A flor que murcha.

A flor que murcha.

Não se trata de poesia. 
Com quanta naturalidade nós observamos às flores abrirem-se em beleza e fertilidade, esperando pelo vento, pelos insetos, pelos pássaros, sem espanto ou dor doando o pólen sem frescura ou doutrina. Depois fenecem, murcham e caem, com a mesma naturalidade, morrem e apodrecem para que o solo se fertilize.

Doentes nós seriamos, se por um egoísmo descabido, com algum tipo de spray, água com fertilizantes, pequenas estacas e ataduras, exigisse-mos da flor a sua permanência. Alguém haverá de embalsamá-la em cera, ou em álcool, por quê? Por puro egoísmo. Por não saber perceber que a flor esteve aberta ao sol para nos dar o que de melhor tinha em seu curto tempo de vida. Generosa se expôs para a vida e para a morte, doando-se sem consciência do valor de seu amor natural.

Assim envelhecemos, porém agarrados ao que somos, sonhamos com a eternidade do nosso eu egoísta, da imagem que fazemos de nós mesmos, ao mesmo tempo em que desejamos o socorro daqueles outros egoístas que nos trarão as muletas, as agulhas, os bisturis, os eletronicos, as químicas, a ilusão.

Ficar, disse D.Pedro I, para em seguida abdicar. Retrato fiel da passagem de todos nós, nessa dança suave por entre os espinhos da vida em busca do sol, que se nos aquece, queima-nos  e seca, nos decepa... no pequenino astro em que vivemos. Ele também fenece aos poucos sem dor, cumprindo a sua missão. A flor se apaga diante de nossa visão, e nossa visão se apaga diante da escuridão a espera daquela mão divina.

A semente a solução que o proprio Deus nos deu. Nela se esconde outra flor, quiçá flores mais belas que Salomon na sua grandeza e vaidade. Para alguns gloria!

A flor murcha.

A vida se vai.

A vida volta.

Outra flor cai.

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