, andar atrás Dele, deixar que Ele nos mostre a Sua vontade.

O cristianismo de prosperidade que todos querem é uma falácia. Basta ver a crucificação de Cristo. João Batista, seis meses mais velho do que Jesus, perdeu a cabeça; não podemos dizer que Jesus lhe faltou, pois foram contemporâneos um do outro. Paulo foi decapitado, Pedro crucificado e as centenas de milhares de mártires da fé dos três primeiros séculos nos mostram, claramente, a face dura do cristianismo. Ou seja, não será só de prosperidade que viverá o cristão que segue a Cristo.

Então por que isso acontece? Por que não O seguimos? A resposta é: Porque somo apegados.

Muitos autores, tanto do ocidente quanto do oriente, usavam a imagem de um rio para descrever o fluxo da vida. Nós também usaremos essa imagem aqui. Um rio representa o chamamento de todos nós à santidade cristã, à vocação cristã, no entanto, como se fossemos um polvo com dezenas de tentáculos, procuramos nos agarrar às margens do rio da vida a fim de não sermos arrastados pela correnteza da Graça. Apegamo-nos para não correspondermos ao fluxo da graça e à plenitude da vontade divina sobre nós. Agarramo-nos ao que quer que seja por achar que sabemos o que é bom para nós. Aqui nos agarramos à nossa saúde, ali à nossa inteligência, mais adiante à nossa família, pouco depois, aos nossos filhos, agora ao dinheiro, quiçá à profissão ou aos nossos castelos de areia.

Quando a Sagrada Escritura nos diz “não servirás a dois senhores” ela fala do apego. Como servir ao Bem e ao Mal ao mesmo tempo? A Escritura diz, mais adiante, que onde estiver o nosso coração ali estará o nosso tesouro. Ora, tesouro nas Escrituras tem o sentido de riqueza, seja material, seja espiritual. Portanto, o que está dito é que naquilo que nos apegamos nisso colocamos o nosso coração, onde está o nosso coração está o nosso tesouro. Se nos abandonássemos plenamente ao amor de Deus e procurássemos a Sua justiça, como diz as Escrituras, tudo o mais nos seria acrescentado. Ora, esse acréscimo nos devolve as riquezas espirituais e materiais, pois, em ordem a cumprir a vontade de Deus, podemos fazer uso de tudo aquilo que Deus nos der, sem apego. Pois, se nos apegarmos, Deus não poderá nos indicar novos caminhos de missão, porque, então, nos negaremos a seguir o fluxo da Graça. Como tudo é passageiro nessa vida, o apego nos parece um contrassenso, uma âncora para nos proteger, imaginem só, da vontade de Deus, e preservar a nossa.

Mas, eis que a morte nos alcança, seja de cruz, seja de dor, seja de que forma for­,  e o desapego imperará contra todos os nossos desejos. Mas, se assim é, haverão aqueles que ficarão apegados aos seus pecados mortais (que matam a Graça e nos separam do Corpo Místico de Cristo) para a própria perdição. Não te parece que seria mais lógico desapegar-se desde já, procurando o reino de Deus e Sua Justiça? Deus, então, nos dará o que quer que queira: prosperidade ou sofrimento, luz ou trevas, saúde ou doença, de modo que pudéssemos servir ao Seu projeto inescrutável, impenetrável, nos seus mistérios, porém, ao mesmo tempo, revelado, no que interessa aos homens, pelo Filho do Homem.

Porém, para isso é preciso segui-Lo, e, para segui-Lo, é preciso desapegar-nos de nós mesmos, e para desapegar-nos de nós mesmos é preciso pedir a FÉ. A fé é um ato voluntário de confiança - e só se desapega quem confia plenamente. Só entrega a própria alma, a própria vida, a ideia que possui de si mesmo, os próprios bens, quem confia plenamente no Senhor da Vida.

Abandonar-se em Deus, é o mistério do Amor para o acréscimo de tudo. É o fermento que faz crescer a MASSA.

Wallacereq@gmail.com

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